Otimização nas operações, maior cobertura nas transmissões e segurança dos atletas. Essas são apenas algumas das novidades que, graças a Inteligência Artificial, consagram as Olimpíadas de Paris como a mais tecnológica até os dias de hoje.
Difícil encontrar alguém que não tenha notado a força das Olimpíadas pela internet. Isso não é à toa. Pela primeira vez na história do Brasil, a competição está sendo transmitida na web.
“É a primeira vez na história que a transmissão não se restringe à televisão, ela não é mais o centro. Antigamente era restrito às TV abertas e fechadas, como a Globo e a Band. Tem o Chris Anderson que diz que quando a internet veio, habilitou-se uma “nova cauda” [teoria “The Long Tail”]. Então várias coisas que tinham modelo de negócio fechado, foram democratizadas”, explica Fernando Sales, cientista chefe do Observatório de Dados do Porto Digital e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Atualmente, um dos principais canais de transmissão esportivos do YouTube, a Cazé TV, conta com mais de 14,7 milhões de inscritos, se consagrando como o 18º canal esportivo com mais inscritos do mundo. Nos últimos cinco dias de Olimpíadas, a Cazé TV ganhou mais de 700 mil inscritos e somou mais de 120 milhões de visualizações. Para feitos como esse, o Comitê Olímpico Internacional (COI) garantiu que são mais de 2 mil especialistas trabalhando para que a edição seja “conectada, segura e digitalmente habilitada”.
“Você populariza e tira uma barreira que, pra quem não tinha acesso à TV fechada, ficava limitado ao que passava ao vivo ou o que a emissora fazia de cortes. Então automaticamente já amplia o leque de opções. Você pode escolher onde quer ver e essa é a primeira mudança de flexibilização”, aponta Fernando.
E para que as transmissões beirem a perfeição que a IA busca alcançar, a Alibaba Cloud provê ferramentas de transmissão baseadas em IA e Visão Computacional. Através do OBS Multi-Camera Replay Systems, são 17 sistemas em 14 arenas cobrindo 21 esportes. Com auxílio do OBS Olympic Video Player (OVP), fornece vídeos de alta qualidade ao público “sem desenvolvimento interno complexo”. E se o assunto é a “AI tracking” dos atletas, a tecnologia pode analisar dados como velocidade, força, movimentos e até mesmo o desempenho mental dos profissionais durante os treinos e jogos.
“Essas tecnologias aperfeiçoam essa experiência do replay em tempo real, que reconstrói. Tem essa plataforma de vídeo que todo mundo que está transmitindo consegue ter acesso aos dados e também que possui fazer o rastreamento dos atletas. Exemplo disso é quando o atleta na ginástica, no solo, faz um movimento e a imagem uma hora paralisa o fundo e pega vários flashes da atleta. Essas ferramentas permitem uma nova experiência tanto para quem está vendo conhecer um pouco mais, quanto para os próprios atletas conseguirem a partir disso pegar feedbacks”, exemplifica Fernando.
Do ponto de vista da jornada do atleta, foi criado um espaço físico e uma plataforma, a Athlete365 House, onde os profissionais têm acesso às notícias a respeito deles mesmos, conseguem acessar dados, ver quem está no pódio [Victory Selfie], acessar um momento final de transmissão on-line com a família [Athlete Moment], além de um sistema de IA para ficar rastreando os posts nas mídias sociais para identificar potenciais postagens agressivas para dar um feedback de como estão sendo abordados.
“Impossível não lembrar da crise de saúde mental que Simone Biles enfrentou nas Olimpíadas de Tokyo e não conseguiu competir. Se fizeram tantas críticas à atleta que é a maior delas na ginástica, imagina para os outros”, pondera o cientista.
Fernando também explica como a IA chegou para, literalmente, incluir os telespectadores – e agora, internautas: “A maior parte do público que está assistindo qualquer esporte é leigo – tem mais gente que não conhece do que conhece. Na ginástica, por exemplo, um duplo twist carpado: quem sabe o que é esse movimento? Quando ele acontece e tem esse tipo de olhar da tecnologia, você inclui, consegue explicar para quem está vendo. E vale também para quem é atleta e para quem está treinando. Permite que eles possam ver um desalinhamento ou coisa do tipo”, explica.
Mas se todo lado bom tem um lado ruim, Fernando explica que “nada é 100%”: “Por um lado você pode tornar o que é subjetivo mais objetivo, mas por outro lado por ser ruim por tirar a variabilidade do esporte tornando as ações menos humanas. A IA enquanto ferramenta para permitir a extração de dados de forma mais sistemática é boa. Para substituir a experiência humana, pode se que seja vista no futuro como algo negativo. O meu papel enquanto professor não é o mesmo que 30 anos atrás. Hoje eu preciso criar jornadas que favoreçam a aprendizagem do aluno. Quais são as experiências que vou proporcionar? Se o seu trabalho é uma coisa automática, isso vai acontecer. Mas como eu uso isso para proporcionar uma melhor jornada para minha audiência? Isso vai ser cada vez mais desfiador de proporcionar.”
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