“Agora tem um app pra isso!” – uma frase que, embora prometa conveniência, muitas vezes nos deixa navegando em um mar turbulento de aplicativos, um para cada serviço . A era do ‘app sprawl’ nos alcançou, e agora, as empresas estão tendo que lidar com isso.

“App sprawl” é a proliferação descontrolada de softwares dentro de uma organização. Mas calma, não estamos falando daquela coleção de aplicativos no seu smartphone. O app sprawl ocorre em uma escala corporativa, onde a acumulação excessiva de software ameaça a eficiência operacional da empresa. Chegou-se a um ponto em que adicionar mais softwares deixa de ser benéfico e começa a ser um problema – uma realidade enfrentada hoje em dia. Isso ocorre porque a inclusão de novos softwares pode levar a vulnerabilidades de segurança inesperadas e demandar uma manutenção muito mais intensiva.

Uma pesquisa recente realizada pela Canva em parceria com a Harris Poll revelou uma preocupação crescente entre os executivos de tecnologia da informação (Chief Information Officers – CIOs). Eles se sentem sobrecarregados com a quantidade cada vez maior de aplicativos: 57% dos executivos entrevistados estão alarmados com o aumento da complexidade e dos riscos de segurança que acompanham essa proliferação. Com o avanço rápido da tecnologia, especialmente no âmbito da inteligência artificial (IA), os líderes de TI estão em uma constante corrida para adotar e avaliar novas ferramentas.

As consequências do excesso de aplicativos são diversas e impactam significativamente as organizações. Redundância é uma das principais. Muitas vezes, as empresas acabam tendo vários aplicativos que fazem a mesma coisa, resultando em desperdício de recursos como espaço de armazenamento, capacidade de processamento e treinamento dos funcionários.

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A complexidade na gestão também aumenta com a multiplicidade de aplicativos. O departamento de TI pode precisar dedicar-se integralmente para integrar diferentes aplicativos ao sistema principal, identificar e gerir silos de dados e lidar com questões de interoperabilidade.

Os riscos de segurança se ampliam com o aumento do número de aplicativos, cada um com suas próprias vulnerabilidades. É muito mais desafiador manter a segurança quando se tem uma grande variedade de softwares, em vez de um conjunto menor e bem gerenciado. Aplicativos não utilizados ou ultrapassados, se não forem devidamente desativados, podem se tornar portas de entrada para ameaças de segurança.

Finalmente, todos esses problemas acarretam um aumento nos custos de TI. Isso não se reflete apenas na necessidade de mais ativos (como hardware e licenças de software) e mais pessoal de TI, mas também no aumento dos custos de manutenção.

Diante desse panorama, a pergunta que surge é: como os CIOs podem inovar e aumentar a eficiência sem se perderem nesse labirinto de apps? Surpreendentemente, a resposta pode estar na própria tecnologia que está causando o problema: a inteligência artificial. 

Para navegar neste oceano de opções, os executivos estão adotando estratégias como a consolidação parcial ou em grande escala de apps. Quase todos os CIOs entrevistados (90%) acreditam que as ferramentas de IA podem simplificar drasticamente seu trabalho e melhorar a experiência dos funcionários. Eles veem na IA uma aliada para analisar padrões de uso de aplicativos em uma escala massiva

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Ao etiquetar e rastrear diferentes apps e dados, a IA identifica áreas de duplicidade e desperdício, além de desajustes entre o uso real e os planos de pagamento existentes. Porém, a eficácia dessas ferramentas depende de vários fatores. A qualidade dos dados, a sofisticação dos algoritmos e a perícia dos indivíduos interpretando os resultados são cruciais. A IA também precisa de tempo para compreender padrões de consumo a longo prazo, o que pode ser um desafio ao avaliar custos de novas aplicações em ecossistemas de nuvem mais amplos.

Embora as ferramentas de IA possam ajudar a prevenir a superprovisão de apps específicos, é improvável que as empresas reduzam o gasto total com cloud computing, dada a proliferação de serviços baseados em nuvem – incluindo a própria IA. Estamos diante de um paradoxo interessante: a tecnologia projetada para simplificar e reduzir custos também contribui para a complexidade e os custos contínuos.

Assim, a IA não é uma panaceia, mas uma peça-chave no quebra-cabeça da gestão de TI. Sua habilidade em desvendar padrões complexos e oferecer soluções econômicas é inestimável. Mas, como qualquer ferramenta poderosa, requer um manuseio cuidadoso e uma compreensão profunda de suas capacidades e limitações. 

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Por isso, muitos CIOs estão investindo em treinamento para suas equipes, reconhecendo que o capital humano é tão crucial quanto a tecnologia. Ao mesmo tempo, estão estabelecendo medidas de proteção rigorosas para garantir um uso seguro e responsável da IA. Mas aqui surge outro desafio: como escolher a ferramenta certa em um mercado saturado? Com 85% dos CIOs relatando um excesso de ferramentas de IA disponíveis, a dificuldade agora é identificar a solução ideal em meio a tantas opções.

Renato Mota é jornalista, e cobre o setor de Tecnologia há mais de 15 anos. Já trabalhou nas redações do Jornal do Commercio, CanalTech, Olhar Digital e The BRIEF

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