Uma grande intervenção urbana, seja urbanística, estrutural ou de mobilidade, movimenta paixões na sociedade – o que é natural e salutar. Mas também há o receio do novo, as incertezas sobre a eficácia da transformação e o medo de que aquilo que está ruim possa piorar a vida das pessoas com a mudança. É assim aqui, é assim em Paris.

Prefeita de Paris, Anne Hidalgo

Quando lançou o plano para reduzir o uso de carros, alargando calçadas, ampliando áreas verdes e defendendo a bicicleta, a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, foi alvo de indignação dos que usam os veículos. Ela comprou a briga defendendo o futuro. Em 2020, proibiu o tráfego de carros na Rua de Rivoli, uma das mais famosas de Paris e espaço de hotéis e lojas de alto padrão. “‘Você enlouqueceu? Tem uma eleição chegando!”, disseram-lhe assessores, sem conseguir demovê-la.

No Recife, em um passado recente, pode-se citar alguns casos em que intervenções geraram um frenesi na população.

Cientistas reconhecem essa resistência aos projetos urbanísticos e de ocupação territorial e tecem hipóteses sobre a origem do sentimento. A professora da Universidade de Pernambuco (UPE) Ana Regina Marinho Dantas Serafim apresentou análise sobre o tema no XIII Encontro Nacional de Pós-Graduação em Geografia ocorrido em São Paulo, em 2019.

No estudo “Movimentos sociais no urbano: análise do processo de resistência dos projetos de intervenção na Região Metropolitana do Recife, Pernambuco”, Ana Regina considera que os movimentos sociais estão “cada vez mais complexos”, mas que nos últimos anos há lutas e ações organizados para defender e discutir as intervenções urbanas. Resistência, diz ela, existe desde as primeiras intervenções na cidade, mas tem crescido nos últimos tempos.

Para Ana Regina, as obras para a cidade nem sempre são bem-vindas ou aceitas passivamente por uma razão: “Quase não são adotadas as políticas de participação comunitária na defesa dos seus interesses, não são discutidos os seus anseios e necessidades mais prementes, além de serem obras que privilegiam o visual, o cênico e pouco contemplam as condições de infraestrutura”. 

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Silvia Bessa é jornalista. Gosta de revelar histórias que se escondem na simplicidade do cotidiano. Venceu três vezes o Prêmio Esso e tem quatro livros publicados

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