Na plateia, um especialista da GE Renewable Energy, multinacional americana voltada para equipamentos para energia renovável, apresentava o conceito de Gêmeo Digital quando começou a conversar virtualmente com uma turbina geradora de energia eólica localizada na Califórnia (EUA). O palestrante estava na costa leste dos EUA. O Gêmeo Digital (Digital Twin – DT) é um modelo virtual utilizado no monitoramento e otimização de operações, fluxos de trabalho e que usa interações entre sistemas e pessoas. Naquela ocasião, meados de 2018, no palco, o que se via era uma espécie de conversa à longa distância e com uma comunicação eficiente. Comanda daqui, observa dali, houve uma suposta falha operacional na turbina. O que se propõe para lidar com essa falha? Deu-se um pequeno silêncio; um gap proposital, provocação para aqueles que estão acostumados a lidar com problemas e apresentar soluções.

LIDERANÇAS TECH: “Aquele pessoal de Pernambuco que faz tecnologia” está entre gigantes internacionais da IA

Aquela simulação impressionou o engenheiro eletrônico pernambucano Paulo Tadeu, um especialista de alta performance, estudioso da área de tecnologia e hardware desde a década de 1980. Paulo Tadeu circula há décadas no eixo Estados Unidos, Europa, entre muitos outros países, criando oportunidades e exibindo a capacidade produtiva do Brasil em tecnologia. Como espectador, antes mesmo do fim da palestra do representante da GE, decidiu: “É isso que eu quero para a minha empresa”. Paulo é CEO Executivo da deep tech Di2win, empresa hoje destaque internacional na área de Inteligência Artificial. Embarcada no Porto Digital, o maior parque a céu aberto de inovação da América Latina, localizado no Recife, capital pernambucana.

Paulo cogitou levar para o mercado financeiro, onde já atuava e tinha domínio, a Inteligência Artificial para lidar com uma sólida base de dados e analisar taxas de juros. Imaginava uma IA com segurança para tomar decisões complexas em um final de semana ensolarado, sem a ajuda humana, enquanto os especialistas apreciariam o bom descanso. Nascia naquela palestra o embrião da Di2win. Era 2018, mas Paulo Tadeu lida e fala sobre Inteligência Artificial há décadas.

A criação da Di2win seria mais um desafio que ele impunha para si. Ele é parte de uma geração de pesquisadores, empreendedores e professores da tecnologia, a exemplo de Silvio Meira, Clylton Galamba, Júlio Gil, José Augusto e outros ícones da inovação no Brasil e no mundo: “A minha geração era aquela da época do Governo Sarney, que pensava assim: ‘O último a sair, apague a luz do aeroporto’”. A grande maioria dos estudiosos não via espaço para desenvolver-se nessa área de tecnologia no Brasil, que dirá no Nordeste. Paulo, como poucos, queria dar a sua contribuição para mudar essa realidade.

Ele é o destaque de hoje da série Lideranças Tech, pela sua história de pioneirismo e pelas conquistas atuais, que colocam a sua empresa entre as mais preparadas para criar soluções em IA no Brasil e no mundo. A Di2win circula atualmente entre gigantes da tecnologia internacional. É parceira da Nvidia, líder mundial em computação de inteligência e tem trabalhos com a Microsoft e Amazon.

Uma das últimas grandes conquistas foi ter sido selecionada como a única empresa nordestina entre as 10 brasileiras que farão parte da primeira turma de aceleração na área de IA realizada pelo Google IA. Vivendo um grande momento, a Di2win acaba de ganhar também o título de “Best Paper” na Conferência CVPR (Computer Vision and Pattern Recognition, Visão Computacional e Reconhecimento de Padrões, em tradução livre), recentemente, em Seattle, nos Estados Unidos. A conquista se deu pelo conteúdo com abordagem para o Reconhecimento de Documentos Manuscritos (HDR), desenvolvido pelo acadêmico Dayvid Castro em seu doutorado na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Castro contou com dois especialistas da Di2win para o seu doutorado – Cleber Zanchettin e o Head de P&D Byron Bezerra. O trabalho foi o material foi apresentado como parte do Workshop LatinX in Computer Vision Research. Os workshops do CVPR, como o LatinX in AI, são classificados entre os veículos mais importantes do mundo na área de visão computacional e IA. Em resumo, a Di2win estava lá representando bem “aquele pessoal de Pernambuco” e do Brasil.

