Imerso no coração do centro histórico do Recife, um edifício que remonta ao século 18 vem abrigando escritórios de negócios que apontam para o futuro. O Paço da Alfândega, no Bairro do Recife, adotou um modelo de “office & mall” no pós-pandemia e, mais recentemente, passou a comportar modernos escritórios da Liferay, empresa embarcada no Porto Digital.
Esta empresa de origem norte-americana, destaque na fabricação de software de experiências digitais, posicionou no Recife a sua maior operação fora de Los Angeles (EUA), expandindo-se continuamente em um cenário de crescente inovação.

O Paço Alfândega também conta com escritórios da Tempest, maior empresa brasileira de cibersegurança; da CentralIT, de serviços de tecnologia da informação; e da Mesa Mobile Thinking, desenvolvedora de produtos digitais, entre muitas outras marcas.
O “office mall” pode ser descrito como uma espécie de hub de negócios mais dinâmico, mesclando tecnologia e negócios com gastronomia e cultura – o Cais da Alfândega, inclusive, é palco do festival Rec-Beat durante o Carnaval.
Antes desse atual modelo, grande parte da população (sobretudo os mais jovens) associa o prédio à nomenclatura de “shopping”. Entretanto, para compreender plenamente a relevância contemporânea do Paço Alfândega, é necessário revisitar suas origens.
De Convento à Alfândega de Pernambuco

O prédio do atual Paço Alfândega foi construído entre 1720 e 1732, como uma extensão da Igreja Madre de Deus (que segue por lá) para ser o Convento dos Padres Oratorianos de São Filipe Néri.
A história da Alfândega de Pernambuco, da qual o edifício herdou seu nome, remonta ainda mais no tempo. Fundada em 1535, em uma modesta casa no bairro do Varadouro, em Olinda, então capital administrativa de Pernambuco, a Alfândega desempenhou um papel crucial no controle e tributação das mercadorias que fluíam através da região.

Essa repartição governamental permaneceu por lá até a chegada dos holandeses, que a transferiu para um sobrado na antiga Praça do Corpo Santo, no Bairro do Recife. Nos anos seguintes, a busca por local definitivo para a Alfândega foi um problema constante para o poder público.
Já em 1826, finalmente é adquirido parte do citado Convento para a transferência da Alfândega. Antes, contudo, era necessária uma grande reforma.
Primeira grande reforma do Edifício da Alfândega

O governador responsável por destinar recursos à reforma do prédio foi Francisco de Rêgo Barros, que promoveu melhorias urbanas e levantou outros importantes edifícios que ainda definem a paisagem do Recife, como o Teatro de Santa Isabel, a Assembléia Legislativa e a atual Casa da Cultura. Temos um texto dedicado a todas as suas benfeitorias no Jornal Digital.
Graças a Rêgo Barros, todo o edifício foi adquirido para esta finalidade, quando se fizeram as modificações exigidas. Até o século 19, inclusive, não existia separação entre a Igreja e esse prédio – a demolição resultou na atual Rua da Alfândega.
A inspeção foi realizada pelo coronel Manoel Pinto da Fonseca, que pessoalmente dirigiu todo o trabalho de reconstrução. A conclusão das obras ocorreu em 1841.
Até o começo do século 20, quem adentrasse neste edifício iria encontrar um saguão de entrada com piso ladrilhado em mosaico inglês. No primeiro andar, piso de mármore e um majestoso salão principal. Lá, se encontrava as 1ª e 2ª seções da Alfândega, tesouraria, inspetoria e comissão de tarifa e sala dos conferentes.

Ao lado do salão principal ficava o salão de honra, ricamente decorado. Nas paredes, galeria de retratos dos presidentes da República e dos seus ministros da fazenda.
Em 1932, a Santa Casa de Misericórdia, entidade filantrópica católica e proprietária do imóvel, alugou-o para a Cooperativa dos Produtores de Açúcar e de Álcool de Pernambuco, transformando-o em armazém de produtos. Ao longo das décadas, o prédio passou a ter diversos usos, chegando a ser até estacionamento – um desperdício, diante de sua relevância histórica e cultural.
A segunda grande reforma que deu origem ao Paço Alfândega

No começo do atual milênio, no mesmo período em que o parque tecnológico Porto Digital se instalava no Bairro do Recife, o edifício da antiga Alfândega de Pernambuco passou por uma nova grande reforma capitaneada pelo escritório de arquitetura Pontual Arquitetos, em um projeto liderado pela arquiteta Luciana Menezes e com pesquisa arqueológica de José Luis Mota Menezes.
Os profissionais tiveram a tarefa de “garimpar” a construção existente, desnudando paredes e pisos para identificar, baseado nos relatos iconográficos, a essência do projeto original dos tempos do Conde da Boa Vista.

Foi usada uma estrutura metálica independente em meio à alvenaria do edifício, dando uma leitura de convivência do antigo com o moderno. Nesse sentido, a arquitetura acabou servindo como uma representação do futuro do local e do próprio Bairro do Recife, que hoje abriga o maior parque tecnológico urbano e aberto do Brasil.
O Paço Alfândega, mais do que um marco arquitetônico, é o eco de uma cidade em constante movimento, onde as fronteiras entre o antigo e o novo se enlaçam para dar lugar a um horizonte infinito de possibilidades.

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