Argumentador tarimbado, acostumado a grandes negócios, Edson Cedraz não demora muito para lançar uma pergunta que serve de sustentação para uma defesa antecipada da sua forma de trabalhar: “Você compraria o carro de um amigo seu ou de um inimigo?”, questiona o sócio-líder dos escritórios para negócios do Nordeste de uma das maiores empresas de consultoria empresarial do mundo, a Deloitte, para então ele próprio responder: “É muito mais fácil comprar de um amigo. Você tem confiança que a pessoa cuidou bem, que não fez besteira…É a mesma coisa com qualquer negócio – quanto mais relação de confiança você tem com a pessoa, mais fácil é fazer negócios”, diz. Vir para Pernambuco, fincar raízes há mais de duas décadas e defender novos investimentos da Deloitte na Região Nordeste partem dessa premissa: “Estar na região provoca essa relação de confiança”. Algo que, segundo ele, é conquistado com relacionamentos e um engajamento com a sociedade.
Cedraz parece gostar do sotaque nordestino, no sentido figurado, e da bagagem cultural que leva consigo com orgulho para uma mesa de negociação. O sotaque dele é mais um jeito de fazer negócios, calcado na confiança de quem está comprando os serviços da Deloitte – empresa especializada em auditoria, consultorias empresarial e tributária, que atende a cinco unidades de negócio (Consultorias Empresarial e Tributária, Risk Advisory, Financial Advisory, a tradicional prática de Auditoria e serviços de tecnologia) e tem como alicerce exatamente a confiança. “É uma questão do subconsciente”, reforça Edson Cedraz, que ganha destaque na edição de hoje como parte da série do Jornal Digital “Lideranças Tech”, que enfoca empreendedores e dirigentes que são inspiração dentro do ecossistema do Porto Digital.
“Tenho me dedicado a atender o cliente local, as empresas daqui da região, com DNA nordestino. E, se tem DNA nordestino, eu vou com sotaque nordestino, vou atender e mostrar como funciona porque eu conheço a cultura, tenho presença física, eu posso tomar um café da manhã com o empresário ou almoçar com ele. Não preciso pegar o avião para atender cada um”, frisa Edson Cedraz, um baiano que mora em Pernambuco e, por vezes, é cearense, paraibano, potiguar ou de qualquer outro estado da região. “Conhecemos as dores desse cliente do Nordeste, e a gente sabe que a região tem uma série de dores muito diferentes. Nós temos dificuldades maiores, como a infraestrutura e a formação de mão de obra”.
Cedraz lida com números de grande monta, mas há uma curiosidade que chama a atenção quando se conversa com ele: gosta de enfatizar que os negócios feitos com números nem sempre partem de um raciocínio cartesiano. “Há um conceito conhecido na economia que trata da importância da psicologia nas decisões econômicas. Diz ele que a gente acha que as decisões econômicas são só motivadas pelo lado racional, mas, não. Elas têm no fundo um pouco também de emocional”, assegura. É uma premissa que tem muito a ver com a história que nos conduz pela chegada da Deloitte Touche Tohmatsu Limited no Recife, há mais de um século, e a recente expansão do centro da empresa no coração da cidade, no bairro do Recife Antigo, como parte do ecossistema do Porto Digital – o maior centro de inovação a céu aberto da América Latina.
Segundo o líder para a Região Nordeste, foram também as questões emocionais (e não só econômicas ou as oportunidades) que motivaram a Deloitte a investir no Recife. Desde o dia 19 de janeiro de 2024, a empresa abriu as portas do seu novo espaço na cidade, um escritório que abriga o segundo Centro de Tecnologia da Deloitte no país, situado no prédio do empresarial Moinho do Recife, na avenida Alfredo Lisboa, no Recife Antigo. O primeiro hub tecnológico da Deloitte está localizado em Campinas (SP).
Cedraz cita alguns fatores motivadores para a transferência e expansão de sede, e um deles parece ter distinção. “A identidade da Deloitte com a Região Nordeste, e especificamente com o Recife”. O Recife recebeu uma das primeiras unidades da Deloitte no Brasil, há 107 anos atrás. Na verdade, a segunda; a primeira foi no Rio de Janeiro. “Desembarcamos aqui no centro do Recife e consideramos emblemático poder voltar para as nossas origens”. E é do Recife Antigo que ele tece teorias e de onde põe em prática com a sua equipe as diretrizes que vêm alavancando a Deloitte no Nordeste. Para se ter uma ideia do crescimento a Deloitte triplicou de tamanho após a pandemia. “Essa relação envolve o olho no olho com o nosso cliente. E a gente tem, sim, esse olho no olho como um diferencial”, destaca.
Desenvolvimento da região
Entrelaçado à identidade está o “compromisso com o desenvolvimento da região” e da capital pernambucana. Nesse caso, adianta, sendo a Deloitte uma empresa de serviços profissionais dedicada a ofertar serviços prioritariamente para o empresariado local. “A gente quis retribuir para Recife e para a Região Nordeste tudo que conseguimos construir”, afirma.
Além da identidade cultural e compromisso desenvolvimentista, há outras questões importantes a serem destacadas de forma prática e que fazem do Recife o melhor lugar nesse momento. A Deloitte, explica, quer se conectar de forma mais intensa com o ecossistema do Porto Digital, com as iniciativas nele geradas e aproveitar a força de trabalho e capacidade produtiva de Pernambuco. “A gente não vai sobreviver fazendo o que a gente fazia há 100 anos. O mundo está bem diferente. Para você ter uma ideia, hoje, metade da receita da Deloitte no Brasil vem de soluções que não existiam há cinco anos. Então, o motivo número um [para instalar a nova sede no Porto Digital] foi nos conectar com o ecossistema para aproveitar toda essa energia, oxigenar e continuar oxigenada”.