Pioneirismo

Ao longo dos últimos 30 anos, Paulo Tadeu carimba o passaporte mensalmente com embarques e desembarques internacionais e nacionais. Voa com o objetivo de mostrar que “a gente tinha um cluster de tecnologia em um lugar chamado Brasil, ou mais precisamente na parte mais exótica do Brasil”. À época, lembra, “era algo tão estranho que ele precisava dizer que era o país de Ayrton Senna, de Gisele Bundchen”, mas, frisava, é também o Brasil da Embraer. “Eu queria dizer que éramos muito além do suco de laranja. Mostrar que a gente fazia tecnologia”.

Ele é um pioneiro, junto a um grupo de técnicos de ponta da área de tecnologia no Brasil, e tem muita história para contar com projetos de inovação nas áreas de comunicação, bancária e do setor elétrico. Também na implantação de plantas digitais, no fomento à incubação e amadurecimento de empresas, ao empreendedorismo tech, na valorização do capital intelectual, no registro de patentes – no caso da Di2win. A empresa não comercializa patentes; usa esses componentes para os produtos que produzem e vendem.

O CEO e a Di2win são referência quando se trata de tecnologias para a Hiperautomação no Processamento Inteligente de Documentos (IDP) e Gêmeos Digitais Organizacionais. A Di2win conta com um time de profissionais, incluindo mestres e doutores. A empresa cria tecnologias próprias baseadas em IA e conta com 30 registros de propriedade intelectual para ampliar a eficiência e alta performance de empresas. Fundada em 2018, firmou o primeiro grande contrato em 2019, com a Xerox. Atualmente, a Di2win presta serviços a cerca de 30 clientes nos segmentos financeiro, securitário, imobiliário, educacional e industrial.

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Entre idas e vindas para o exterior, uma passagem mais longa trabalhando no Rio Grande do Sul e depois em São Paulo, foi integrado ao CESAR, puxado pelo Superintendente Fred Arruda com o aval do seu ex-professor Silvio Meira, fundador do CESAR, que à época fazia parte da Sociedade Brasileira de computação. “Quando vim para o CESAR, era o início mesmo. O CESAR só tinha um cliente aqui, que era o Bompreço, e outro contrato com o CNPq, algo em Brasília, muito pequeno. Fui a 30a. pessoa contratada pelo CESAR. Peguei meu network que eu tinha e eu me tornei gerente de cooperação do CESAR”.

Naquela ocasião, já tinha amadurecido o suficiente para entender que, do mesmo jeito que o Sul via o Nordeste como um povo exótico e resumia a região à praia e ao carnaval, o nordestino também fazia o mesmo, à medida que resumia o sul ao frio dos agasalhos. Paulo usou essa visão cosmopolita e globalizada, respeitando e aproveitando as diferenças, para perceber que ninguém tem culpa por essas imagens construídas; todos são frutos de um processo cultural alimentado durante muitos anos e com a colaboração da TV. Não havia alternativa senão lidar com ele. O importante era mostrar para além das particularidades.

Sobre o Nordeste, terra natal de sua família, queria usar a sua experiência para quebrar barreiras, acabar com o pensamento que via a expansão do mercado de tecnologia atrelada a empresas públicas e que a língua era barreira para venda de tecnologia. A qualidade técnica do Nordeste e do Brasil era mais relevante.

Paulo Tadeu parece ter orgulho das conquistas coletivas e das suas próprias. Antes, diz, nos encontros pelo mundo, a tecnologia era assunto da Rússia e de Israel. Hoje se inclui, vê colegas e a sua empresa mencionados em uma frase que denota distinção e respeito de seus pares. Ele é “daquele pessoal do Brasil que faz tecnologia” – parafraseando uma frase que ouve com frequência.

Pela importância do momento e o aumento das demandas por soluções na área de TI, além da história do CEO da Di2win, o Jornal Digital traz nesta edição uma entrevista exclusiva com ele sobre Inteligência Artificial e o futuro das empresas. Boa leitura.

