É um sonho antigo do Porto Digital, das empresas lá ancoradas e da Prefeitura do Recife (em suas diferentes gestões) que a cidade se torne cada vez mais inteligente e conectada. O caminho para se tornar uma “smart city” é longo e vem sendo trilhado há anos, começando por onde a própria cidade nasceu, no Bairro do Recife.

Mais recentemente, o governo municipal implementou mecanismos para transformar os territórios que compreendem o Parque Tecnológico (além do Recife Antigo, partes de Santo Amaro e Santo Antônio) em áreas de experimentações tecnológicas e inovadoras e lançou um edital para empresas e startups.

A cidade recebeu o Selo Connected Smart Cities, que reconhece boas práticas no desenvolvimento criativo, inovador, sustentável e inteligente, e passou a ocupar o 7º lugar no ranking das dez cidades que apresentam o melhor ambiente para práticas inovadoras.

Mas onde estão os exemplos de smart cities que a gente pode se espelhar? O que está sendo feito lá fora que pode ser replicado por aqui? Algumas soluções, inclusive, resolvem problemas bem próximos da gente.

Se serve lá, serve aqui

Como lá em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, por exemplo. A cidade usa um sistema de monitoramento de motoristas de ônibus, gerenciado por inteligência artificial, que visa reduzir acidentes provocados por fadiga. O “Al Raqeeb” está em testes em 50 veículos, e já teria ajudado a reduzir os casos em 88%, além de impactar diretamente na eficiência operacional dos ônibus em termos de pontualidade.

Um dispositivo é instalado na frente do motorista e monitora quaisquer indicadores de cansaço ou doença. Os dados são transmitidos para uma sala de controle onde são atendidos imediatamente. Outro sistema também está em teste, e monitora as atitudes de direção em termos de excesso de velocidade, desrespeito aos princípios de direção segura, irresponsabilidade no uso de freios, desvios bruscos e uso do celular ao dirigir.

Em Oslo, na Noruega, a preocupação é com as mudanças climáticas. A cidade tem como meta diminuir as emissões de gases poluentes em até 95% até 2030, e para isso usa sensores de controle de iluminação nas ruas e aquecimento e resfriamento nos prédios. O sistema de iluminação pública responde às condições do tempo para escurecer ou ficar mais brilhante conforme necessário, e reduziu os custos de energia em mais de 60%.

Além disso, há um investimento massivo na adoção de veículos elétricos e transporte alternativo. Compradores de carros elétricos não pagam o imposto sobre vendas de 25% e desfrutam de estacionamento gratuito, acesso à faixa de ônibus, carregamento gratuito e transporte gratuito em balsas. A infraestrutura elétrica de Oslo inclui mais de 2.000 pontos de carregamento para veículos elétricos em toda a cidade. 

Smart city tipo exportação

A cidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, não só criou uma solução para reduzir o trânsito, como desenvolveu uma plataforma que pode ser vendida para outras cidades. A Scalable Urban Traffic Control (Surtrac) é um sistema de gerenciamento de tráfego projetado para reduzir o tempo gasto parado no sinal vermelho, por meio de um software que analisa dados de câmeras, controladores de sinal e sensores. 

O investimento inicial foi de US$ 2,5 milhões, e foi criada uma empresa, a RapidFlow Technologies, para comercializar o Surtrac para além de Pittsburgh. Hoje, a plataforma opera centenas de cruzamentos em mais de 20 cidades. A instalação de um cruzamento inteligente pode custar cerca de US$ 100 mil – mas esses custos podem ser menores se a cidade já tiver algumas das câmeras e infraestrutura de sensores necessárias instaladas.

A pesquisa “Building a Future Ready City”, feita pela ThoughtLab em parceria com a Hatch Urban Solutions, consultou 200 localidades sobre o investimento em tecnologia e inovação, e levantou que em média cada cidade planeja gastar US$ 422 milhões nos próximos cinco anos em soluções inteligentes. Das cidades participantes no estudo, as mais preparadas são Tóquio, Hangzhou, Helsinque, Tallinn e Taipé. Na América Latina, Belo Horizonte é a mais avançada.

As áreas de investimento são principalmente em infraestrutura digital, energia, água e serviços de utilidade pública; mobilidade e transporte; qualidade de vida e saúde; meio ambiente e sustentabilidade; segurança pública; economia, indústria e talento. Automação, IA e veículos elétricos foram apontadas como as mais importantes, e o uso de gêmeos digitais a principal plataforma para planejamento e análise de cenários.

Ao mesmo tempo, o mercado de cidades inteligentes deve registrar um crescimento anual de 13,9%, sobre os US$ 457,18 bilhões atingidos em 2021, de acordo com a análise mais recente da Emergen Research. Os principais puxadores são a crescente demanda de resposta a emergências e o aumento da urbanização, bem como a ajuda fornecida por governos para o desenvolvimento de soluções de vigilância para a saúde – consequência direta da pandemia de covid-19. 

Espera-se ainda que o futuro crescimento da receita seja turbinado pela maior demanda também por dispositivos IoT, em especial nas cidades já atendidas pelo 5G.

Renato Mota é jornalista, e cobre o setor de Tecnologia há mais de 15 anos. Já trabalhou nas redações do Jornal do Commercio, CanalTech, Olhar Digital e The BRIEF

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