A possibilidade de ter um automóvel elétrico na sua garagem está cada vez mais próxima em 2023. De acordo com especialistas do mercado, os preços dos veículos elétricos devem diminuir, podendo se equiparar aos preços dos carros movidos a gasolina em breve, pelo menos no mercado global.

Diversos fatores estão contribuindo para essa redução de preços, como a crescente concorrência entre as montadoras, incentivos governamentais em países que estabeleceram metas de redução de emissões poluentes, além da queda dos preços do lítio, um dos principais materiais das baterias dos automóveis elétricos.

Nesse cenário, alguns modelos elétricos já estão chegando no ponto em que seus preços são equivalentes ou até mais baratos do que os carros com motores de combustão interna, especialmente no caso dos veículos de luxo. 

Os preços podem continuar caindo à medida que montadoras como a Tesla, General Motors, Ford Motor e seus fornecedores de componentes inauguram novas fábricas. Recentemente, em seu Investors Day, a Tesla anunciou a construção de uma nova Gigafactory na cidade de Monterrey, no México – a pouco mais de 600 quilômetros do Texas, lar de outra fábrica da marca, que fica em Austin. A nova planta fabricará um novo modelo de última geração, e se somam às unidades de Nevada, Nova York, Xangai e Berlim. Outras montadoras, como Volkswagen, Nissan e Hyundai também entrarão na briga, aumentando a pressão competitiva. 


(Tesla/Divulgação)

Novas fábricas também atenderão à demanda represada do mercado. Não faz muito tempo, para comprar um veículo elétrico era preciso entrar numa longa lista de espera. A procura incentivava revendedoras a aumentar os preços finais em alguns milhares de dólares – com os usados às vezes vendidos mais caros do que os novos porque compradores estavam dispostos a pagar mais para ter seu carro na hora. 

Esse mercado de revenda sofreu um impacto já em janeiro, quando a Tesla reduziu os preços do Modelo 3 e do Modelo Y (seus mais vendidos) com descontos entre 10% e 30%. O corte valeu para seus maiores mercados: China, Europa, Estados Unidos, África e Oriente Médio. Por exemplo, no Reino Unido, o preço do Modelo 3 mais básico foi reduzido em cerca de USD 6,7 mil e o Modelo Y em mais de USD 8,5 mil. Embora alguns clientes tenham reclamado, a Tesla prometeu estender os descontos para quem já havia encomendado um carro.

E essa redução não foi algo novo, somente mais brusco. A Tesla tem diminuído gradualmente o valor dos seus carros no mercado ao longo dos anos – que modo que cobrem, inclusive, os aumentos maciços de preços nos últimos dois anos causados pela crise financeira. Desde 2017, o valor médio de um carro da marca caiu pela metade, ao mesmo tempo em que a empresa melhorou sua margem operacional de 15% negativos para agora mais de 15% no azul. 

Na Europa, diversas leis governamentais incentivam a substituição de carros a combustão por veículos elétricos, e os modelos mais recentes já estão disponíveis a um preço igual ou mais baixo em termos de custo total de propriedade, mesmo levando em conta o aumento dos preços do combustível e da eletricidade.

Em seu relatório anual, a empresa holandesa de leasing automotivo Leaseplan avaliou várias categorias de carros em 22 países europeus, com base nos custos médios durante os primeiros quatro anos de leasing. De acordo com a análise, os custos de operação de um carro elétrico padrão para famílias eram iguais ou menores do que os modelos a combustão em 19 dos 22 países europeus. Somente na Itália, República Tcheca e Polônia os veículos elétricos a bateria eram mais caros.


(Stellantis/Divulgação)

No ano passado, houve um aumento recorde nas vendas de veículos elétricos em todo o mundo, com 7,8 milhões de unidades vendidas, o que representa um aumento de 68% em relação a 2020. Os carros elétricos agora representam 10% do mercado global de veículos, uma participação que aumentou quatro vezes em apenas dois anos. A maior parte das vendas ocorreu na China e na Europa.

No entanto, a situação no Brasil é um pouco mais complexa. Embora haja um aumento na participação de veículos eletrificados no mercado geral, de 2% para 3,4%, segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), com a venda de 130.460 híbridos e elétricos, o país ainda tem um caminho a percorrer. Em janeiro, foram vendidas 4.503 unidades, um aumento de 241% em comparação com o mesmo período do ano anterior, mas uma queda de 19% em relação a dezembro de 2021.

Carros 100% elétricos aqui são só 0,04% desse total, todos importados – e isentos de impostos. E é aí que o bicho pega. Atualmente há setores que defendem a manutenção da isenção, e setores que querem a volta do imposto. A já citada ABVE está no primeiro grupo: “ainda é muito cedo para acabar com a isenção de impostos para elétricos carros importados no Brasil”, afirmou em entrevista ao Valor o presidente da entidade, Adalberto Maluf, que vê na falta de impostos um estímulo para que marcas chinesas estrangeiras ampliem seus planos de produção no país. 

Do outro lado está a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), que acredita que a isenção pode ter efeito contrário e levar investimentos do setor para outros países. Não se sabe como seria essa taxação, mas a Anfavea defende um imposto gradual determinado pelo valor do veículo. Ao passar desse limite, haveria a cobrança do imposto de importação, que anteriormente era de 35%.

Custos de produção também podem ser um entrave. Os preços do lítio usado em baterias eram mais de sete vezes mais altos em meados de 2022 do que no início de 2021 – e podem aumentar em 15% se esses preços permanecerem altos.

Renato Mota é jornalista, e cobre o setor de Tecnologia há mais de 15 anos. Já trabalhou nas redações do Jornal do Commercio, CanalTech, Olhar Digital e The BRIEF

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