A Estação Ferroviária do Brum, localizada no Bairro do Recife, na Avenida Militar, tornou-se o primeiro bem ferroviário de Pernambuco a ser tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), comprovando a diversidade histórica, econômica e cultural da ilha onde a cidade nasceu.

Estação do Brum, na Av Alfredo Lisboa, na atualidade

Inaugurada em 1881, a Estação do Brum levou esse nome por sua proximidade com o forte de mesmo nome. Foi ponta de linha da segunda estrada de ferro de Pernambuco, a Estrada de Ferro do Recife ao Limoeiro.

Em tempo, o Jornal Digital também já abordou a primeira linha férrea do Nordeste e a segunda do Brasil, a Recife and São Francisco Railway Company.

A Estrada de Ferro Recife ao Limoeiro e o papel da Great Western

A intenção do Governo da Província de Pernambuco de ligar a capital à vila de Limoeiro surgiu na segunda metade do século 19, tendo em vista a importância econômica que esta segunda adquiriu por feiras de gado, algodão, cereais e plantações.

Estação do Brum por trás do Forte do Brum, em 1888 (Crédito: Hermann Kummler)

Além disso, a região norte da Zona da Mata, que seria contemplada pela ferrovia, era a localização de muitos engenhos, junto com parte da região Agreste que captava fluxos da Paraíba.

De início, a concessão para a estrada de ferro foi dada ao Barão de Soledade, em 1870. Contudo, em 1875, a concessão foi transferida para a empresa inglesa The Great Western of Brazil Railway Company Limited, que mais tarde se tornaria a arrendatária da maior parte das ferrovias do Nordeste brasileiro.

Esquema da estação do Brum, em 1932, à esquerda do forte do mesmo nome.

O primeiro trecho foi inaugurado em 1881, partindo da Estação do Brum para a vila de Paudalho, na Zona da Mata. Em 1882, é concluído o trajeto de Paudalho a Nazaré da Mata e o Ramal Carpina/Limoeiro.

A necessidade de trilhos que saíssem da ilha do Bairro do Recife para o continente fez a Great Western erguer uma ponte de metal, sem passagem para pedestres, que é a atual Ponte do Limoeiro (que leva esse nome justamente por conta do destino da linha).

Até o ano de 1901, a ferrovia teria expansões para Timbaúba, Aliança e Pureza, chegando até Pilar, na Paraíba, consolidando uma conexão entre Estados da República.

Trecho da Linha Férrea Recife a Limoeiro na Avenida Norte, no Recife, na década de 1950 (Crédito: Desconhecido)

Mais tarde, as estradas de ferro administradas e operadas pela Great Western passaram a integrar também os estados do Rio Grande do Norte e Alagoas. Essa expansão permitiu a conexão entre o interior e o litoral, facilitando o transporte de mercadorias até a região portuária do Recife.

Além disso, aproximou as cidades, estimulou a circulação de pessoas, bens e ideias entre as diferentes regiões, impulsionando a economia das principais cidades contempladas.

A Estação do Brum

Estação do Brum, em 2004. (Crédito: Manual de Preservação de Estações Ferroviárias Antigas, 2005)

Além do papel histórico desempenhado no desenvolvimento econômico e social do Nordeste, a Estação do Brum foi erguida com uma arquitetura destacada. De acordo com o Iphan, a construção tem um elaborado desenho neoclássico, se diferenciando pelo uso de ferro e pelos detalhes construtivos, evidenciando clareza, qualidade e simplicidade formal e espacial.

“O projeto não só atendeu às demandas funcionais, mas também incorporou técnicas avançadas da época, como o emprego de vidro e ferro, além de materiais importados. Essas características conferem à estação um valor singular na história das ferrovias do Nordeste e do Brasil, refletindo a riqueza cultural e arquitetônica do período entre o século 19 e o início do 20”, diz o parecer da instituição.

“Esse tipo de arquitetura teve um papel fundamental na incorporação de novos temas decorrentes da Revolução Industrial, como a produção em série e a pré-fabricação, que até hoje são centrais no debate desta área”, afirmou o conselheiro relator do processo de tombamento, Nivaldo Andrade.

Detalhe da caixa d’água do antigo pátio ferroviário do Brum (Crédito: Nivaldo Andrade Iphan)

O tombamento definitivo da estação pelo Iphan ainda contemplou uma caixa d’água que faz parte do pátio ferroviário do Brum. Ela foi fabricada pela Ransomes & Rapier, de Londres, representando a expressão artística e estética característica da arquitetura ferroviária. Seus elementos são registros da aplicação de técnicas avançadas, com o uso de ferro importado e mão de obra especializada.

Resistência e Memorial da Justiça

Fachada principal da estação (Crédito: Maria Emília Freire Iphan)

Por volta de 1932, os trens de passageiros já não partiam mais do Brum, mas sim da Estação das Cinco Pontas, próximo do forte de mesmo nome.

De acordo com o projeto Estações Ferroviárias do Brasil, embora não constem mais trens de passageiros saindo do Brum desde 1933, as estações do trecho ainda estão citadas no Guia Geral de 1960, “o que leva a crer que até essa época a linha e as estações ainda existiam – mas apenas para cargas”.

O Sistema Ferroviário Brasileiro, publicado pela Rede Ferroviária Federal S.A, em 1978, ainda considerava a estação de Brum (que também se chamou de Fora de Portas) como o “marco zero” de sua Linha Sul.

Fachada da Estação do Brum em 2008. (Crédito: Sydney Correa, do projeto Estações Ferroviárias do Brasil)

Ao longo do século 20, com a priorização das rodovias, o transporte ferroviário perdeu espaço e a estação foi desativada. Acredita-se que o abandono definitivo ocorreu entre 1960 e 1966. Contudo, o prédio resistiu.

Segundo Carlos Bezerra Cavalcanti, a estação continuou existindo porque estava dentro dos limites territoriais da antiga Fábrica de Biscoitos Pilar.

A partir de 1997, o prédio recebeu importantes reformas, tornando-se o Memorial da Justiça, que é vinculado à Comissão de Gestão e Preservação da Memória do Tribunal de Justiça de Pernambuco, desenvolvendo trabalhos nas áreas de museu e arquivo.

O espaço é aberto para atendimento ao público de segunda a sexta-feira, das 13h às 17h, tanto para visitação quanto para pesquisa. Horários especiais para grupos devem ser agendados pelo e-mail memorial.atendimento@tjpe.jus.br.

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