Antro da boemia do Recife Antigo, a Rua da Moeda tem séculos de existência e guarda um pouco da história das movimentações financeiras de Pernambuco. Em meados do século 17, a via se chamava Rua Maria Roiz (ou Maria Rodrigues).

Ela tinha esse nome em homenagem à viúva de Antônio Saraiva, rico proprietário que era dono de quadro sobrados dos tempos dos holandeses nessa rua.

Após a expulsão dos flamengos, um dos sobrados foi doado a um espingardeiro, sujeito responsável por cuidar da manutenção das armas do Recife – objetos que corroíam facilmente pelo clima tropical e pela maresia da cidade.

O espingardeiro chegou até ali como recompensa pelos seus serviços prestados ao Rei na guerra contra os holandeses, que acabou em 1645. O espaço havia sido construído pelo capitão Antônio Fernandes de Matos.

As moedas chegam na Maria Roiz

A história da rua mudou por razões econômicas. No final do século 17, autoridades de toda a colônia reclamam da insuficiência de moedas. Isso causava prejuízo no comércio e dificuldade na remuneração de ofícios e postos. 

A escassez de moedas no comércio do Recife fez com que o imóvel do espingardeiro passasse a abrigar,  em 1673, uma Oficina de Recunhagem – prática que consiste em fazer novas gravuras em moedas que já existiam.

Já em 1694, foi criada a primeira Casa da Moeda do Brasil para cunhagem – processo em que o metal é convertido em moeda. Inicialmente estabelecido em Salvador, esse órgão foi transferido para outras localidades para suprir a necessidade de moedas em cada região.

Transferida para o Rio de Janeiro entre 1698 e 1699, a Casa da Moeda se mudou para Pernambuco em 1700, sendo instalada onde ficava a tal Oficina de Recunhagem. As moedas eram cunhadas com a letra “P”. Abaixo, uma moeda de 320 Réis cunhada no Recife em 1700:

A presença da Casa da Moeda foi definidora para que o nome da rua mudasse na boca do povo. Ela ficou ali até 1702, quando voltou ao Rio. Já havia moeda suficiente em Pernambuco e o crescimento da exploração do ouro em Minas Gerais criou a necessidade de deixar a Casa ao Sul.

A Rua da Moeda continuou movimentada. Em uma de suas extremidades, foi inaugurado, em 1720, o atual prédio do Paço Alfândega, que funcionava como convento. O espaço passou a se chamar “Nova Alfândega de Pernambuco” em 1841, após uma reforma.

Uma rua de muitas histórias

No começo do século 19, registros em jornais mostram que a rua tinha vários empreendimentos e oferta de bens para venda. A Rua da Moeda muitas vezes aparecia mencionada junto ao “Forte do Mato”.

Em 1929, o Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico Pernambucano afirmou em texto do Diario de Pernambuco que o espaço teria funcionado no imóvel de número 125. Na época, foi proposto que se construísse uma lápide para que o fato não fosse esquecido.

Nas décadas de 1950 e 1960, no entanto, essa área foi descaracterizada. O lado esquerdo da rua foi modificado, com a demolição de algumas antigas casas coloniais e restauração de outras. Isso tornou difícil a identificação de onde exatamente ficava a casa.

Também é antigo o histórico de boêmia na rua. Já no século 20 ali tinha a pensão da Baiana, os bares Silver Star, Vitória e Texas Bar, este último frequentado por vários intelectuais, políticos e jornalistas. 

Hoje, a boêmia é a principal característica da Moeda. Além de bares com mesas na rua, o trecho também abriga uma estátua do músico Chico Science e espaços culturais como a Arte Plural Galeria.

Principais fontes: “Casa da Moeda”, do MAPA (Memória da Administração Pública Brasileira) da Biblioca Nacional, “A Casa da Moeda de Pernambuco” e “Da Moeda … a mais importante das casas”, do Bentes Art & Publisghings e acervo do Diario de PE.

Emannuel Bento é jornalista pela UFPE, com passagens pelo Diario de Pernambuco e Jornal do Commercio

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