Um dos prédios que circundam o Marco Zero do Recife, localizado entre a Caixa Cultural e antiga sede da In Loco, abriga uma instituição quase bicentenária. Foi palco de importantes negociações econômicas, recebeu visitas ilustres e ainda guarda um rico acervo histórico e artístico.
A Associação Comercial foi fundada em 1839 com o intuito de promover cooperação entre os segmentos produtivos de Pernambuco. Abaixo, temos o registro da reunião da fundação no Diario de PE, em 22/06/1839. O primeiro presidente está no topo da lista: José Ramos de Oliveira.
José Ramos de Oliveira foi um famoso comendador do Estado. A nota que informa sobre a sua morte, em 1846, o descreveu como um dos “um dos mais ricos capitalistas de Pernambuco”.
Por quase 30 anos, no entanto, a Associação não tinha uma sede física. Isso mudou durante a presidência de Henry Forster Hitch, um americano. Ele foi responsável por introduzir querosene no país e também pela primeira linha de navios a vapor entre Brasil e EUA.
A primeira sede da Associação foi inaugurada em 1865 no Bairro do Recife, mas não no local atual. Ficava mais à frente e à direita, onde hoje existe o armazém do restaurante Seu Boteco. Nessa época, o espaço era conhecido como Associação Commercial Beneficente de Pernambuco.
Essa sede recebeu a visita de Dom Pedro II em 1859. O imperador foi convidado pela Associação para um jantar beneficente que arrecadou fundos para a finalização do antigo Hospital Dom Pedro II – atual prédio do IMIP.
Dom Pedro II voltou a visitar o prédio em março de 1872, durante uma visita não oficial que foi registrada pelo Diario de PE. Nesse dia o imperador deixou a sua assinatura num caderno de visitas ilustres. A Associação guarda esse caderno e a caneta usada até hoje. Esse mesmo caderno também tem assinaturas de Joaquim Nabuco e Santos Dumont.
A construção do atual prédio começou em 1913, na presidência do Barão de Casa Forte, dono das terras que hoje formam o bairro da Zona Norte do Recife. O engenheiro da obra foi Manoel Antônio de Moraes Rego, também responsável pela construção do Porto do Recife.
A conclusão da obra atrasou porque o navio que levava as primeiras pedras de mármore norueguês da construção afundou num acidente.
A inauguração do belíssimo prédio de arquitetura clássico-eclética ocorreu em 1915, dentro de um contexto de modernização urbana do Recife.
Naquela época, o Bairro do Recife passava por uma grande reforma em molde europeu. O prédio da Associação se tornou um dos responsáveis pela verticalização da paisagem. Olhar os quatro prédios em torno da Praça Rio Branco era como contemplar a Avenida Boa Viagem hoje.
Hoje, o prédio do Recife Antigo funciona como sede histórica da Associação, sendo também chamado de “Palácio do Comércio”. Logo na entrada, é possível ver uma escadaria de ferro e carvalho ingleses e vitrais que contam a história dos ciclos econômicos de Pernambuco. +
Ainda é possível ver lustres de cristal inglês, colunas de ferro maciço, um teto em latão prensado da França e a estátua de Hermes, que é o Deus do Comércio e espécie de mascote da Associação.
No Salão Nobre existe uma tela de Dom Pedro II, que visitou a instituição em duas ocasiões. A obra de 1870 foi pintada por Ernest Papf, pintor favorito da família imperial. Ainda há uma tela em tamanho real do Barão do Amazonas, feita em 1871 em homenagem à Batalha do Riachuelo.
A sede histórica da Associação é tombada pelo Iphan. No 2º andar existe um acervo com livros, pinacoteca e coleção de jornais que datam da época da fundação do prédio. As visitações podem ser feitas de segunda a sexta, das 8h às 17h, e sábados, mediante agendamento.
Fontes: “Com 181 anos, Associação Comercial de PE abre as suas portas para visitação”, do Diario de Pernambuco, Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional e site da ACP.
Sugestão de leitura: Livro comemorativo do seu primeiro centenário, de Estevão Pinto.
Emannuel Bento é jornalista pela UFPE, com passagens pelo Diario de Pernambuco e Jornal do Commercio
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