Tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1998, o prédio que atualmente abriga o museu Paço do Frevo, na Praça do Arsenal, Bairro do Recife, carrega uma história ligada à inovação das comunicações no mundo. Era nele que funcionava a Western Telegraph Company Limited, empresa inglesa que por muito tempo operou os telégrafos no Brasil.
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Esse tipo de tecnologia surgiu na metade do século 19, com equipamentos que utilizavam energia elétrica para enviar pulsos que eram interpretados por códigos que correspondiam a letras do alfabeto. A junção desses códigos formava mensagens.
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O telégrafo foi introduzido no Brasil em 1852, no Rio de Janeiro. Com a percepção de que essa invenção poderia aproximar forças políticas, promovendo uma integração nacional, o imperador Dom Pedro II decidiu construir uma linha telegráfica da capital federal até Pernambuco em 1873.
Foi o inglês John Pender, um magnata desse setor, quem recebeu as concessões para operar linhas telegráficas com as empresas Western and Brazilian Telegraph Company (WBTC) e Brazilian Submarine Telegraph Company (BSTC), que mais tarde se fundiram na Western Telegraph Company.
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A WBTC instalou primeiro um cabo que ligava Belém (PA) ao Recife, seguindo para o Rio de Janeiro. O curioso é que essas linhas telegráficas funcionavam através de cabos submarinos. Imagine navios cortando o Atlântico enquanto “assentam” cabos no mar: era exatamente esse o trabalho feito pelas empresas da época, em pleno século 19.
A construção da linha Pará-Pernambuco-Rio de Janeiro usou o vapor inglês Hooper, que transportou e instalou o cabo em todo o litoral do Nordeste, sendo o primeiro navio construído especialmente para essa finalidade. A inauguração do serviço telegráfico submarino foi recebida com muito entusiasmo pela sociedade, chegando a ocasionar uma festa na Associação Comercial Beneficente de Pernambuco.
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Em 1874, o Brasil iria receber as primeiras linhas telegráficas internacionais com cabos submarinos transatlânticos. A primeira a ficar pronta foi a que ligou o Brasil à Europa através de uma rota que partia do Recife para Cabo Verde, Madeira e Lisboa. Isso mudou radicalmente a velocidade com que o País recebia notícias da Europa. E lá estava o Recife, cumprindo o seu papel de protagonismo regional econômico e tecnológico.
O primeiro prédio da Western Telegraph Company na capital funcionava no antigo Cais da Lingueta, área bastante importante do Bairro do Recife que atualmente corresponde à Praça do Marco Zero. Lá ficavam sedes de grandes empresas e estabelecimentos bancários.
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Em 1908, fica pronto o novo prédio da Western Telegraph na Praça Arthur Oscar (ou Praça do Arsenal). O edifício de quatro pavimentos e arquitetura eclética tinha um piso marchetado com madeira nobre do Pará, dourada e marrom, com grandes mesas e escrivaninhas dos escritórios também feitas de requintada madeira brasileira. Todo o edifício era praticamente à prova de fogo, com teto de amianto e paredes de cimento, aço e tijolo.
A disposição dos novos escritórios foi cuidadosamente estudada para obter o máximo de eficiência; existiam tubos pneumáticos para transportar mensagens dos balcões públicos para a sala de instrumentos. Numa outra sala, os meninos mensageiros recifenses se sentavam esperando para levar telegramas sobre a cidade.
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Assim registrou a “The Pan American Magazine”, em maio de 1915:
“A sala dos eletricistas está além da minha compreensão, mas admiro de todo o coração a magnífica sala de aparelhos no topo do prédio”.
“Em outra sala existe um armário de aparência inofensiva, mas cheio de fios que estão amontoados com mensagens silenciosas de todo o mundo passando por eles. A sala onde as baterias são guardadas – o verdadeiro sangue dos cabos – surpreende em sua modéstia; não parece possível que esses poucos frascos de aparência discreta sejam realmente os pais de tanta atividade, uma atividade que leva mensagens do outro lado do mundo.”
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Em 1915, sete cabos pertencentes à Western saiam do Recife pela costa brasileira e mais ao Sul, com um deles chegando até Buenos Aires, na Argentina. O total de funcionários da empresa no Recife era de cerca de cem, dos quais mais de quarenta eram europeus e o restante brasileiros.
A Western do Recife atravessou boa parte do século recebendo mensagens de todo o globo, até parar de funcionar em 1973, quando completou seu centenário. O motivo foi a não renovação da concessão pela Embratel, que tutelava todos os serviços de telecomunicações do Brasil. A Western permaneceu no Brasil através de suas empresas: a Wesstec (de engenharia de sistemas) e Ecodata (comercialização de produtos eletrônicos).
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A Western Telegraph foi um dos serviços operados pelos ingleses no Estado junto com a Great Western of Brazil Railway Company (empresa que construiu a primeira linha férrera do Nordeste), a Pernambuco Tramways (bondes elétricos) e a Telephone Company of Pernambuco, além das instituições bancárias Bank of London & South America e London & River Plate Bank.
O belo prédio eclético, que por anos foi vitrine de tanta inovação, passou três décadas abandonado, até ser restaurado para abrigar o Paço do Frevo em 2014. O museu é um espaço de ações de difusão, pesquisa e formação nas áreas da dança e da música do frevo, um patrimônio imaterial pela UNESCO.
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Emannuel Bento é jornalista pela UFPE, com passagens pelo Diario de Pernambuco e Jornal do Commercio
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