Depois de anos de preparativos, ele está entre nós. Desde julho, o sinal da quinta geração de internet móvel, o 5G, está operando oficialmente no Brasil. Por enquanto, a cobertura está restrita às capitais e algumas cidades maiores, com 6.873 antenas que cobrem ainda menos de 1% do país. De acordo com o Plano Estratégico da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o 5G deve estar acessível em todas as localidades até o final de 2029.

O Recife deve estar 100% coberto até o fim de 2022 pela TIM, que recentemente anunciou a instalação de 160 antenas que atenderão os 94 bairros do município. Assim, já é possível experimentar algumas das promessas do 5G, como conexão de altíssima velocidade: enquanto um 4G excelente pode chegar a velocidades de 100 Mbps, o 5G em testes atinge entre 1 e 10 Gbps – uma diferença de 100 vezes.

Mas se, na prática, sua expectativa é só rodar vídeos no YouTube com mais qualidade ou baixar arquivos mais rápido, você está sonhando baixo.

Num piscar de olhos

Claro que o usuário final terá um benefício direto (e mais palpável) das vantagens da quinta geração de internet móvel, mas seu impacto será maior em outras aplicações – que também ajudarão no nosso dia a dia, mas de outras formas. Isso porque o 5G não é direcionado apenas para o usuário comum, mas seus benefícios são mais voltados para a transformação digital de toda cadeia produtiva, desde o agronegócio até a indústria 4.0, passando por segurança, automação, logística, cidades inteligentes e todos os setores da sociedade.

Com menor tempo de resposta entre dispositivos e conexões mais estáveis, o 5G “puro”, o chamado Standalone (SA), permitirá por exemplo a utilização com maior eficiência de veículos autônomos, telemedicina e o uso de ambientes de realidade virtual. Quem costuma fazer chamadas de vídeo ou jogar online está bem familiarizado com a chamada “latência” – aquele tempinho entre você dar um comando e ele acontecer no ambiente virtual, ou você falar com seu parente e ele escutar do outro lado.

No 4G, uma boa latência fica entre 50 e 80 milissegundos. No 5G, essa demora é dez vezes menor, e pode ficar entre 1 e 4 milissegundos. E se você viu algum jogo da Copa do Mundo do Qatar em algum streaming, enquanto seu vizinho via na TV a cabo, sabe que essa diferença de tempo pode estragar toda expectativa de um lance de perigo.

Tudo junto e conectado

Mas se a sua preocupação ainda é se foi gol ou não, reforçamos: está sonhando baixo. Essa hiper conectividade entre aparelhos ligados ao mesmo tempo em rede é a própria alma da Internet das Coisas (IoT). Imagine, por exemplo, uma linha de montagem totalmente automatizada, com robôs e sensores conversando entre si e corrigindo em tempo real qualquer problema que possa surgir.

Nem precisa ir muito longe, já que isso acontece aqui mesmo, em Pernambuco. Uma parceria entre a TIM e a Accenture está rodando um projeto-piloto 5G para a indústria automobilística no Polo Automotivo da Jeep em Goiana, na Zona da Mata Norte. O projeto usa inteligência artificial e cloud computing em uma rede privada para assegurar a conformidade da identificação dos veículos conforme a sua versão e acessórios, além da qualidade nos processos de montagem. O projeto verifica – com recursos de automação de imagem e análise de vídeo – a fabricação de quatro modelos de carros diferentes, cada um com suas especificações de itens, componentes e acessórios que combinadas possuem mais de 100 versões.

Daí podemos extrapolar para alguns cenários de ficção científica, como as entregas via drone que a Amazon já está testando nos Estados Unidos. Ou então um médico especialista do Japão realizando uma operação na Europa como se estivesse dentro da mesma sala de cirurgia do paciente, usando braços robôs e realidade mista, sem nenhum atraso na comunicação. Ou ainda, a Avenida Caxangá inteira cheia de carros e ônibus, todos autônomos, trocando informações de proximidade e velocidade, com zero acidentes.

Nada será como antes 

A própria forma como alguns dos nossos equipamentos mais usados são feitos e pensados deve mudar. Os smartphones, por exemplo, dependem muito do processamento interno para realizar algumas das suas tarefas. Não à toa, a cada dois ou três anos você sente a necessidade de trocar de aparelho porque o atual “está muito lento”. No 5G, é possível que muito desse processamento saia do celular e passe a rodar na nuvem, com aplicações em cloud cada vez mais comuns. Smartphones poderão, então, ficar mais leves – e mais baratos.

Então vai tudo virar 5G? Não necessariamente. Especialistas acreditam que você ainda vai precisar da sua conexão de internet banda larga em casa para trabalhar com curtir um streaming na TV. Nesse caso, a rede móvel poderá atuar como um complemento para objetos inteligentes como lâmpadas, aspiradores de pó, geladeiras e outros eletrônicos smart, todos funcionando juntos e integrados.

Um estudo feito pela Ericsson aponta que o retorno econômico da implementação do 5G no Brasil será três vezes maior do que o custo para instalar a conexão. Os US$ 6,4 bilhões iniciais para trazer o 5G poderá se transformar em US$ 18,5 bilhões até 2035 (com um aumento direto esperado no PIB entre 0,3% e 0,46% no mesmo período).

Com a ampliação da cobertura 4G já tivemos transformações na sociedade, como por exemplo toda economia baseada em aplicativos, como o Uber e o iFood. O 5G, mais rápido e com maior alcance, quem sabe quais novos negócios podem surgir?