Evasão no ensino superior em TI e Exatas: por que é tão alta?

No dia 29 de março de 2023, tivemos o evento “Por que é tão alta a evasão nos cursos de exatas e TI?” com o debate entre Anderson Correia, Reitor do ITA, e Silvio Meira com a moderação de Pierre Lucena na Livraria Jaqueira no Bairro do Recife. O evento iniciou com uma apresentação de Pierre fazendo um “Raio-X” do estado atual da evasão a partir dos dados do Censo do Ensino Superior do INEP. 

Uma série de dados, informações e insights interessantes surgiram do debate e através da interação dos presentes com os debatedores. Conforme apresentado, a evasão é um problema sério no ensino superior brasileiro, em especial, nos cursos das áreas “Computação e Tecnologias da Informação e Comunicação” e “Engenharias, Produção e Construção” onde as taxas são superiores a 60%.

Alguns casos de sucesso foram destacados como os casos do ITA e do IME, onde as taxas de desistência acumulada são inferiores a 10%. Segundo Anderson, uma parcela significativa dos alunos que evadem o fazem quando utilizam os convênios de mobilidade internacional, estudam no exterior e optam por terminar a formação no exterior. 

O ITA e o IME são considerados as melhores escolas de engenharia do país há muito tempo e têm algumas características que parecem ser altamente eficazes para a redução da evasão:

• Vestibular muito concorrido [mais de 50 candidatos por vaga] o que traz ingressantes com uma base sólida e com uma baixa propensão à desistir precocemente, haja vista a preparação para o concorrido processo seletivo;
• Vivência em comunidade que transcende a sala de aula, potencializada pelo fato da quase totalidade dos estudantes residirem juntos nos alojamentos; 
• Forte sentimento de pertencimento e engajamento.

Outro caso de sucesso apresentado foi o do Programa Embarque Digital, um programa educacional de fomento à formação de capital humano especializado na área de computação, cujo propósito é formar mais estudantes para atuação no setor de tecnologia, contribuindo para a mudança de vida de estudantes em vulnerabilidade social e o consequente fortalecimento do setor de tecnologia da Cidade do Recife.

A turma ingressante em 2021.2 do Embarque tem uma taxa de desistência acumulada é 21.5% no 4o período dos cinco totais, o que é um número significativamente menor do que o observado em outros cursos. Além disso, 42% dos estudantes já estavam com trabalhos remunerados na área de computação no 3o período letivo, o que é algo excepcional na realidade nacional.

Pierre traz uma lista das principais causas de evasão listadas pela literatura que contemplam: lacunas de formação básica; dificuldades em acompanhar o ritmo acelerado dos cursos; desconexão entre os cursos com a área de atuação, especialmente nos primeiros semestres; problemas financeiros e falta de apoio e orientação. 

Um grande fator que influencia na evasão dos alunos é a desconexão entre a graduação e a vida profissional, o que está totalmente ultrapassado e não contribui para a melhoria do setor. Debateu-se sobre uma reformulação do processo de ensino-aprendizagem, focando em jornadas de aprendizado voltadas para o desenvolvimento de habilidades, competências técnicas e trabalho em equipe. Uma recomendação é a utilização de metodologias de aprendizagem ativas, aprendizado baseado em problemas, aprendizado baseado em times e a formação de habilidades socioemocionais. 

A plateia trouxe depoimentos e questões relevantes como, por exemplo, a questão da disparidade de gênero nas áreas de tecnologia, em especial, nas engenharias e na computação. O que vocês acham desse tema? O que podemos fazer para incluir mais mulheres nas áreas de tecnologia? Compartilhe sua experiência, vivência ou depoimento conosco!