A Procenge, uma das empresas mais antigas do Porto Digital, com 52 anos de trajetória, teve participação efetiva no primeiro resultado eleitoral com processamento eletrônico de dados do Nordeste. O episódio ocorreu em Alagoas, nas eleições de 1986, sendo fundamental para o desenvolvimento do modelo do nosso atual modelo de votação.

A urna eletrônica como se conhece hoje foi desenvolvida em 1995 e utilizada pela primeira vez nas eleições municipais do ano seguinte. Contudo, em 1985 já houve a implantação de um cadastro eleitoral informatizado pelo Tribunal Superior Eleitoral.

Título de notícia no Jornal das Eleições, da Processa, de 1986

Em 1986, quatro estados brasileiros foram escolhidos para terem seus resultados com serviços de processamento de dados. Os demais foram Paraíba, Goiás e Paraná.

Em Alagoas, quem venceu o edital da licitação foi a Processa Sistema de Dados, empresa pioneira de serviços de informática no Estado, criada em 1974. O seu controle foi adquirido pela Procenge S.A, sediada no Recife, em 1981.

No ano da eleição, a Procenge havia se tornado a maior empresa de serviços de informática de Pernambuco, segundo levantamento da revista Dados e Ideias com as 150 maiores empresas do setor no País.

Notícia do Diario de Pernambuco relata destaque da Procenge (Crédito: Biblioteca Nacional)

Como foi a apuração?

O processo de apuração foi acompanhado de perto pelo então diretor da empresa recifense, José Cláudio de Oliveira. “O método do voto em Alagoas foi o mesmo do resto do Brasil. Não tinha nada eletrônico, era só papel”, relembra o empresário, atual CEO da Procenge.

“O resultado de cada urna era transportado para um mapa, que tinha colunas para governadores e deputados. Existia uma pessoa responsável por esse mapa, em um método chamado “mapismo”. Porém, havia uma manipulação muito grande, pois existia uma facilidade para que se alterasse os resultados desse mapa antes dele chegar no Tribunal Regional Eleitoral”.

Um exemplar da cédula de votação das eleições municipais de São Paulo, de 1988

A Procenge desenvolveu um sistema para contabilizar os votos, sendo o primeiro passo para a digitalização: “Recebemos os mapas no TRE digitamos o resultado em computadores. Esses números eram enviados para um computador central, que ficava no Recife, e rodava o programa da totalização.”

O processamento contou com 12 microcomputadores, sendo 10 destinados à digitação e fechamento de dados e dois conectados via Embratel ao computador central Burroughs B-6900, instalado na sede da Procenge. Haviam quatro impressoras para a emissão de crítica das urnas processadas e relatórios.

Uma curiosidade: os computadores utilizados eram da marca Corisco, 100% pernambucana e criada pela Elógica, empresa de José Belarmino Alcoforado, o idealizador do Vale da Areia no Recife nos anos 1980.

Corisco, computador 100% pernambucano

“A criação desse sistema desestimulou uma série de tentativas de fraudes que se faziam, pois os fraudadores não entendiam bem como era o processo do computador”, ressalta Cláudio.

Além de computar os resultados de 3150 urnas, a Processa ficou responsável por elaborar manuais audiovisuais para orientar todo o pessoal das Juntas Eleitorais e da Comissão Apuradora.

Apuração em tempo recorde

Ezequiel de Andrade, diretor da Processa, acompanha o trabalho dos operadores (Crédito: Jornal das Eleições)

Mais de 60 técnicos, a maioria funcionários da própria Processa, trabalharam ininterruptamente durante oito dias. A Procenge esperava totalizar 3154 urnas num prazo máximo de 48 horas. 

Porém, abertas as urnas no domingo (16/10/1986), apenas 11 seguiram para processamento. Na segunda-feira, foram digitadas outras 74. Apenas a partir da terça-feira, dia 18, é que as remessas de boletins de urnas foram mais constantes. Mesmo assim, a divulgação foi a mais rápida da história alagoana.

Processo de apuração sendo realizado pela Processa (Crédito: Jornal das Eleições)

“No processo tradicional, feito à mão, era extremamente mais lento, envolvendo uma grande equipe, com grande dificuldade de fechamento, o que fazia os trabalhos estenderam-se, normalmente, até meados de dezembro”, disse, na época, o diretor geral do TRE-AL, Zoroastro Bezerra de Barros.

“Foi um avanço significativo na época, pois mostramos para a Justiça Eleitoral que o sistema eletrônico poderia ser um grande auxiliar, dando mais segurança e celeridade ao processo”, diz José Cláudio.

José Claudio, CEO da Procenge

O resultado de Alagoas em 1986 elegeu Fernando Collor de Melo, futuro presidente do Brasil, como governador. Após essa experiência, a Procenge voltou a prestar serviços em eleições municipais, a exemplo de Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife.

Pioneirismo

Nos anos 1990, a Procenge também desenvolveu as primeiras versões do sistema brasileiro de pagamentos, que hoje é conhecido como TED – que por sua vez foi um passo importante para que hoje termos o Pix.

Na mesma década, foi desenvolvido o ERP, um sistema integrado de gestão empresarial que recebeu o nome comercial de “Pirâmide”. Hoje esse é o principal serviço da empresa, com mais de 300 clientes e 4 mil usuários.

A Procenge foi uma das empresas que deu apoio financeiro para a criação da CESAR School – tendo por muitos anos uma cadeira no conselho da instituição. 

No final dos anos 1990, a empresa antecipa a ideia do Porto Digital de ocupar o Bairro do Recife, abrindo sede na Avenida Marquês de Olinda.

Em 2000, embarca no então novo parque tecnológico. Atualmente continua no bairro, mas num prédio da Avenida Rio Branco, oferecendo soluções estratégicas em tecnologia para gestão em diversas áreas.

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