Um dos mais renomados centros de ensino e pesquisa em computação do Brasil e da América Latina, o Centro de Informática (CIn) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) tem uma longa e curiosa história. A trajetória começa com um curso criado no então Instituto de Física e Matemática para receber o primeiro computador da universidade.
O Instituto de Física e Matemática foi criado nos anos 1950. Nessa época, a UFPE ainda era a “Faculdade do Recife” e tinha prédios espalhados por toda a cidade. O Instituto foi instalado inicialmente na Rua do Progresso, esquina com a Rua Gonçalves Maia, na Boa Vista.
Nos anos 1960, professores desse Instituto participaram de um evento promovido pela International Business Machines Corporation (IBM), a grande fabricante de computadores da época, e voltaram para o Recife preocupados com a questão da informática na universidade.
Eles explicaram ao reitor da época a importância de ter uma base de processamento de dados, evitando ficar atrás de universidades como a Federal da Paraíba, Campus Campina Grande, que se organizava para instalação do primeiro computador no Nordeste.
A preparação para a chegada de um computador da UFPE ocorreu em 1966, quando foi criado um programa de formação de computação para estudantes de Engenharias, Matemática e Física. Esse programa começou com 100 pessoas e, aos poucos, caiu para apenas 15.
Em 1967, a UFPE recebeu o seu primeiro computador: um Sistema IBM 1130, que ocupava toda uma grande sala com seus equipamentos periféricos. Ele passou a processar a folha de pagamento dos funcionários e, mais tarde, informações do vestibular.
Com o IBM 1130, foi criado o Centro de Computação Eletrônica. A UFPE começou a receber cursos da própria IBM, até que contratou um professor próprio: o engenheiro eletrônico argentino Raul Dicovsky. Ele deu cursos como Teoria da Codificação e da Programação, entre outros. Mais tarde, ele foi substituído pelo professor espanhol Ernesto García Camarero, da Universidade Complutense de Madrid.
Em 1968, o governo federal iniciou um projeto para implantar cursos de computação em todo o país. O curso de graduação da UFPE começou aos poucos, só montando as primeiras turmas em 1975. As aulas ocorriam em diferentes prédios, a exemplo do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH).
Em 1973, os antigos institutos já mencionados foram extintos, dando origem ao Centro de Ciências Exatas e da Natureza (CCEN). Esse foi o primeiro prédio da nova organização de computação: o Departamento de Informática.
O professor Paulo Cunha defendeu o primeiro mestrado em informática da UFPE em 1977. Aquela década seria marcada pelo esforço de professores que foram estudar fora, a fim de obter doutorado e enriquecer essa área nessa universidade.
A aquisição do primeiro microcomputador do Departamento de Informática ocorreu em 1983. Foi um Microengenho produzido pela Spectrum, gerando um grande interesse, com agenda de uso disputada.
Nos anos 1980, já com local próprio e gente qualificada, a coisa deslanchou. A atuação de professores visionários como Clylton Galamba, Silvio Meira e Paulo Cunha foi fundamental, pois o currículo da graduação foi ficando cada vez mais complexo.
Na metade dos anos 80, o tamanho do Departamento já não era proporcional às suas atividades. Era preciso crescer e o contexto político na época ajudou: o pernambucano Marco Maciel assumiu o Ministério da Educação e se tornou um grande apoiador do projeto de expansão do D.I.
A elaboração do novo centro começou em 1987: um prédio de 1.200 m², com mais duas salas de aula, 14 gabinetes de professores, laboratórios de pesquisa, de ensino, de graduação e de circuitos digitais.
A década de 1990 também foi de grandes avanços: a criação do doutorado em 1992 e da disciplina Empreendimentos em Informática, que deu origem à estrutura de pré-incubação de empresas batizada de Recife Beat – já na onda do manguebeat, que era tendência do Recife para o mundo.
Só em 1999 o Departamento virou Centro de Informática. A professora Ana Carolina Salgado foi a primeira diretora eleita do centro que, desde seu início, tem estrutura e ritmo de funcionamento semelhantes ao de uma empresa privada.
Hoje, o CIn é um dos maiores núcleos de computação do país, com cerca de 90 professores. Um feito singular por estar localizado no Brasil, país afastado dos grandes centros internacionais de inovação, e também fora do eixo Sul-Sudeste.
A visão empreendedora deu a possibilidade de estabelecer parcerias de longa duração com grandes empresas, como Motorola e Samsung. A criação da disciplina Projeto de Desenvolvimento, apelidada de Projetão, transformou o centro num berço de grandes empresas, como a InLoco.
Além de várias empresas, o CIn teve influência direta na criação do ecossistema de tecnologia e inovação existente em Pernambuco, com o Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (CESAR) e o Porto Digital.
Em 2011, foi a primeira instituição de ensino superior a ganhar o prêmio Finep de Inovação, o mais importante instrumento de estímulo e reconhecimento à inovação no País. E para o futuro, a instituição segue com o desafio de manter a mesma garra que possibilitou o seu crescimento, sem cair na acomodação ou perder a sua identidade.
*Esse conteúdo usou informações e fotos do livro “Memória CIN/UFPE”, do projeto Memória Cin, escrito pela jornalista Júlia Nogueira. Deixamos a obra como indicação de leitura no link: https://portal.cin.ufpe.br/o-cin/memoria-cin.
Emannuel Bento é jornalista pela UFPE, com passagens pelo Diario de Pernambuco e Jornal do Commercio
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