Há 206 anos, um grupo de revolucionários tramava um plano para instaurar uma República no Brasil. Mas foram descobertos, gerando uma revolução improvisada que tornou Pernambuco um país por 75 dias.

Desde a expulsão dos holandeses , a aristocracia pernambucana passou a viver episódios de atrito com a Coroa Portuguesa. Um patriotismo passou séculos adormecido, até que os tempos começaram a mudar. Houve a Independência dos EUA, em 1776, e a Revolução Francesa, em 1789.

No começo dos anos 1800, Pernambuco era o centro econômico do Norte, mas poderia progredir mais com o fim dos monopólios comerciais, taxas de juros e enorme carga tributária do governo de Dom João IV. Com intensa vida intelectual, Recife e Olinda eram como vulcões prestes a explodir.

Em 1817, revolucionários como o comerciante Domingos Martins viajavam pelo Rio de Janeiro e Salvador para articular uma revolução liberal junto ao Recife – unindo as três maiores cidades do país. Contudo, a conspiração vazou e os envolvidos começaram a ser presos.

Mas quando um militar português deu ordem de prisão ao capitão José de Barros Lima, em 6 de março, o final foi diferente. O brasileiro sacou uma espada e o matou, iniciando a Revolução. Isso ocorreu no antigo Regimento de Artilharia do Recife, que ficava no bairro de Santo Antônio.

Após esse evento, a revolta espalhou-se por todo o Recife e o governador se escondeu no Forte do Brum, seguindo para o Rio de Janeiro. Os revolucionários instalaram um Governo Provisório e conseguiram apoio da Paraíba e do Rio Grande do Norte.

Em 15 de março, o governo provisório instalou uma República e colocou em vigor uma constituição que deu liberdade de imprensa e credo, instituiu os três poderes e aumentou o soldo dos soldados. Apesar disso, a escravidão foi mantida.

Foi nessa época que a atual bandeira de Pernambuco nasceu. O azul simboliza o céu, o branco representa a paz, e o arco-íris a união dos pernambucanos. As estrelas são o conjunto da federação (PE, PB e RN), a cruz é a fé e o sol representa a força e a energia de Pernambuco.

O revolucionário Cruz Cabugá foi enviado aos EUA para angariar apoio externo. Ele conseguiu um cônsul para o Recife e quatro militares franceses para adestrar as novas tropas. Em troca, mais para a frente, eles libertariam Napoleão Bonaparte, que estava preso.

Os problemas, no entanto, começaram a aparecer quando os portugueses conseguiram bloquear o acesso aos portos pernambucanos, o que dificultou a chegada de comida. Em seguida, o governador-geral enviou tropas da Bahia para derrubar a nova República.

Como Pernambuco não estava militarmente preparado, essas tropas logo avançaram. Domingos Teotônio, governador nessa ocasião de crise, tentou negociar e, sem sucesso, se escondeu em Paulista. A tropa revolucionária se dispersou em 20 de maio.

Os meses seguintes foram de prisões em massa e mortes cruéis. Muitos presos foram levados para Salvador. O cadáver do Padre João Ribeiro, líder religioso da revolução, foi esquartejado e sua cabeça colocada em via pública no Recife.

O espírito libertário de Pernambuco, no entanto, não cessou, retornando na Confederação do Equador, em 1824, e na Revolução Praieira, em 1848. 

A espada do capitão José de Barros Lima, que deu início à revolução no Regimento de Artilharia, está guardada na sede do Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico Pernambucano.

Emannuel Bento é jornalista pela UFPE, com passagens pelo Diario de Pernambuco e Jornal do Commercio

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