Evento Lifestyle Business x Venture Capital no Porto Digital reuniu especialistas para discutir opções para startups
Evento Lifestyle Business x Venture Capital no Porto Digital reuniu especialistas para discutir opções para startups (Crédito: PC Pereira/Porto Digital)

Em um ecossistema pulsante como o de Pernambuco, que já figura como o segundo maior em número de startups no país, uma pergunta assombra fundadores e empreendedores: qual é a estratégia de crescimento ideal para o meu negócio?

A busca por essa resposta lotou o evento Lifestyle Business x Venture Capital, realizado pelo Porto Digital, Triaxis e Governo de Pernambuco, por meio da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti-PE), nesta segunda-feira (29), que trouxe para o debate Karol Brasileiro, gerente de empreendedorismo do Porto Digital, Marina Belo, gestora Nordeste do fundo Criatec4, e Vitor Andrade, gerente de investimentos na Triaxis.

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A principal mensagem foi clara: o investimento de venture capital (VC) não é o único caminho para o sucesso e, na verdade, representa a exceção, não a regra. “Vemos o Venture Capital como um nitro, algo que acelera o crescimento, e não como o combustível que mantém uma empresa funcionando. O combustível, tipicamente, são os clientes”, destacou Vitor Andrade, cuja gestora, a Triaxis, administra o FIP Nordeste Capital Semente, focado em negócios em estágio inicial.

Lifestyle business

A grande maioria das startups, mais de 90%, nunca captará dinheiro de um fundo de investimento, segundo os debatedores. Elas nascem e crescem no modelo conhecido como bootstrapping, utilizando capital próprio ou os recursos gerados pela própria operação. Este caminho, muitas vezes chamado de Lifestyle Business, oferece vantagens significativas.

As vantagens do bootstrapping

A principal vantagem é o controle. “Você tem 100% da empresa. Todas as decisões são tomadas por você e seus sócios”, explica Andrade. Nesse modelo, o empreendedor define o ritmo do crescimento, sem a pressão externa por resultados exponenciais em curtos períodos. O foco se volta para a geração de caixa e a sustentabilidade do negócio, garantindo que a empresa se financie para pagar as contas e crescer de forma orgânica. Além disso, a decisão de quando e como vender a empresa pertence inteiramente aos fundadores.

Os desafios do caminho independente

Apesar da liberdade, o bootstrapping impõe desafios. O crescimento é, por natureza, mais lento, pois depende da capacidade do negócio de gerar seus próprios recursos. Isso pode ser uma desvantagem fatal em mercados muito competitivos ou que exigem alto investimento inicial para ganhar tração. O risco financeiro também é pessoal, expondo o patrimônio dos fundadores em caso de insucesso.

Venture capital: acelerador para crescimento exponencial

Do outro lado do espectro está o venture capital, um modelo desenhado para empresas com potencial de crescimento massivo e que atuam em mercados gigantescos. “Nosso objetivo é entrar na empresa para depois sair dela em outro patamar, muito maior do que quando entramos”, afirma Marina Belo, do Criatec4, um fundo que investe em empresas com faturamento de até R$ 20 milhões.

O que um investidor realmente procura?

Para atrair um fundo de VC, uma startup precisa apresentar um conjunto específico de características. Segundo os especialistas, os principais pontos de análise são:

  • Time: a capacidade, o histórico e a dedicação da equipe fundadora são cruciais. “A primeira coisa que olhamos é quem está por trás do negócio. Precisamos confiar que os empreendedores são capazes de levar a empresa para o próximo estágio”, pontua Andrade.
  • Produto e Tração: o produto precisa estar validado, resolvendo um problema real, e a tração — evidenciada por clientes pagantes e receita crescente — comprova a capacidade de execução da equipe.
  • Mercado: o negócio deve estar inserido em um mercado grande o suficiente para justificar um crescimento exponencial. Negócios de nicho, embora possam ser lucrativos, raramente atraem VCs.
  • Saída (Exit): talvez o ponto mais crucial e menos compreendido pelos empreendedores. Um fundo de VC ganha dinheiro quando vende sua participação na empresa. “Em todas as nossas reuniões, a pergunta é: para quem vendemos essa empresa no futuro?”, revela Vitor.

O momento certo: quando buscar o “nitro”?

Ambos os especialistas concordam: o momento ideal para buscar investimento é para acelerar, e não para validar uma ideia. “A gente entra no momento de dar tração, quando a empresa já tem um produto validado e começou a crescer. Nosso objetivo é acelerar esse crescimento”, reforça Marina.

Buscar capital muito cedo, antes de ter um produto e clientes, é um erro comum que pode diluir a participação dos fundadores de forma desnecessária e comprometer rodadas futuras de investimento.

A escolha entre lifestyle business e venture capital não é sobre qual caminho é melhor, mas qual se encaixa na visão dos fundadores e no potencial do negócio. Enquanto o primeiro oferece controle e sustentabilidade, o segundo promete velocidade e escala, mas com contrapartidas claras. A maturidade do empreendedor está em entender profundamente seu próprio negócio para decidir se precisa de um combustível constante ou de um potente jato de nitro.

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