Ah, os Millennials! Aqueles que, uma vez, se orgulharam de sua fluidez digital e habilidade de usar hashtags com maestria, estão agora se sentindo um tanto… obsoletos. Sim, estamos falando da Geração Alpha, o mais novo grupo no bairro demográfico, que está deixando até mesmo a GenZ coçando a cabeça com suas inovações. E para quem é Millennial como eu? Bem, estamos ocupados tentando entender como se usa o TikTok enquanto murmuramos algo sobre o quantos corações, gelos e estrelas tínhamos no Orkut. A Geração Alpha, composta por crianças nascidas a partir de 2010, é a primeira a nascer completamente imersa na era digital.

Para eles, a tecnologia não é uma ferramenta, mas sim um membro da família, um companheiro constante desde o berço – tipo a Xuxa foi nos anos 1980. Enquanto a Geração Z ainda se lembra vagamente de CDs e DVDs, os Alphas nunca conheceram um mundo sem smartphones, assistentes virtuais e realidade aumentada. Para eles, a Siri e a Alexa são praticamente tias sem corpo.

Diferentemente da Geração Z, que testemunhou a ascensão das mídias sociais, a Geração Alpha está crescendo em um mundo onde o digital é o padrão, não uma novidade. Isso está moldando suas perspectivas, comportamentos e, claro, suas interações econômicas de maneiras que ainda estamos começando a entender. Enquanto os Millennials se preocupam em pagar as contas de suas assinaturas de streaming, os membros da Geração Alpha estão mais propensos a questionar por que alguém pagaria por algo que não é interativo, personalizado e disponível 24 horas por dia, sete dias por semana.

E eles estão vindo com tudo: mais de 2,8 milhões de pessoas nascem globalmente todas as semanas. Quando todos os membros da Geração Alpha nascerem (lá em 2025, quando começa a Geração Beta), serão mais de 2 bilhões de humanos – o maior grupo demográfico na história do mundo. 

Empreendedorismo e tecnologia no DNA

Agora, se acha que a Geração Z já era ligada em tecnologia, prepare-se para a Geração Alpha. Segundo uma pesquisa recente da Visa, esses jovens não só respiram tecnologia, como também já estão fazendo dinheiro com ela: 43% da Geração Alpha já usaram a tecnologia para ganhar dinheiro. Estamos falando de crianças que, ao invés de gastar o troco do pão com chiclete, estão criando conteúdo em plataformas digitais e até mesmo desenvolvendo seus próprios produtos tecnológicos.

Mas o que realmente chama a atenção é o espírito empreendedor dessa geração: 76% aspiram ser seus próprios chefes, contra apenas 13% que desejam trabalhar para outros. Isso representa uma mudança significativa em relação às gerações anteriores e sugere um futuro em que o empreendedorismo e a inovação independente serão mais comuns do que nunca. 

Além disso, essa geração tem uma visão clara de como a tecnologia, especialmente a inteligência artificial e a realidade virtual, será parte integrante de suas carreiras futuras. Cerca de 40% acreditam que AI, realidade virtual e assistentes inteligentes serão fundamentais em seus trabalhos. Esses dados levaram a Visa a criar o cargo de “Junior Chief Innovation Officer”, para tentar atender às expectativas de um mundo que será moldado por mentes jovens e inovadoras.

Com essa rica descrição em mãos, podemos tecer um retrato detalhado da Geração Alpha, destacando não apenas suas características distintas, mas também os desafios únicos que enfrentam. Vamos integrar esses elementos ao nosso artigo, mantendo o estilo analítico e leve.

Decifra-me ou te devoro

O Pew Research Center sugere que as gerações são moldadas por interações entre eventos globais e mudanças tecnológicas, econômicas e sociais, e isso nunca foi tão verdadeiro quanto para a Geração Alpha. Eles não são apenas definidos pela tecnologia que usam, mas pela velocidade com que o mundo ao seu redor evolui. Seu nascimento coincide curiosamente com o lançamento do primeiro iPad da Apple, um símbolo apropriado para uma geração que nunca conheceu um mundo sem telas sensíveis ao toque – eles até são chamados de iPad Kids.

O termo foi cunhado pelo sociólogo australiano Mark McCrindle e reflete uma abordagem científica, usando o alfabeto grego e marcando o início de algo novo, não um retorno ao velho. Como McCrindle colocou, “é o começo de uma nova era, não uma revisitação”.

