No começo da sétima arte no Brasil, o Recife teve um dos mais movimentados circuitos de produção. A primeira exibição de cinema na capital ocorreu com um animatógrafo na Rua da Imperatriz, em 1902. Já a primeira sala de cinema seria inaugurada em 1909: o Cinema Pathé, na atual Rua Nova.

O que marca uma virada de página, ainda na década de 1920, é a fundação da empresa Pernambuco-Films, criada pelos italianos Ugo Falangola e J. Cambieri. Essa produtora trabalhou em documentários feitos a pedido do governo do prefeito Sérgio Loreto, registrando o processo de modernização do Recife.

A Pernambuco-Films lançou os documentários “Centenário da Confederação do Equador” (1924) e “Veneza Americana” (1925). Esse segundo mostrava as reformas no Recife Antigo, a movimentação do Porto e a nova Avenida Beira-Mar, futura Av. Boa Viagem.

Criava-se um contexto propício ao cinema. Em 1923, é criada a Aurora Film, empreendimento do ouvires Edson Chagas com o gravador Gentil Roiz, com apoio do estudante de engenharia Ary Severo. Era o começo do que ficou conhecido como “Ciclo do Recife”.

O primeiro lançamento da Aurora Film foi o longa mudo Retribuição (1925), com direção de Gentil Roiz. Ele contava a história de uma moça que recebe do pai doente um mapa do tesouro. Auxiliada pelo galã, ela enfrenta bandidos, também dispostos a colocar a mão na fortuna.

Filme Retribuição

“Retribuição” fez um sucesso nos cinemas da cidade e na imprensa, pois existia um entusiasmo com a possibilidade de ver um filme gravado em sua própria cidade. Abaixo, nota do Diario de PE sobre a estreia no Cine Royal.

O sucesso estimulou o lançamento de “Jurando Vingar”, de Ary Severo, que acompanhava um plantador de cana que se apaixonava por Berta, moça que trabalha em um bar.

O primeiro lançamento da Aurora Film foi o longa mudo Retribuição (1925), com direção de Gentil Roiz. Ele contava a história de uma moça que recebe do pai doente um mapa do tesouro. Auxiliada pelo galã, ela enfrenta bandidos, também dispostos a colocar a mão na fortuna.

Filme Aitaré da Praia

“Retribuição” fez um sucesso nos cinemas da cidade e na imprensa, pois existia um entusiasmo com a possibilidade de ver um filme gravado em sua própria cidade.

O sucesso estimulou o lançamento de “Jurando Vingar”, de Ary Severo, que acompanhava um plantador de cana que se apaixonava por Berta, moça que trabalha em um bar.

Mas a grande produção ainda estava por vir: Atairé da Praia (1925), de Roiz, filme mais caro até então. Tinha temática regional, locações pitorescas e um ambiente urbano moderno.

O longa acompanha um jangadeiro que salva um rico coronel e sua filha num acidente de jangada. A filha do coronel e o jangadeiro se apaixonam.

Cada vez mais ambicioso, o Ciclo do Recife lança “A Filha do Advogado” (1926), de Jota Soares, que fazia um mergulho no dia a dia da burguesia e evitava a influência americana que marcava os primeiros filmes. Ele chegou a ser exibido no Rio de Janeiro.

Com o sucesso da Aurora, surgiram também produtoras como Planeta Filmes, Iate Filme, Veneza Filme, Liberdade Filme, Olinda Filme, Spia Filme, Goiana Filme e Vera Cruz, que produz “História de uma alma”, com elenco formado por jovens da alta sociedade e temática católica.

De 1924 a 1930, o cinema pernambucano viveu uma intensa atividade. Estima-se que foram produzidos e exibidos 50 filmes, entre curtas e longas. Cerca de 12 produtoras chegaram a realizar filmes, o que era uma proeza visto que existiam poucos recursos e o mercado não era fácil. 

Já no final da década de 1920, a produção de críticas também vai se desenvolvendo na imprensa local. Os textos iam crescendo, falando também sobre linguagem e tecnologia do cinema. Os autores tinham como referências revistas especializadas nacionais, como Cinearte e O Fan.

O cinema mudo pernambucano foi perdendo o fôlego por diversos motivos. Primeiro porque não haviam tantas exibições fora do Estado capazes de trazer lucros reais que compensasse os investimentos.

Mas o principal golpe foi a chegada do cinema falado na década de 1930, que reforçou o poder do cinema hollywoodiano. Não existia técnica suficiente em Pernambuco para competir com esses filmes. Isso enfraqueceu o cinema brasileiro em geral.

“No Cenário da Vida”, de Luiz Maranhão e Jota Soares (foto), é considerado o último filme mudo do Ciclo do Recife, tendo como pano de fundo a alta sociedade recifense. Existiram algumas outras tentativas, mas todas fracassadas.

Diretor Jota Soares

Desde então, o cinema pernambucano viveu altos e baixos, com uma retomada significativa nos anos 1990. A histórica força cultural, o ímpeto criativo e os esforços dos profissionais fizeram com que a sétima arte do Estado fosse reconhecida no mundo.

Parte dos filmes citados no texto estão disponíveis gratuitamente no site da Cinemateca Pernambucana (http://cinematecapernambucana.com.br), um importante projeto de memória do cinema da Fundação Joaquim Nabuco. A Fundaj também administra um cinema dentro do Porto Digital: o Cinema do Porto.

Emannuel Bento é jornalista pela UFPE, com passagens pelo Diario de Pernambuco e Jornal do Commercio

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