ENTREVISTA/ Paulo Tadeu

Quando vocês começaram a falar e trabalhar com Inteligência Artificial?
A gente é de uma geração que vende Inteligência Artificial desde o início. Meu time, por exemplo, trabalha com IA há quase 30 anos. Quando a gente foi trabalhar com bancos, colocamos IA em banco, e, sim, já usávamos essa expressão. A expressão Inteligência Artificial nasce em 1950, com o conceito de que seria computação inteligente, a partir de modelos matemáticos. Então, tinha um conceito maior, chamado Inteligência Forte, e outro chamado de Inteligência Fraca. A Forte é a da ficção científica, aquele computador que tem autoconsciência; isso não existe. O que existe é o que chamamos de Inteligência Fraca. A Fraca é feita por segmentos. No nosso caso, a gente fazia numa área de reconhecimento de padrões, com modelos matemáticos baseados em redes neurais. Você treinava a IA, principalmente em cima de toda a parte de grafia de cheques, porque era onde a gente estava atuando. Buscamos uma solução para analisar tanto a escrita numérica quanto a escrita por extenso do cheque e, depois de treinar com várias imagens, ela conseguia processar automaticamente comparando o número com o extenso e você não precisaria mais um elemento humano. Não sei se você sabe, mas, para a compensação de cheques antigamente, uma pessoa olhava o cheque, olhava o outro lado, olhava de novo até decidir pelo “Ok, compensa”. A gente terminou com toda essa parte usando a IA.

Então, a gente sempre trabalhou com IA e fomos mexer com gêmeo digital por causa disso. Trouxemos o conceito de gêmeo digital e começamos a trabalhar em cima do processo. Quando a gente definiu isso, veio a pandemia, no início de 2020. Trabalhamos até o último dia aqui no Porto Digital, lembro como se fosse hoje, foi numa quarta-feira. Na quinta-feira, a gente já não podia mais ter a experiência presencial. Sentei e definimos o que faríamos: todo mundo pega a máquina, leva para casa e define que às 8 horas da manhã todos deveriam estar acordados. Fizemos isso no outro dia e, desde então, a gente tem um evento na empresa chamado Weekly. É uma reunião que acontece todas as sextas-feiras, às 14 horas. Isso desde a primeira sexta-feira da pandemia até hoje, e nunca deixou de acontecer. Entra todo mundo da empresa, ficam 40 pessoas online… Também estabelecemos rotinas. A empresa literalmente deu uma espalhada. Mudou o modelo, e ao mesmo tempo aconteceram alguns eventos interessantes.

Você falou que esse ano a empresa deve triplicar o seu faturamento, vai ganhar outro tamanho e começar uma segunda rodada de captação. Vocês trabalham com IA há décadas, mas agora existem ferramentas diversas dentro de um processo disseminado. Como vocês têm lidado e como veem essa massificação dos termos e do uso de ferramentas de IA?
Tudo que é hype é complicado. A gente passou por várias hypes. A primeira hype do Rpa (Robotic Process Automation (RPA, em inglês). Por exemplo, um cliente nosso tinha uma “fazenda de Rpas”, 70 robôs…e não tinha reduzido o back office dele. RPAs é muito mais processo do que inteligência. O que é IA de fato? Tem de separar. Não existe uma tecnologia que resolva tudo. Isso foi uma coisa que a gente aprendeu, foi sobre como usar a melhor tecnologia para cada situação.

Agora, vem um evento como o ChatGPT, o que é que acontece? Primeiro é a popularização do IA. O que a IA poderia fazer para as empresas? Tem uma diversidade grande de gente usando essa tecnologia, a partir do GPT ou a partir da IA da da Google, a pessoa faz aplicações e entrega ao mercado. Então, você tem uma popularização em um processo de acontecimento e todo mundo quer fazer IA. É engraçado que tem cliente que diz “agora tenho que usar IA”, e ele não sabe nem o porquê nem para quê a IA existe. Vejo um certo desespero e a gente trata isso com muita tranquilidade porque, como a gente já vive nessa janela há 25 anos, a gente sabe qual o limite, o que é que é fantasia e o que que é possível de ser feito.

Então, o que é fantasia?

Primeiro, que uma IA não resolve tudo. Todo mundo fala de IA como se a generativa, que é a do GPT, fosse a solução. Não é. Tem coisas específicas para a visão computacional, específica para generativa… O segredo não é usar uma ou outra IA; o segredo é saber montar o LEGO. Está em como você combina essas IAs para conseguir uma solução mais perfeita. Então, um engano é esse: você achar que é a solução para tudo. Não existe isso.