Algumas características definem Alphas – para o bem, ou para o mal:

  • Hiperconectados: para a Geração Alpha, a tecnologia é como o ar que se respira – sempre presente e absolutamente essencial;
  • Independentes: essas crianças e adolescentes têm um forte senso de autonomia, especialmente em suas identidades digitais e tomada de decisões;
  • Visuais e Tecnológicos: com uma preferência pelo vídeo e habilidades aprimoradas nos videogames, eles são adequadamente equipados para o mundo digital;
  • Diversos: eles transcendem as barreiras tradicionais de etnia e gênero, abraçando uma ampla gama de estilos de vida e pontos de vista;
  • Atenção e Concentração: o uso constante de múltiplas telas pode afetar adversamente sua capacidade de concentração;
  • Socialização: com mais tempo gasto online, há menos oportunidades para socializar no mundo físico;
  • Criatividade e Imaginação: a dependência de tecnologia pode limitar o desenvolvimento de habilidades criativas e imaginativas;
  • Bem-estar Emocional: há uma correlação preocupante entre o aumento do uso de smartphones e redes sociais e o crescimento da depressão e ansiedade entre os jovens.

Nova Dinâmica do Mercado de Trabalho

À medida que a Geração Alpha se aproxima da idade para ingressar no mercado de trabalho, é crucial olhar para as tendências que estão se formando, especialmente em comparação com as expectativas e comportamentos das gerações anteriores. 

De acordo com o relatório de Workplace Trends 2024 da Glassdoor, estamos prestes a testemunhar um momento crucial de mudança cultural nas empresas, no qual a Geração Z está prestes a superar os Baby Boomers em termos de presença no mercado de trabalho em tempo integral. Isso não apenas marca uma mudança demográfica, mas também uma transformação nas prioridades e na cultura do local de trabalho.

Os GenZ valorizam profundamente as conexões comunitárias, ter suas vozes ouvidas no local de trabalho, liderança transparente e responsiva, além de diversidade e inclusão. Estas são prioridades que os empregadores, profissionais de RH e equipes de aquisição de talentos precisarão abordar para atrair e reter essa parcela cada vez mais importante da força de trabalho. 

Diante de uma Geração Z crescente e amadurecida, as empresas também podem querer reconsiderar suas estratégias de benefícios. À medida que as gerações mais jovens formam famílias, avançam em suas carreiras e acumulam ativos, estarão mais focadas em vantagens como seguro saúde para dependentes, economias para aposentadoria e outros benefícios tradicionais.

Essa tendência de mudança nas expectativas de trabalho e benefícios sinaliza como a Geração Alpha pode moldar ainda mais as dinâmicas do local de trabalho quando começarem a entrar no mercado. Com sua forte inclinação para o empreendedorismo e uma abordagem diferente para o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, é provável que vejam e moldem o mundo profissional de maneiras que talvez ainda não possamos imaginar completamente.

A chave para as empresas será a adoção de uma mentalidade inclusiva em relação à tecnologia. A Geração Alpha, com sua busca por trabalho significativo e impactante, não se contentará com o status quo. Para eles, dispositivos tradicionais como celulares e tablets são meras necessidades básicas, e as atividades que não incorporam soluções modernas serão vistas como obsoletas.

Essa geração emergente espera que tarefas mundanas sejam automatizadas através de processos impulsionados por IA, e cada indivíduo antecipa um assistente pessoal como parte de sua experiência profissional. Essa mudança destaca uma nova dinâmica na força de trabalho, onde a personalização e o suporte individualizado são cruciais.

Para as empresas, isso significa abraçar a abertura de espírito, a empatia e um compromisso com o aprendizado contínuo. Cultivando um ambiente que nutre criatividade, adaptabilidade e respeito mútuo, as organizações podem superar as barreiras geracionais. Juntas, as Gerações Z e Alpha moldarão o futuro do trabalho, deixando uma marca indelével em indústrias, tecnologia e sociedade como um todo. 

Renato Mota é jornalista, e cobre o setor de Tecnologia há mais de 15 anos. Já trabalhou nas redações do Jornal do Commercio, CanalTech, Olhar Digital e The BRIEF

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