Um dos edifícios mais antigos do Bairro do Recife, o Teatro Apolo — também o teatro mais antigo de Pernambuco em atividade — será equipado com uma sala de cinema até o final de 2026, fortalecendo o circuito de cinemas de rua da cidade.

A execução do projeto é conduzida pela Prefeitura do Recife, com recursos do Governo Federal por meio da Lei Paulo Gustavo, que destinou verbas do Fundo Setorial do Audiovisual para repasse a cidades e estados.

O projeto prevê requalificação arquitetônica e aquisição de materiais e equipamentos para o cine-teatro. Após a reforma, a programação do espaço deverá equilibrar o audiovisual com as demais linguagens já contempladas pelo Apolo.

Teatro Apolo foi inaugurado em 1846 (Crédito: Sol Pulquério PCR)

“Trata-se de uma articulação muito importante, porque os cinemas públicos de rua estão associados à preservação da memória, à dinamização e revitalização da vida urbana e dos territórios, além de cumprir um papel relevante na difusão cultural e na democratização do acesso aos bens e serviços culturais. Esses equipamentos funcionam ainda como vitrine fundamental para a produção nacional de audiovisual, além de cumprirem um papel de formação de público e de cidadania”, diz a Prefeitura do Recife, em nota.

Inaugurado em 19 de dezembro de 1846, o Apolo passou por diversas reformas. Em 1996, em meio a um processo de revitalização do Bairro do Recife — que também incluiu a Rua do Bom Jesus — o edifício recebeu uma sala de cinema, passando a funcionar como cine-teatro.

Desde 2016, no entanto, por questões técnicas, as sessões de cinema estão interrompidas.

Em 2020, o Porto Digital também passou a abrigar uma sala de cinema administrada pelo Cinema da Fundação, da Fundação Joaquim Nabuco, no 16º andar do Edifício Vasco Rodrigues.

História do Apolo

Registro do Teatro Apolo em 1920 por Augusto Malta (Crédito: Acervo Brasiliana Fotográfica)

O Teatro Apolo tem tanta relevância para o bairro e para a cidade que acabou batizando o atual nome da Rua do Apolo (antiga Rua Visconde de Itaparica) e do Cais do Apolo, onde fica o Edifício Vasco Rodrigues, sede do Núcleo de Gestão e de empresas embarcadas do Porto Digital.

A construção partiu de figuras influentes do Recife do século 19, entre elas Antonino José de Miranda Falcão — fundador do Diario de Pernambuco, criado 21 anos antes.

O edifício era pequeno, mas luxuoso em suas instalações, com arquitetura imponente e fachada em mármore de Lisboa, adornada por um desenho simbólico no topo.

O prédio foi construído por Joaquim Lopes de Barros Cabral, pintor e arquiteto da Academia de Belas Artes do Rio de Janeiro, seguindo padrões portugueses de teatro, com piso de lajotas, cerâmicas e azulejos coloniais.

A inauguração do Apolo marcou um período de transformações comportamentais no Recife, quando os teatros passaram a ser espaços centrais da sociabilidade das classes mais abastadas.

“O Teatro era uma libertação para quem vivia tão conceitualmente nos casarões de outrora. Entontecia aos olhos com a multidão que enchia a plateia; abalava os corações com os dramas em cena; esboçava idílios e casamentos, quando não em paixões de outra ordem, nem sempre limpas de pecados”, registrou Mário Sette no livro “Arruar – História Pitoresca do Recife Antigo”.

Primeira restauração

Notícia no Diario de Pernambuco em 29 de setembro de 1977

Em 1864, em meio a uma crise, o Apolo foi a leilão com todos os seus pertences e atravessou o século desempenhando diversas funções, inclusive como depósito.

De forma impressionante, o teatro permaneceu de pé, ao contrário de grande parte dos imóveis do Bairro do Recife, demolidos durante reformas urbanas do Planos de Melhoramentos e Reforma do Porto e do Bairro do Recife (1909-1926). Isso permitiu seu resgate a partir dos anos 1980, quando foi desapropriado pela Prefeitura e reinaugurado em 1982.

Hoje, junto ao Teatro Hermilo Borba Filho, instalado no mesmo endereço, integra o Centro de Formação e Pesquisa das Artes Cênicas Apolo-Hermilo, dedicado ao desenvolvimento de projetos de formação e incentivo às artes cênicas. Sua programação oferece preços populares.

Também na Rua do Apolo, o Porto Digital mantém o Portomídia (nº 181), seu braço de Economia Criativa, atuando nas áreas de games, cinevídeo-animação, multimídia, design, fotografia e música.

Mais cinemas no Centro

Cine Art-Palácio, no Recife, terá sala de cinema ao integrar campus do IFPE

Os edifícios Trianon e Art Palácio, localizados na Avenida Guararapes, também entram no horizonte de requalificação cultural da região central. O Trianon, onde funcionou um cinema de mesmo nome, será reformado pelo Governo Federal para abrigar uma unidade do IFPE.

Dentro dessa iniciativa, o Art Palácio — situado ao lado — será restaurado para voltar a receber uma sala de cinema.

No mesmo conjunto de ações, o Distrito Guararapes, desenvolvido com o apoio técnico do BNDES, prevê ainda a criação de uma Cinemateca em um edifício cujo endereço não foi divulgado.

Já no Cinema São Luiz, está em planejamento a implantação de um Centro de Referência do Audiovisual de Pernambuco no segundo andar do prédio, utilizando o acervo do Museu da Imagem e do Som de Pernambuco (MISPE).

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