O verdadeiro futuro do agro não está em desmatar novas áreas verdes para ampliar o plantio – está em fazer mais com menos. Aumentar a produtividade com o mínimo de impacto no meio ambiente. E entre as propostas de soluções, uma tem crescido em atenção e investimentos: fazendas verticais.

Com a vantagem de poder ocupar áreas urbanas (e assim aproximar produtor de consumidor), as fazendas fechadas usam tecnologia para semear diferentes tipos de produtos em um ambiente totalmente climatizado. Segundo a plataforma Pitchbook, as empresas do setor receberam mais de US$ 1,6 bilhão em investimento em 2021, um crescimento de 86% em relação a 2020.

É esperado que, até 2026, as fazendas verticais tripliquem seu mercado, saltando de US$ 3,31 bilhões em 2021, para US$ 9,7 bilhões, de acordo com a MarketsandMarkets. Outro relatório, o Fortune Business Insights, avalia que o mercado global de fazendas verticais deve saltar dos atuais US$ 4,2 bilhões para US$ 21 bilhões em 2029, impulsionado por países como China e Índia. No Brasil, o Radar Agtech 2022 aponta que pelo menos 22 startups atuam no segmento de fábricas de plantas ou plantio urbano, todas concentradas nas regiões Sul e Sudeste. Destas, pelo menos 5 trabalham com fazendas verticais em ambientes fechados. 

Comofas?

Em geral, fazendas verticais podem ocupar prédios, galpões e coberturas (rooftops) de prédios, com a vantagem de serem escaláveis de acordo com a demanda. A maior parte dos projetos envolvem hidroponia (quando as mudas têm contato apenas com água enriquecida com nutrientes) ou aeroponia (com plantas suspensas e com as raízes à mostra, alimentadas por aspersão).  Existe ainda a aquaponia, que combina a criação de alimentos e peixes num ciclo virtuoso. 

A agricultura em si tem mais de 10 mil anos, e muita tecnologia foi envolvida no seu desenvolvimento. As fazendas verticais são uma consequência disso: dispositivos de Internet das Coisas e sensores controlam a iluminação e a umidade, para que as condições do ambiente sejam sempre perfeitas, enquanto softwares comandam sistemas capazes de analisar a condição de cada planta e adaptar o ambiente para que ela tenha mais chances de crescer saudável. Agrotóxicos não entram na fórmula.

A sustentabilidade em projetos de fazendas verticais ainda vêm em outras formas. A agricultura vertical usa muito menos água do que a tradicional – algo em torno de 95% menos. Ao mesmo tempo, por estar mais próxima dos consumidores, reduz as emissões do transporte também em algo em torno de 90% a 95% (sem falar que dispensa o uso de tratores). Os ambientes fechados e controlados das fazendas verticais ainda favorecem certos biomas e ajudam na produção de microrganismos benéficos e ricos em nutrientes que podem ser usados para regenerar o solo da agricultura tradicional.

O gigante e o pé de feijão

A maior fazenda vertical do mundo está localizada (adivinha onde?) em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. A Emirates Crop One (ECO 1), uma parceria da Crop One Holdings com a Emirates Flight Catering, tem 30 mil metros quadrados e tem a capacidade de cultivar quase uma tonelada de verduras anualmente. Passageiros a bordo de voos da Emirates e de outras companhias aéreas recebem alface, rúcula, espinafre e salada verde da fazenda. 

Mas nem tudo é verde no universo das plantações indoor. Este tipo de estrutura tem um ponto fraco que compromete todo seu discurso sustentável: energia. Cada instalação possui dezenas de milhares de luzes LED – extremamente necessárias para e manter as plantações – que além de elevarem os custos de energia, podem trazer uma pegada de carbono se a eletricidade for movida a combustível fóssil. 

Essa dificuldade se tornou um problema urgente para as empresas que operam na Europa, com o aumento do preço da energia como consequência do conflito entre Rússia e Ucrânia. Entre dezembro de 2020 e julho de 2022, os preços da energia ao consumidor na União Europeia subiram quase 58%, e os custos com energia nas fazendas verticais da região, que eram 25% da operação, subiram para 40%

Ainda, o custo total para implementar e manter uma operação agrícola vertical é mais caro – o que eleva também os preços dos produtos. Com a inflação alta, consumidores têm preferido abrir mão dos vegetais cultivados verticalmente pelas suas contrapartes tradicionais e mais econômicas. Por isso, nos últimos meses, o mercado tem crescido mais nos países do Oriente Médio, que já possuem uma dificuldade crônica em relação à agricultura tradicional, a energia é barata e importam cerca de 85% de todos os seus alimentos e 56% de seus vegetais.

Renato Mota é jornalista, e cobre o setor de Tecnologia há mais de 15 anos. Já trabalhou nas redações do Jornal do Commercio, CanalTech, Olhar Digital e The BRIEF

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