Segundo a Pesquisa de Origem-Destino Metropolitana do Recife (2018), 55% das distâncias percorridas por recifenses vão de 1,5 quilômetro a 4 quilômetros. Ou seja, a maioria das distâncias percorridas pela pessoa moradora da capital poderia ser percorrida a pé, com condições urbanísticas, de mobilidade e de segurança ideais. Outros 30,6% percorrem uma distância de 4 a 10 quilômetros. No total, somando os dois grupos, significa que mais de 80% não passam de dez quilômetros ao se deslocarem. 

A caminhabilidade, a pé ou de bicicleta, não é um fim, mas um meio. Ela permite a proximidade entre as pessoas e as coisas. A caminhabilidade, usufruída pelo público de empreendedores e funcionários do Porto Digital e turistas do Marco Zero, no Recife Antigo, refere-se a trechos de curtas distâncias. Em questão está, prioritariamente, a caminhabilidade aplicada para trechos menores, que reduz o deslocamento de automóveis e o trânsito e melhora a qualidade de vida.

Mais de 80% dos recifenses não passam de dez quilômetros ao se deslocarem – Foto: Andréa Rêgo Barros/PCR

A pesquisa foi realizada pelo Instituto Pelópidas Silveira/Secretaria de Planejamento Urbano do Recife e o Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano. Abrange a população que reside, trabalha, estuda ou busca serviços em 15 municípios. A RMR conta hoje com uma população de aproximadamente 4 milhões de habitantes, conforme o IBGE. Um novo levantamento de Origem-Destino tem sido realizado, com novas metodologias de coleta de entrevistas.

O funcionário público Reginaldo Lopes tem feito a parte dele: além do encantamento recente, agora pratica a mobilidade pedonal, deixa o carro em casa e vem tentando influenciar amigos do trabalho em cadeia, assim como um outro amigo fez com ele. “Gosto muito de passear por aqui após o almoço. Até mudei minha rotina”. Há duas semanas, ele aceitou o conselho de um colega: adotou o hábito de deixar o automóvel em casa, Zona Sul da capital pernambucana, indo e voltando para o trabalho de ônibus, fugindo do estresse, descansando o corpo e ouvindo o rádio. “Largo às 17h, o ônibus passa próximo das 17h e vou correndo para não perder”.

Apesar de os carros tomarem o cenário da cidade, como se brotassem mais do chão a cada dia, é um modal que não atende nem 15% dos cidadãos. Se for considerado o uso de veículos para fins de trabalho, eles representam 13,7%. Este ranking é liderado pelos usuários de ônibus (71,7%), seguido pelo metrô, carro e a pé, no caso do trabalho. Quando se trata de educação, as posições permanecem semelhantes.

IMPULSO PARA BOOM IMOBILIÁRIO

Grandes investidores do mercado imobiliário perceberam a onda de crescimento e têm apostado em projetos inovadores que se alinham com a onda contemporânea, puxada pelo Porto Digital e encampada pela Prefeitura com a requalificação do Centro.

Na gestão do prefeito João Campos, a área vem recebendo atenção especial, sob o guarda-chuva do programa Recentro. Muitos desses empreendedores, em suas propagandas, se colocam como projetos que representam um marco de um boom imobiliário e comercial desta importante região histórica, cultural, turística e tecnológica de Pernambuco.

Da área residencial, três projetos milionários se destacam: o do Moinho Recife Business & Life, o Yolo e o estudo do Hotel Motto By Hilton, estilo lifestyle, cujo modelo se destaca pelo design moderno, urbano e que investe em tecnologia e serviços digitais. Com perfil mais turístico, situado no Cais de Santa Rita, próximo ao Marco Zero e ao lado do coração do Recife, vê-se uma obra acelerada do Marina-Hotel, com marina, hotel e Centro de Convenções.

Na área residencial, um dos projetos é do Moinho Recife Business & Life – Imagem modificada

A chegada do Yolo Coliving no ecossistema do Porto Digital se destaca pelo afinamento com a proposta de convívio social, pregada pelo parque tecnológico. Ele tem tendência pelo perfil integrado à tecnologia, defendendo com inovação um negócio ancorado no senso de comunidade. O Yolo Coliving se inspira nos colivings europeus (os Long Stay, como é conhecido em expressão no inglês) e prevê o aluguel de apartamentos para curta e longa temporada. Sintonizado com a proposta do Bairro do Recife porque deve atender trabalhadores das empresas embarcadas no complexo tecnológico, em sintonia com a nova geração. 

Uma geração que não tem preocupação com patrimônio imobiliário e que quer mais rotatividade em seus empregos. Muitas vezes, são profissionais solteiros, sem filhos ou casais. No lançamento da obra, em 2022, o grupo do Yolo anunciou a abertura de uma área privativa de mais de 7 mil metros quadrados. Dentro dela, serão instalados 225 unidades habitacionais e cerca de 4 mil metros quadrados de área comum para acomodar 14 lojas.

Link abaixo para a continuação da série: 

DE UMA “LINGUETA DE TERRA” A UM CENTRO URBANO

Silvia Bessa é jornalista. Gosta de revelar histórias que se escondem na simplicidade do cotidiano. Venceu três vezes o Prêmio Esso e tem quatro livros publicados

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