Segundo, é aquela confusão que se faz ainda quanto à IA forte. De chegar num momento que você tem uma inteligência artificial superior que consegue com autoconsciência se programar. A China fala que este ano vai colocar no ar um hospital completamente robotizado, capaz de fazer 3 mil atendimentos. É possível? É, dependendo do que for feito. Procedimentos médicos de análise de imagem, por exemplo, aí dá para fazer, sim. Todo o processo que for comparativo, baseado em conhecimento pregresso, você tem condições de fazer se você treinar a IA, dar conhecimento e colocá-la para avaliar as situações futuras.

Mas, no passado, o que aconteceu no mercado financeiro? Com um cheque de R$ 300,00, a gente processava automaticamente com a lógica de que “eu não vou perder tempo para analisar isso”. Acima de R$ 300,00, estabelecia algo como “quero que alguém confirme” a compensação. Fala-se de impacto em todas as profissões, mas, no meio médico – e digo isso com tranquilidade, porque minha esposa é médica e minha filha é médica -, a medicina vai ser impactada nesse nível. Então, vamos olhar agora para a saúde: se for indicação de alguma coisa mais séria, a ferramenta indica e acho que vai se chegar a esse grau de segurança, o caso vai para o operador como um alerta. Você vai ter uma certa explosão de
atendimento, barateamento também, obviamente até um ponto de ganhar confiança.

Agora, voltando para a sua pergunta, a IA se baseia em três três princípios: treinamento, contextualização e tomada de decisão. Como se eu fosse um cara de software: uma vez treinando, se nota que a IA consegue entender uma situação que não é idêntica à que ela foi treinada, mas que é parecida. E, a partir desse estágio, ela consegue tomar uma decisão.

Então, quando a gente trabalha em coisas específicas, em processos específicos que são simples, você resolve com a IA baseando-se no limite que está atuando. O que chamamos de um limite saudável, seguro. Nesse caso, a gente deixa atuando sozinha. A partir desse limite, já tem um risco associado.

Mas a IA pode tomar conta de muitos espaços, como se cogita?

Não. Isso é um mito. Vai estar cada dia mais forte, mas tomar conta de tudo aí é uma decisão. Você pode dizer: ‘Ah, vou acumular todo conhecimento passado e eu vou ficar muito próximo do futuro’ e isso é verdade, mas a criatividade não vai acontecer. O que faz a diferença de um humano com relação à IA é a capacidade do inusitado. Algo que ninguém nunca pensou, que não tem nenhum conhecimento associado e, de repente, aquilo é uma solução inovadora. A IA vai fazer, vai tentar repetir, baseado na sequência passada de aprendizado.

Até que ponto a IA vai impactar ou acabar com postos no mercado de trabalho, por
exemplo?

É uma questão de reposicionamento do que fazer. Acho que não tira postos de trabalho, vai dar mais eficiência. Quando a gente entra por exemplo back office, a gente vê que 70% do tempo que um analista gasta é tempo juntando o dado, planilhando, organizando, para depois fazer análises. Então, a atividade de fim dele mesmo, ele não faz muito, porque ela é consumida para poder ajustar, para poder tomar decisão. Todo esse pedaço, dá para fazer com IA. Acho que não vai tirar postos de trabalho; a gente não vai formar mais gente para ficar perdendo tempo com a parte que a IA pode fazer. A gente vai formar gente para a parte nova, entendeu? Então eu acho que é um processo de adaptação. A gente entrou na pandemia e as pessoas sequer faziam teleconferência em Skype. Você se lembra disso, quase ninguém usava. Para a comunicação direta, era difícil. De repente, todo mundo faz videoconferência. Passou a ser uma prática. Esse é o primeiro ponto. Se eu for lembrar daquela época: eu ia São Paulo, eu tinha que agendar horário e o cara dizia “Vem aqui que eu quero te conhecer, tomar um café e tal…”. Ninguém fazia o primeiro contato sem ser presencial até para saber quem é a pessoa. Hoje, todo mundo quer fazer primeiro virtual, para depois o presencial. E o modelo de plataformas? Tem uma plataforma Y com comida, na plataforma Z tem outra e vem tudo na minha mão na mesma hora.

A pandemia construiu impérios e destruiu outros. E aí você vem com a IA. O que mudou?

