O Recife tem um longo histórico de pioneirismo quando tratamos de veículos de comunicação. Desde 1908, um jornal fundado na cidade carrega o título de “mais antigo em funcionamento na América Latina” (Diario de Pernambuco). Também aqui foi fundado o primeiro veículo de radiodifusão do Brasil, em 1919, pelo Amadores de Telegrafia Sem Fio (TSF): a Rádio Clube.
Não seria diferente com a televisão, meio que revolucionou o consumo das informações, os costumes e a cultura de massa na metade do século passado. Nessa época, a capital já irradiava a inovação.
Pernambuco teve as primeiras emissoras de TV do Norte-Nordeste do Brasil, inauguradas em junho de 1960: a TV Rádio-Clube e a TV Jornal do Commercio. Também teve a primeira emissora educativa do Brasil, embrião público da nossa comunicação pública: a TV Universitária (1968).
Já nos anos 1970, a Globo chegou no Estado fazendo retransmissões para a Paraíba e para o Rio Grande do Norte com a Rede Globo Nordeste, reforçando o papel do Recife enquanto uma cidade regionalmente influente nas comunicações.
O COMEÇO
A TV chegou ao Brasil em 18 de setembro de 1950 com a TV Tupi paulista, de Assis Chateaubriand, sendo a primeira da América Latina e a quarta do mundo. O mesmo magnata seria responsável pela primeira transmissão de TV em Pernambuco, na ocasião do aniversário da Rádio Clube, em 1954.
Chateaubriand, que era dono do conglomerado de veículos Diários Associados, trouxe ao Estado um estúdio portátil da Tupi, instalado dentro do prédio do Diario de Pernambuco. Três televisores foram instalados na frente do edifício, atraindo uma multidão. As câmeras captaram Nelson Ferreira e sua orquestra, além de radioatores da cidade.
EMISSORAS
Chateaubriand anunciou que estava planejando a criação de uma televisão em Pernambuco em 1956. A TV Rádio-Clube só tomaria forma em 1959. No entanto, a estreia atrasou e uma outra emissora entrou na corrida para ser a primeira: A TV Jornal do Commercio.
As duas TVs iniciaram fases experimentais para treinar equipes e a TV Rádio-Clube conseguiu estrear 14 dias antes na “corrida”. A sua programação tinha o programa esportivo “Bola ao Centro”, o telejornal Diario de Pernambuco na TV e uma telenovela autoral chamada “O Ruído do Silêncio”, de Jorge José – que era como um teatro filmado.
A TV Jornal do Commercio, um empreendimento de F. Pessoa de Queiroz, era reconhecida por seus equipamentos de ponta e também se destacou por suas telenovelas, a exemplo de “A Moça do Sobrado Grande” (1967), também de Jorge José. Essa foi a primeira novela do Brasil a ter gravações externas e chegou a ser exibida nacionalmente pela TV Bandeirantes.
Outro programa de sucesso do começo da TV Jornal foi o Noite de Black-Tie, apresentado por Luiz Geraldo, o primeiro grande talk-show da TV pernambucana. Ele recebeu nomes como o presidente da República Juscelino Kubitschek, os cantores Roberto Carlos (antes da fama nacional) e Elis Regina, e o ator Grande Otelo.
No meio disso tudo, também nascia a TV Universitária, como órgão suplementar da UFPE que tinha a finalidade de ampliar os horizontes da informação, cultura e educação. O objetivo era educar cidadãos estudantes dos Centros de Educação, considerando que o analfabetismo atingia cerca de 50% da população. Essas foram as três emissoras dos anos 1960.
TV GLOBO
Nessa época, a TV Jornal do Commercio também transmitia atrações da Rede Globo, como Jornal Nacional, antes desta ter uma emissora própria no Estado. Roberto Marinho, inclusive, tentou comprar parte das ações da emissora local, que já possuía toda uma estrutura técnica pronta. O empresário F. Pessoa de Queiroz, no entanto, recusou a sociedade.
A Globo, então, adquiriu a concessão do canal 13 VHF, originalmente concedida em 1962 para os sócios da Rádio Relógio – que venderam tudo para as Organizações Victor Costa, cujo espólio foi adquirido pela Globo em 1965. A TV Globo Nordeste foi inaugurada em 22 de abril de 1972, sendo a sexta emissora própria da Rede Globo.
Seus estúdios foram construídos num dos pontos mais elevados da região, no alto do Morro do Peludo, em Olinda, enquanto o departamento de jornalismo e o setor comercial trabalhavam na capital, na Boa Vista.
Em comemoração, o programa Buzina do Chacrinha foi apresentado ao vivo no Ginásio de Esportes Geraldo Magalhães (Geraldão), na Imbiribeira.
Em 1978, um incêndio destruiu o acervo da TV Rádio-Clube. Em 1980, os Diários Associados sofriam uma forte crise e o governo de João Figueiredo decidiu cassar a concessão da rede Tupi. A TV Rádio-Clube, que tinha o melhor balanço dessa rede, também fechou as suas portas nessa época.
O Sistema Jornal do Commercio também sofreu uma grave crise nos anos 1980 e quase chegou a fechar suas portas, até que foi comprado pelo empresário João Carlos Paes Mendonça, então dono da rede de supermercados Bompreço e atual presidente do Grupo JCPM.
A atual TV Guararapes surgiu em 2000 e mudou de nome para TV Clube, voltando ao seu nome de origem em 2021. Já a TV Tribuna foi inaugurada em 1991. Todas elas passaram por mudanças tecnológicas, como a chegada da TV digital. Em tempos de mudanças na comunicação, seguem com o desafio de informar os pernambucanos.
Com a ampliação do perímetro do Porto Digital para além do Bairro do Recife, agregando parte dos bairros de São José, Santo Antônio e Santo Amaro, a TV Globo Pernambuco (nome adotado em 2021) tirou do papel o seu projeto de modernização.
A emissora embarcou no parque tecnológico e, a partir de 2018, suas atividades passaram a se concentrar em um novo prédio construído na esquina das ruas da Aurora e Capitão Lima, no bairro de Santo Amaro.
Emannuel Bento é jornalista pela UFPE, com passagens pelo Diario de Pernambuco e Jornal do Commercio
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