O Bairro do Recife, hoje um reduto turístico e cultural com forte presença do setor tecnológico, se desenvolveu em função do comércio ao longo de toda a sua história. Toda a produção açucareira da capital “escoava” através do seu porto, criando a necessidade de proteção e segurança. Assim surgem as primeiras fortificações da cidade, então um pequeno povoado.
Prova da necessidade de proteção foi uma invasão de ingleses liderada pelo almirante James Lancaster, em 1595, que roubou um grande montante de açúcar, pau-brasil e algodão, entre outras mercadorias.
De acordo com Antonio Fausto de Souza, foi justamente numa trincheira portuguesa tomada por Lancaster que foi construída, meses depois, uma fortificação chamada Forte de São Jorge. Essa construção ficava ao norte do atual Bairro do Recife, embora existam divergências sobre o seu destino.
Já na faixa de terra que fica em frente ao bairro, bem próximo das atuais imediações do Porto do Recife, ficava o Forte de São Francisco, também muito conhecido como “Forte do Picão” – apelido que surgiu por conta de pedras perigosas para embarcações, que “picavam” os cascos dos navios.
O Forte do Picão foi construído por volta de 1612, às custas dos moradores e do senhor da terra, para defender a barra e o porto de piratas e corsários. Esse Forte combateu bravamente uma outra invasão: a dos holandeses, em 1630. Esses iriam aumentar ainda mais o número de fortificações no Recife.
Por muitos anos, o Forte do Picão era a primeira construção a ser avistada pelos viajantes que chegavam pelo mar. Não por acaso, ele está imortalizado nos brasões do Estado de Pernambuco e da Cidade do Recife. Apesar de sua importância, foi demolido em 1910, durante as obras de modernização do porto do Recife para a passagem da muralha levantada sobre os recifes.
Bem ao lado esquerdo do Forte do Picão, já na ilha do Bairro do Recife, foi erguida um outra fortificação que conseguiu chegar aos nossos dias: o Forte do Brum. Quando os holandeses chegaram em Pernambuco, em 1630, os portugueses estavam construindo o Forte Diogo Paes, que deu lugar a essa nova fortificação que faz menção ao nome de Johan Bruyne, integrante do Conselho de Comissários que governou o Brasil holandês.
O Forte do Brum, embora totalmente reformado, é uma das poucas construções do tempo dos flamengos ainda em pé. Tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), ele abriga, desde 1987, o Museu Militar.
Dando continuidade à “viagem”, indo ainda mais para o norte, entre o Recife e Olinda, ficava o Forte do Buraco, ou Forte de Madame Bruyne. Antonio Fausto de Souza afirma que essa estrutura era uma guarita portuguesa até a chegada dos holandeses, que ergueram um reduto de campanha para a defesa avançada do norte do Recife de Olinda.
Essa construção foi denominada como Forte Madame Bruyne em homenagem à esposa de Johan Bruyne, o mesmo conselheiro citado no Forte do Brum.
Apesar de eventuais reparos, esse forte se encontrava em estado precário de conservação já no final do século 19, sendo demolido nos anos 1950 pela Marinha do Brasil para a construção da Base do 3º Distrito Naval, embora a obra nunca tenha sido realizada.
Sobre o Forte Madame Bruyne, Gilberto Freyre registrou, em 1980: “Infelizmente as ruínas da Fortaleza do Buraco já tiveram sua bem executada sentença de morte. Delas resta apenas uma como lápide melancólica dizendo: ‘Aqui foi a Fortaleza do Buraco’. Foram essas ruínas sacrificadas às obras de expansão da Base Naval do Recife. Sacrifício parece que desnecessário. Inútil. Lastimável.”
Ainda no Bairro do Recife, os autores citam a existência do Forte do Quebra Pratos, que próximo ao lado do antigo Arco do Bom Jesus, na atual Rua do Bom Jesus. Outra obra dos holandeses, ele tinha esse nome por se encontrar próximo a várias residências e quando suas baterias eram acionadas, o estampido das detonações quebravam os vidros das janelas das casas vizinhas, assim como várias peças de louças.
Já o Forte do Matos, do século 17, ficava na parte sul do Bairro, levando esse nome por seu construtor Antônio Fernandes de “Matos”. Foi chamado de Forte de São Frei Pedro Gonçalves, por se localizar próximo à igreja de São Frei Pedro Gonçalves, depois Matriz do Corpo Santo. Foi demolido já no século 19.
O Farol do Barra, também ligado à segurança do porto, começou a ser construído em 1819, no governo de Luiz do Rego Barreto. O atual farol, no entanto, não corresponde ao original, que também foi demolido por ocasião da reforma portuária (1910-23). Ele foi reconstruído nos arrecifes artificiais.
Embora fora das imediações do Bairro do Recife, cabe uma menção ao Forte das Cinco Pontas, em São José, erguido pelos holandeses a partir de 1630 como “Forte Frederich Hendrick” com o objetivo de preservar para si as águas das cacimbas ali existentes.
Os invasores tinham necessidade de água potável uma vez que, limitados à Península do Recife e à Ilha de Santo Antônio, podiam dispor apenas de água salgada. Isso motivou a construção desse forte, que passou a ter apenas quatro pontas em 1684. Desde 1982, é a sede do Museu da Cidade do Recife, que possui em seu acervo mapas originais, réplicas de projetos holandeses, portugueses e ingleses sobre o traçado do sistema de drenagem e das primeiras edificações do Recife.
Emannuel Bento é jornalista pela UFPE, com passagens pelo Diario de Pernambuco e Jornal do Commercio
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