Por Pierre Lucena e Silvio Meira

Número de alunos concluintes e professores nas Instituições Federais

Os dados do Censo de Ensino Superior de 2023 (os últimos publicados) expõem uma realidade que merece muita atenção: naquele ano, 147.811 estudantes concluíram os cursos de graduação nas Universidades e Institutos Federais, enquanto havia 117.224 docentes em atividade. Em outras palavras, cada professor forma, em média, apenas 1,26 aluno por ano. 

É verdade que boa parte desses docentes também atua na pós-graduação. Em compensação, observa-se um esforço crescente para formar cada vez mais mestres e doutores, algo que tem se traduzido em um aumento significativo na produção acadêmica, mas que tem se mostrado com pouca geração de valor econômico e social. No entanto, por regra quase geral, a grande maioria dos professores ainda dedica boa parte da sua carga horária à graduação, onde os números de evasão e baixa taxa de formatura acabam se tornando mais preocupantes. 

Entre 2010 e 2023 houve um aumento de 31% no número de cursos, correspondendo a um aumento de 140% no número de vagas, enquanto o aumento do número de ingressantes, no período, foi de apenas 16%. Há algo fora do lugar nesse contexto. 

Em 2023, foram ofertadas 597.492 vagas na graduação das Universidades Federais, mas apenas 311 mil foram ocupadas. Antes de 2012, a oferta e a demanda andavam próximas; de lá para cá, essa distância aumentou de maneira evidente. Enquanto isso, a maior parte das avaliações de órgãos de controle segue direcionada a processos administrativos, sem dar a devida atenção às métricas de conclusão, que demonstram a eficiência do investimento realizado. Isso sem nem considerar a eficácia do trabalho realizado pelas universidades e institutos federais. 

Para ilustrar, considere um típico departamento com cerca de 40 professores, responsável por um curso que recebe pouco mais de 100 novos alunos por ano. No momento da formatura, geralmente menos da metade desses estudantes conclui o curso — fruto de uma evasão considerável. Esse padrão se reflete nos dados nacionais: entram cerca de 300 mil alunos ao ano, mas apenas entre 130 e 150 mil chegam à colação de grau. 

Outro ponto muito relevante é o custo que recai sobre a sociedade. Em 2023, o orçamento destinado à folha de pessoal (docentes e servidores) nas Universidades Federais totalizou R$ 40,9 bilhões, aos quais se somam aproximadamente R$ 6 bilhões de custeio, chegando a R$ 47 bilhões ao todo. Em geral, as discussões se atêm ao “custo por aluno” com base nas matrículas ativas, mas o valor é muito mais significativo quando dividido apenas entre os formandos — que são, de fato, o resultado entregue à sociedade.  

Se levarmos em conta os mestres formados (por volta de 60 mil por ano) e de doutores formados (por volta de 20 mil por ano), teríamos algo em torno de 227 mil diplomados por ano no total. Isso dá um custo de mais de R$ 200 mil por cada formado no Brasil. Independentemente deste número ser considerado alto por muitos e baixo por outros tantos, ele certamente deveria ser considerado em uma discussão aprofundada sobre a performance do ensino superior público no Brasil. 

Embora a ênfase na formação de mestres e doutores seja um fator positivo para a produção científica e o avanço do conhecimento no país, não se pode subestimar a importância de entregar profissionais qualificados ao mercado de trabalho na graduação. É nesse nível que a maioria dos estudantes tem seu primeiro e, muitas vezes, principal e único contato com o ensino superior. 

O fato é que, por qualquer ótica que se olhe, a eficiência das universidades federais é baixíssima. Temos muitos cursos que sequer estão preenchendo as vagas existentes ao mesmo tempo em que continuamos abrindo outros nas mesmas disciplinas…), o abandono é extremamente alto e o engajamento de quem está no sistema é muito baixo. Para conferir o que estamos falando, basta dar uma volta nos campi no período pós-pandemia. 

E o pior de tudo: não há a menor perspectiva de reação, porque a forma de gestão autônoma e descentralizada das IES traz um componente de impossibilidade de mobilização por parte dos reitores, que se veem completamente reféns de um modelo inadministrável.  

Dessa forma, os números de formatura baixos, a elevada evasão, o distanciamento entre vagas ofertadas e preenchidas, além do alto custo por formando, escancaram a necessidade de uma análise mais profunda e transparente sobre a eficiência do ensino superior público. A conta, no fim das contas, não fecha, e os reflexos desse descompasso repercutem de maneira ampla na sociedade, que investe recursos vultosos e recebe, em contrapartida, um volume de formados aquém do esperado. 

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Pierre Lucena é professor da Universidade Federal de Pernambuco e Presidente do Porto Digital. 
Silvio Meira é Professor Emérito da UFPE e Presidente do Conselho do Porto Digital 

Observação: este artigo estará sendo atualizado pelos autores por contribuições sugeridas por terceiros

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