Parece papo de coach: “seja inovador no seu dia a dia”, “tenha um mindset aberto e corajoso”, “desafie o status quo”, “explore novas ideias”, “experimente diferentes abordagens”… Porém, em vários aspectos, empresas são como pessoas – só precisam de um empurrãozinho para sair da inércia e deixar de esperar que a inovação chegue até elas.

Nos últimos anos, o mundo dos negócios tem testemunhado uma crescente adoção de abordagens inovadoras para impulsionar o crescimento e a transformação empresarial. Duas dessas abordagens notáveis são as Startups In-House e a Inovação Aberta, que têm se destacado como formas eficazes de impulsionar a disrupção em organizações de todos os tamanhos.

Startups In-House – São iniciativas empreendedoras criadas dentro de uma organização estabelecida, seja qual for seu tamanho. Elas são projetadas para operar de forma independente, como startups tradicionais, buscando soluções inovadoras para desafios específicos da empresa. Ao investir em startups in-house, as organizações podem aproveitar a mentalidade empreendedora e a agilidade característica dessas empresas emergentes para impulsionar a inovação interna, seja por meio de funcionários da empresa-mãe ou por equipes externas, integradas à estrutura da organização. 

Um diferencial das startups in-house é que elas se beneficiam dos recursos, expertise e suporte financeiro da organização estabelecida, uma vez que incentivam as empresas a cultivarem a inovação diretamente dentro de suas estruturas existentes. Nesse contexto, cria-se um ambiente de experimentação com um risco bem mais controlado.

E nada disso é novo, tá? Fomentar ambientes inovadores dentro das companhias é uma estratégia que vem sendo aplicada há décadas, mas nos últimos três anos vem se intensificando – especialmente entre as grandes empresas tradicionais. Coca-Cola, MetLife, General Electric (GE), IBM, Mondelez e Cisco são algumas das companhias que recentemente começaram a seguir o manual das startups, combinando escala e agilidade. 

“É a nova forma de trabalhar que eventualmente toda grande empresa adotará”, afirmou, em entrevista à Fortune, David Butler, vice-presidente de inovação da Coca-Cola. Acredita-se ainda que esse modelo de gestão pode atrair novos talentos, uma vez que 90% dos millennials dizem que preferem trabalhar em uma startup do que em uma gigante corporativa, segundo um estudo publicado no livro “Future Smart: Managing Game-Changing Trends That Will Shape the World”, de James Canton. 

Mover-se como uma startup pode ser atraente também para arrecadar fundos de investimento mais tradicionais (já que, como falamos, o risco é bem menor) criando concorrência com os investidores de capital de risco, o que, de acordo com um artigo escrito por Maksym Babych, fundador e CEO da SpdLoad, pode levar a um aumento significativo nas avaliações de rodadas de investimento específicas para uma startup.

“Como resultado de sua evolução, a startup agora pode ser vista como uma metodologia para encontrar de forma rápida e radical novos rumos para o core business. E dado que o ciclo de testes e aprendizagem é tanto uma abordagem voltada para o usuário quanto para o mercado, há uma chance muito maior de criar um produto valioso em seu próprio nicho”, avalia Babych.

A já citada Coca-Cola, por sinal, também está buscando empresas de fora dos seus muros para  desenvolver ideias que possam resolver seus problemas internos. Um exemplo foi a parceria com a Wonolo, uma plataforma de mobilidade parecida com o Uber, que faz abastecimento de lojas sob demanda. Essa colaboração e o compartilhamento de conhecimento entre empresas e atores externos para impulsionar a inovação é o que chamamos de inovação aberta.

Inovação Aberta – Nesse modelo, as organizações buscam parcerias não só com startups, mas também com universidades, centros de pesquisa e outras empresas para aproveitar suas ideias, talentos e recursos. A inovação aberta permite que as organizações ampliem seus horizontes, acessem novas tecnologias e abordagens, e promovam a cocriação de soluções inovadoras.

A inovação aberta também oferece a vantagem de diversificar perspectivas e conhecimentos, permitindo que as empresas obtenham insights valiosos de fontes externas. Ao colaborar com startups, por exemplo, as empresas podem se beneficiar daquela mentalidade empreendedora (agilidade operacional, abordagens disruptivas e etc.) que citamos lá em cima. Além disso, a inovação aberta pode ajudar as empresas a superarem a limitação de recursos internos, permitindo-lhes alavancar os recursos e competências de outras organizações.

O próprio Porto Digital tem uma iniciativa dedicada em fazer essa ponte entre startups e empresas. O Open Innovation Lab (OIL) promove ações que vão desde a sensibilização de colaboradores a investimento em desenvolvimento de soluções digitais. Tem até um episódio do podcast Cais sobre o assunto, que entrevista Felipe Sabat, superintende de Inovação Aberta do Porto Digital; Ana Uriarte, cofundandadora da Happen; e Thiago Suruagy, gerente do Laboratório de Estratégias Digitais do Sebrae. 

Embora as startups in-house e a inovação aberta possuam abordagens distintas, elas não são mutuamente exclusivas. Na verdade, muitas empresas estão adotando uma abordagem híbrida, combinando os benefícios das startups in-house e da inovação aberta. Essas empresas criam suas próprias startups internas para desenvolver soluções inovadoras, ao mesmo tempo em que estabelecem parcerias externas para alavancar o conhecimento e a expertise de outras organizações.

Ao combinar essas abordagens, as empresas podem criar uma cultura de inovação sustentável e buscar a disrupção necessária para se manterem competitivas em um ambiente de negócios em constante evolução.

Renato Mota é jornalista, e cobre o setor de Tecnologia há mais de 15 anos. Já trabalhou nas redações do Jornal do Commercio, CanalTech, Olhar Digital e The BRIEF

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