Agora tem um volume maior de informações. Outro exemplo: ôpa, agora se consegue ler quase que um livro inteiro e faz para mim um resumo do que existe. Isso era impossível antes, então a IA trouxe para gente uma capacidade de alavancagem rápida com uma ferramenta simples. Hoje isso aqui pode ser usado para fazer vídeo, pode ser usado para criar uma imagem nova, para me dar um resumo, para dar uma receita que ninguém tenha usado e que é um somatório de várias outras receitas. Então, começaram a ver várias aplicações, inclusive voltadas para a produtividade. É um processo de adaptação. Eu acho que a gente ainda está vivendo essa fase de transição pela velocidade de como ela apareceu, mas é como à época da internet: não é mais se sim ou não, é quando. Trago outro exemplo recente da Apple, que lançou o iPhone já com a IA embarcada. Se o cara usar o iPhone, está usando a IA em qualquer coisa. Então, esse tipo de coisa vai começar a aparecer.

Você já trabalha com a IA há muitos anos. O que diria para as empresas que estão desesperadas e até meio perdidas com relação ao uso dessas ferramentas e adaptações aos seus respectivos negócios?

Primeiro, vamos começar falando dos profissionais. Há um mercado absurdo porque, do mesmo jeito que apareceu para quem programa, agora quem mexe com IA, passa a ser tijolo nessa história. Antigamente, as empresas tinham um cara de IA e agora todo mundo é IA, então o mercado está aberto de fato. Do ponto de vista da empresa, a gente vai passar por um momento que vai separar o joio do trigo; hoje vivemos em um ambiente turvo. Tem muita gente que faz, que usa terceiros e não sabe como aplicar. Tem que procurar empresas que consigam botar de pé realmente as aplicações em cima de necessidades específicas. E outra coisa: não existe um único tipo de Inteligência Artificial que resolva tudo isso, como eu disse. Existem vários tipos de tecnologias que são associadas com comportamento inteligente, aprendizado de máquina, reconhecimento de padrões baseado em visão computacional e redes neurais. Tudo isso é tecnologia inteligente e cada uma tem uma aplicação melhor em alguma coisa específica e somada a outra também. Quando você sabe montar esse LEGO da forma correta, você tem uma aplicação poderosa. E eu digo para você: 90% do mercado não trabalha dessa forma porque não tem essa janela de aprendizado. Dessa forma, obviamente, agora a gente vai passar por uma depuração. Você vai ficar com os que realmente são bons e os outros vão ser mais um no meio da multidão.

E como vocês chegaram a conquistar a Google?

Fomos mapeados pela Google. Eles estavam olhando empresas no Brasil, já têm acelerador deles e será a primeira vez que irão acelerar em cima de IA. Aí eles definiram dois grupos: empresas que são zeradas, novinhas, nunca fizeram nada, de empresas que já tinham passado pela primeira rodada de investimento e não tinha chegado numa série A. Nós nos enquadramos nesse último modelo. Interessante que a gente tem uma startup mais cascuda, de gente mais rodada, porque aqui não tem criança – e, às vezes, se confunde empresa nova com gente nova e não tem nada a ver. E a Google nos disse: vocês entendem que a gente está falando. Então, passa a ser um bate-bola. A gente já fez com eles algumas sessões de mentoria… é assim: eu estou fazendo isso desse jeito, você acha que é melhor assim ou assado? E aí é conversa é colaborativa, entendeu? Podemos ir trocando figurinha. Tem sido bem interessante.

Essa indicação foi uma surpresa para vocês?

Surpresa sim, porque foram só 10 a gente estava no meio dessas 10, mas, se você perguntar para a gente, “tem competência?”, respondo: sim. O grupo da gente é um grupo muito forte, nós temos aqui dois dos 30 principais pesquisadores de IA no Brasil, praticamente todas as publicações que existem como eu falei na área financeira… e esses dois são feras fortíssimas. Eu me lembro muito bem quando a gente trabalhava no centro financeiro com cheque bancario e a gente era conhecido como “aquele pessoal do Recife”.

A gente disputava espaço com o pessoal de fora. A gente ia para São Paulo, não existia empresa em São Paulo que fizesse o que a gente fazia. Não existia nenhuma empresa na América Latina fazendo o que a gente fazia. Então a gente ia fazer uma coisa única.

Você se incomodava ou se incomoda com essa referência ao “pessoal do Recife”?

Não. Eu já tive algumas situações do tipo mostrar alguma coisa para alguma empresa que nunca tinha visto a gente… “Ah, vocês são aqueles caras do Recife que o pessoal tá falando aí?” … Então, passamos a ser uma referência. Acho até legal o cara saber que aqui em Recife se faz esse tipo de coisa. O que podia ser do Paraná podia ser do Amazonas, mas era e é do Recife.

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