Você sabia que a história de uma das marcas mais famosas do mundo começou com uma transição de carreira? Em 1886, o farmacêutico John Stith Pemberton, da cidade de Atlanta, nos EUA, deixou de lado os medicamentos e produziu um xarope que poderia ser misturado com água gaseificada – e era vendido por cinco centavos o copo na Jacobs’ Pharmacy. O produto? A Coca-Cola.
Só faltou mais faro para negócios, já que rapidamente ele vendeu sua marca para diferentes sócios e morreu dois anos depois, sem ver o tremendo sucesso da sua criação. Mas Pemberton usou seus conhecimentos em química acumulados em farmacêutica num outro setor, o das bebidas, para criar um sabor novo que rapidamente popularizou-se.
Mudar de profissão já não era novidade em 1886, mas este fenômeno vem se acelerando mais, especialmente no cenário pós-pandemia de Covid-19. Segundo um levantamento feito pela plataforma Onlinecurriculo este ano, 82% dos profissionais com mais de 40 anos já cogitaram dar uma nova direção à carreira — o mesmo percentual se aplica aos jovens de 16 a 24 anos. Para 70% dos participantes, não há restrição de idade para a mudança ocorrer.
Uma pesquisa um pouco mais velha, o Work Trend Index de 2021, realizado pela Microsoft com pessoas de 31 países, mostrou que cerca de 40% dos entrevistados pensam em realizar uma transição de profissão nos próximos meses. Mais voltado para o Brasil, o relatório Re:Trabalho, de 2020, revelou que 63% dos profissionais brasileiros declararam que já mudaram de profissão e 48% pretendiam mudar nos próximos 12 meses. E talvez o mais interessante: 78% responderam que pretendem alinhar o trabalho a seus propósitos e interesses de vida, uma consequência direta da reavaliação das carreiras que geral fez enquanto estava de home office obrigatório entre 2020 e 2021.
Mas o que mudou mesmo de 1886 para cá (ou até beeem depois) é a direção para o qual as pessoas estão transicionando. Com o avanço acelerado da digitalização e a procura crescente por especialistas em tecnologia, muitas pessoas estão buscando trocar de área e ingressar no universo da programação e análise de dados – independente do seu background. E esse interesse não é à toa: além de apresentar uma demanda por mão de obra, o setor conta com uma boa média salarial mesmo para cargos de entrada.
A Brasscom tem esses dados: até o fim do ano passado, o Brasil tinha 159 mil vagas de trabalho em aberto, mas só formou 53 mil profissionais na área de tecnologia. Nos EUA, espera-se que o emprego geral em ocupações de informática e tecnologia da informação cresça 15% até 2031 – muito mais rápido do que a média de todas as ocupações. Por lá, serão 682 mil novos empregos ao longo da década, criando oportunidades a partir da necessidade de substituição de trabalhadores (avalia-se que pelo menos 418 mil vagas por ano venham de necessidades de crescimento e reposição).
Em relação ao pagamento, um estudo conduzido pela Land e pela Alura apontou que a média salarial do setor aumentou 29% em 2022, o que fez com que 78% dos trabalhadores de outras áreas das empresas começassem a pensar em migrar para TI.
E uma das vantagens de mudar de carreira para TI é o fato de que o setor possui diferentes segmentos dentro de si, com suas próprias previsões de crescimento e particularidades, podendo abraçar profissionais de diferentes perfis. São muito valorizadas habilidades de fora de “exatas”, como comunicação, liderança, trabalho em equipe e, claro, inovação.
Mesmo quem já está dentro do setor tech pode considerar algumas mudanças de carreira, como prevê o Relatório sobre o Futuro dos Empregos 2023, divulgado pelo Fórum Econômico Mundial. Segundo os analistas, até um quarto dos empregos atuais deve passar por transformações nos próximos cinco anos, com 69 milhões de novos empregos criados e 83 milhões eliminados – muito disso na conta da adoção de tecnologia e o aumento do acesso digital.
Ainda de acordo com o relatório, os empregos de crescimento mais rápido nos próximos anos serão aqueles relacionados à inteligência artificial, aprendizado de máquina, sustentabilidade, análise de inteligência de negócios e segurança da informação. Além disso, o relatório aponta que os setores com maior crescimento absoluto de empregos serão a educação, agricultura e comércio digital. Big data está no topo da lista de tecnologias que devem criar empregos, com 65% dos entrevistados da pesquisa esperando crescimento de empregos em funções relacionadas.
A demanda por profissionais qualificados nessas áreas reflete as mudanças nas necessidades da sociedade e da economia global. Por isso, a reskilling (que é a reciclagem profissional para recolocação em uma nova função) tornou-se uma necessidade urgente para acompanhar as transformações do mundo do trabalho. O Fórum Econômico Mundial aponta que o treinamento de funcionários para utilizar IA e big data será priorizado por 42% das empresas pesquisadas nos próximos cinco anos, ficando atrás do apenas pensamento analítico, com 48%, e do pensamento criativo, com 43%, em termos de importância.
Quer saber mais sobre transição de carreira para TI? O que é necessário e quais são os desafios? Que tal ouvir a história de quem já fez esse movimento e hoje está atuando no setor? O Cais, podcast do Porto Digital, fez um episódio sobre o assunto e ouviu Raissa Garifalakis, head de vendas digitais da Cesar School; Fernando Sales, pesquisador Sênior do NGPD e André Raboni, que fez a transição de carreira e hoje é tech lead da startup Di2win num bate-papo muito legal. Confira!
Renato Mota é jornalista, e cobre o setor de Tecnologia há mais de 15 anos. Já trabalhou nas redações do Jornal do Commercio, CanalTech, Olhar Digital e The BRIEF
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