De estagiário a analista, então vira coordenador, gerente e, finalmente, executivo. Começar júnior, virar pleno e, depois, sênior. Para muita gente, o caminho profissional é uma linha reta, uma escada onde cada degrau deve ser vencido na sua vez. Mas já existem outras pessoas que encaram a carreira mais como uma pista de skate: com rampas, corrimãos, saltos, trilhos e, às vezes, paredes. Se move para cima e para baixo, mas também pelos lados e com direito a manobras radicais no meio.

As mudanças no mercado de trabalho e nas expectativas dos profissionais têm levado muitas pessoas a buscar trilhas de carreira não lineares. Ou seja, que não seguem um padrão preestabelecido ou uma progressão linear de cargos, funções e salários. Essas trilhas podem envolver mudanças de área, de setor, de função ou de nível hierárquico, dependendo dos interesses, habilidades e oportunidades de cada um.

Trilhas de carreira não lineares podem trazer benefícios como maior satisfação, aprendizado contínuo, diversidade de experiências e adaptação às demandas do mercado. No entanto, elas também exigem planejamento, flexibilidade, resiliência e disposição para enfrentar desafios e incertezas. Ao mesmo tempo que permitem explorar diferentes áreas, habilidades e interesses – sem se prender a uma única empresa ou setor – elas valorizam a diversidade, a criatividade e a adaptação.

Carreiras não lineares podem trazer satisfação com aprendizado contínuo e diversidade de experiências, mas também exigem planejamento, flexibilidade e disposição para enfrentar desafios – Foto: Brasil com S

Muito provavelmente você não sabe disso, mas o Brasil conta com o recorde do funcionário mais antigo do mundo. No ano passado (2022 para os viajantes no tempo), Walter Orthmann completou 100 anos de vida e há 84 ele trabalha como vendedor em uma empresa de tecidos de Brusque (SC). Reconhecido pelo Guinness Book, “seu” Walter foi contratado em 17 de janeiro de 1938, aos 15 anos. Não precisamos ir ao extremo, mas você provavelmente deve lembrar de algum parente ou conhecido mais velho que dedicou décadas à mesma empresa ou cargo. Isso está cada vez mais raro.

Seu Walter foi contratado em 1938 e segue na mesma empresa, em Brusque (SC) – Foto: Patrick Rodrigues/NSC

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma em cada seis pessoas terá 60 anos ou mais até 2030. Coloque mais 20 anos nessa conta e o número deve dobrar. Como explica a fundadora do Corporate Escape Artist, Caroline Castrillon, em um artigo para a Forbes, com as pessoas vivendo mais, a carreira tradicional de 40 anos lentamente se tornará uma coisa do passado. “Em vez disso, a carreira de 60 anos é muito mais provável. Mas para que as pessoas permaneçam na força de trabalho por tanto tempo, elas precisarão encontrar papéis satisfatórios para não se esgotarem. Muito poucos vão querer permanecer no mesmo emprego por 60 anos”. Não irão querer ou mesmo conseguir.

Com as pessoas vivendo mais, trabalhar 40 anos se tornará algo do passado – Foto: Heudes Regis/MPT

Só para citar o setor de Tecnologia (nosso foco aqui sempre), por questões de queda nos lucros e aumento das despesas, 736 empresas demitiram mais de 200 mil funcionários até maio deste ano. Em 2022, foram 164.709 funcionários demitidos em 1.057 companhias tech. Isso depois de contratar muito durante a pandemia de Covid-19, entre 2020 e 2021, um período que também serviu para trazer mudanças significativas no mundo do trabalho, principalmente na forma como as pessoas valorizam aspectos fora do trabalho, como a saúde, a família, o lazer e o consumo.

Renato Mota é jornalista, e cobre o setor de Tecnologia há mais de 15 anos. Já trabalhou nas redações do Jornal do Commercio, CanalTech, Olhar Digital e The BRIEF

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