Os lugares mais improváveis guardam memórias da pouco lembrada participação do Recife na Segunda Guerra Mundial.
Quando o Brasil entrou no conflito, em 1942, o Nordeste do Brasil virou uma região estratégica por ser a melhor ponte entre a América do Sul e a África. Natal (RN) era a cidade melhor posicionada e chegou a ser apelidada de ‘Trampolim da Vitória’.
O Recife, por sua vez, recebeu a Quarta Frota Americana pela boa posição e por ser uma das cidades mais importantes do país na época – a terceira mais populosa. Isso causou mudanças significativas em diversos locais da cidade.
O Ibura, que hoje é um bairro da periferia da Zona Sul, nessa época ainda era pouco habitado. Na década de 1920, aquela área recebeu um campo para pousos de aviões. O primeiro pouso foi realizado em 1927, sendo realizado pela companhia aérea francesa Latécoère.
A área escolhida do Ibura era perfeita para criação de um campo de aviação por ser plana e distante do Centro. Para se ter uma ideia, Boa Viagem ainda começava a se popularizar para veraneio nos anos 20.
O Campo do Ibura, como ficou conhecido, foi diretamente impactado pela entrada do Brasil na Guerra. Ele recebeu investimentos inéditos e se tornou o campo de pouso dos americanos, quando passou a ser chamado de “Ibura Field”.
Isso levou ao Ibura uma nova infraestrutura militar para atender as necessidades do conflito, como uma nova Torre de Controle. A área também ganhou um novo movimento com pousadas, espaços sociais e bares. Os militares ficavam hospedados em barracas em torno do campo.
O campo recebeu naves militares como a B-25, B-29 e outras aeronaves que estavam de passagem para a Europa, sobretudo para a Itália. Na foto abaixo, vemos um marujo ao lado da B-25.
A presença dos americanos também colocou o Recife em risco de ataques aéreos do Eixo, o que resultou em blecautes de noite. Assim, a cidade ficaria invisível aos olhos das aeronaves inimigas.
Após a Guerra, o Campo do Ibura continuou servindo à aviação comercial nacional e internacional. Pela demanda, precisou de reformas e foi cedido à Infraero para abrigar o Aeroporto dos Guararapes em 1958.
Outra parte do antigo campo de pouso continua sendo militar, com a Base Aérea do Recife, no Ibura, e o Terceiro Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta III), no Jordão. Embora a entrada do Aeroporto fique na Imbiribeira, suas terras permanecem como Ibura.
Principais fontes: Recife durante a 2ª Guerra Mundial (Tok de História) e Ibura Field: um campo de pouso durante a 2ª Guerra Mundial (Agência de Notícias das Favelas). Fotos da Fundaj, Tok de História, Revista Algo Mais e Recife de Antigamente.
Emannuel Bento é jornalista pela UFPE, com passagens pelo Diario de Pernambuco e Jornal do Commercio
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