Em paralelo, Edson Cedraz afirma que, entre outras estratégias, a empresa quer construir centros de entrega ou Delivery Centers para fazer o atendimento de demandas de fora aproveitando ao máximo o que a região tem: “Por exemplo, podemos operar todo o processo de compras e de suprimentos de uma empresa, utilizando tecnologia para melhorar esses processos e entregar uma logística eficiente. Podemos operar o processo financeiro de ponta a ponta para o cliente”. Dentro dessa meta, Cedraz e equipe pensam em operar aproveitando o que o Porto Digital tem de oferta de mão de obra, com o acesso ao grande centro de excelência de formação de pessoas e de tecnologia que o estado tem, contratando profissionais, operando processos e contratando profissionais de todas as formações. O que, salienta, não se restringe à área de tecnologia.
Ele evita revelações numéricas sobre contratações, mas deixa entender que o número a ser abarcado pela Deloitte é bem superior àquele previsto inicialmente (50 pessoas), quando começou a tratar da mudança da Deloitte da Zona Sul do Recife para o território onde está instalada agora, o Porto Digital, o histórico Bairro do Recife. A unidade deve atender às demandas nacional e internacional da Deloitte. Hoje, com base nos seus mais de 175 anos de história, fornece serviços de auditoria e asseguração, consultoria tributária, consultoria empresarial, assessoria financeira e consultoria em gestão de riscos para quase 90% das organizações da lista da Fortune Global 500®.
Cedraz, empreendedor nato
Se fosse recomeçar, o líder dos negócios da Deloitte no Nordeste, Edson Cedraz, diz que faria exatamente o mesmo caminho percorrido há mais de duas décadas, quando trocou a posição de empreendedor na sua própria empresa na área de tecnologia no final da década de 90, um momento de expansão da internet, por uma vaga na Deloitte. Ele é formado em Administração. Graduou-se na Bahia, sua terra natal. Depois, voltou-se para tecnologia e finanças. Estava buscando o próprio caminho.
Começou na Deloitte com um Trainee, logo após se formar na Universidade Católica de Salvador, nas áreas de Administração e Tecnologia. Naquela ocasião, recebeu o primeiro convite para atuar na consultoria voltada para a gestão de riscos – que era uma área de afinidade dele. Chegou ao Recife com o objetivo de formar um time e voltar para Salvador. “A Deloitte tem um modelo diferente, porque não somos uma empresa familiar. Não somos uma Corporação de capital aberto. Nosso modelo nos permite criar espaço de crescimento para profissionais que se engajam, independente do seu sobrenome ou classe social, e podem se tornar sócias e sócios da firma”, conta. E esse foi um dos diferenciais que o atraiu: “Um empreendedor dificilmente sai do seu negócio para ser funcionário, mas eu não saí do meu negócio para ser funcionário. Eu saí do meu negócio e entrei em outro negócio que eu sabia que podia ser dono também”.
Hoje, a Região Nordeste conta com mais de 200 clientes ativos e com mais de 500 profissionais atuando nos escritórios da Deloitte do Recife, Salvador e Fortaleza, além de atender players com atuação nos mais diversos setores da economia e ofertar todas as soluções do portfólio da organização.
Residente em Pernambuco há duas décadas, Cedraz lembra que chegou ao estado no início da década de 2000, em meio a um momento econômico virtuoso. “São ciclos e eu dei a sorte de vir para cá em um momento bom. Dei a sorte de ter um mercado bastante promissor”. Mas não foi só sorte.
Depois de cinco anos na empresa, ainda na casa dos 20 anos, começou a participar dos processos de transição de alguns titulares. Virou sócio da Deloitte aos 34 anos, em 2013. Cedraz é líder da Região Nordeste da Deloitte. Hoje, Edson Cedraz, além de sócio, é o líder dos negócios no Nordeste. A Deloitte conta com cerca de 500 profissionais, sendo cerca de 400 no estado de Pernambuco. Ele já treinou dezenas de pessoas, muitas iniciantes, de primeiro emprego; e algumas delas já ocupam cargos de lideranças, seguindo o fluxo natural de renovação da empresa.
Futuro do Porto Digital
Edson Cedraz diz que a companhia se preocupa com as condições socioeconômicas da nossa região, mas acredita que esta é uma realidade que vai mudar. E a Deloitte fará parte, com destaque, da “mudança”, estando ao lado de outros clientes. “Acho que daqui a 10 anos nós vamos ter um Porto Digital ainda mais forte do que é. Nós vamos ter uma região com uma série de oportunidades, principalmente pelas melhorias de infraestrutura que eu espero que venham, e, principalmente, com a chegada de novos empresários, mais confiantes para investir. É isso que a gente precisa”. Conta ele que, com frequência, há quem pergunte: ‘O que você foi fazer aí?’”. Diante do questionamento, responde: “Temos uma história bonita para contar”. Para Cedraz, esta história e a aposta da Deloitte no mercado local podem ser determinantes para “contagiar novos empresários” a se instalarem no Recife Antigo, compondo o ecossistema do Porto Digital.
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