Imagine estar prestes a atravessar uma ponte, quando uma forte sirene anuncia que não é boa hora: ela irá literalmente “girar” para a passagem de embarcações. Esse era o cotidiano em torno da antiga Ponte Giratória, no Recife Antigo.

Entre os anos 1910 e 1920, o Bairro do Recife passou por uma grande reforma, assim como o Porto do Recife. O objetivo era modernizar a capital pernambucana nos moldes de cidades europeias, como Paris, e aumentar a capacidade econômica do Porto.

Crédito: Manoela Tondela (1905)

As obras ficaram a cargo da empresa “Societé de Construction du Port de Pernambuco”, que estabeleceu que deveria existir uma ponte rodo-ferroviária com um vão central giratória, para favorecer o transporte ferroviário para o Porto sem impedir a passagem de embarcações veleiras.

A Ponte Giratória foi inaugurada em 5 de dezembro de 1923, ligando o Bairro do Recife ao de São José. A sua linha férrea se tornou o principal meio de transporte de cargas para o porto quando estava “fechada”, sendo usada também por automóveis e pedestres.

Ao “se abrir”, a Ponte Giratória deixava duas passagens para barcos. Foi instalada uma sirene que soava alto sempre que a ponte ia girar. As suas entradas eram fechadas com correntes e avisos de alertas.

Apesar da sirene e dos avisos em jornais, os acidentes eram inevitáveis, pois sempre havia quem desrespeitasse. Já na década de 1920 é possível encontrar registros sobre acidentes, a exemplo desse abaixo.

No final dos anos 1940, a Ponte Giratória chegou a ser apelidada de “Trampolim da Morte”, conforme mostra reportagem de 1947. “A ponte giratória não pode ser transformada num trampolim da morte, com os veículos utilizando-a com a mesma velocidade com que o fizeram no Circuito de Boa Viagem”, diz registro do Diario de Pernambuco.

Contudo, não foi o perigo que a fez entrar em desuso. A ampliação das rodovias foi  tornando a ponte cada vez menos útil, visto que o número de embarcações foi diminuindo com o tempo.

Para além disso, a Ponte Giratória foi construída em ferro. A subutilização e a falta de manutenção foi a deixando toda enferrujada. Ela parou de girar pelo enferrujamento das engrenagens, chegando ao ponto de todo o tráfego nela ser suspenso – primeiro ônibus e caminhões, depois qualquer tipo de veículo.

Em 1971, ela ficou tão abandonada que ladrões levaram suas vigas e venderam em depósitos de ferro-velho. “Como as autoridades não tomavam providências, a velha ponte está enferrujada e com vigas soltas”, registrou o jornal.

Assim, teve que ser desmontada e em seu lugar foi construída uma outra ponte, ampla e de cimento armado, que foi inaugurada em 1971 com o nome de Ponte 12 de Setembro – data que lembra a inauguração das reformas do porto, em 1918.

Essa ponte até hoje liga a Av. Alfredo Lisboa/Cais da Alfândega à Av. Sul/Cais de Santa Rita. Mesmo com o novo nome, a maioria dos recifenses referia-se a ela como Ponte Giratória.  Em 2003, a Prefeitura determinou que sua denominação passaria a ser Antiga Ponte Giratória.

Quase todo recifense, ao saber da história, olha para a ponte e a imagina “girando”. Como registrou o Diario de Pernambuco nas vésperas da substituição: “Em breve, onde se ergue haverá somente o vácuo. E passará a viver exclusivamente na memória dos saudosistas”.

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