IA no RH

O uso de inteligência artificial nos Recursos Humanos sempre gerou controvérsia. Afinal, a princípio, a tecnologia era usada na seleção e filtragem de currículos em processo de contratação, disposição de benefícios ou análise do envolvimento dos funcionários. E em muitos desses casos, foram apontados problemas em áreas como privacidade de dados e preconceito algorítmico, o que levou a uma necessidade maior de cautela ao implantar tecnologia no RH. Afinal, não podemos perder de vista o componente “Humano” desse setor.

Mas a IA generativa trouxe novas oportunidades para tornar os processos de RH – tanto do lado dos contratantes, como dos contratados. No primeiro semestre, por exemplo, o LinkedIn, a rede social voltada para o mercado corporativo, acelerou a incorporação de IA e de automação em vários aspectos, como a introdução de sugestões de escrita para currículos e descrições de cargos, utilizando o GPT-4 da OpenAI. 

IA no RH

A ideia é ajudar os usuários a tornar seus perfis na rede mais atraentes, bem como as descrições de trabalho, no lado das empresas. A ferramenta identifica as principais habilidades e experiências do candidato para destacá-las nas seções do perfil. Para os jobs, o recrutador fornece informações básicas e a ferramenta gera uma descrição sugerida para revisão e personalização. Isso simplifica o processo de contratação, permitindo mais foco em aspectos estratégicos.

Isso pode não parecer tão relevante para quem está do lado de lá do balcão, mas para os contratantes tem sido uma questão estratégica. De acordo com um relatório da ManpowerGroup, 80% dos empregadores brasileiros tiveram dificuldades em encontrar os talentos que precisavam. Essa impressão é corroborada no cenário global por outra pesquisa, a “Global human capital trends 2023”, da Deloitte, que apontou que 30% dos líderes empresariais e de RH ouvidos passaram pelo mesmo perrengue

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Por isso, uma mãozinha para formular as descrições das vagas pode ajudar a atrair talentos melhores – especialmente entre as novas gerações. “As pessoas querem saber que estão trabalhando em algum lugar agradável. Destacando o que você pode dar ao candidato, além do salário ou dos benefícios, coisas como oportunidade de crescimento, oportunidades de orientação ou mesmo apenas dando a eles uma prévia realista de como será o dia-a-dia desse trabalho são todas as boas ideias”, explica o CEO da Fetti, Sam Chen. A startup é especializada em unir candidatos a empregadores com base no ajuste pessoal. 

A Paylocity, uma outra startup norte-americana, mas voltada para RH e folha de pagamento, introduziu uma ferramenta de IA que auxilia na elaboração de descrições de cargos “compatíveis, imparciais e adaptadas a funções específicas”. Por meio de IA generativa, a plataforma cria rascunhos iniciais das descrições de cargos, concentrando-se em eliminar potenciais viés e garantir a equidade. A solução ainda inclui redação de mensagens internas, análise de pagamento de mercado e ferramentas de agendamento de autoatendimento.

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Esse movimento reflete uma tendência na tecnologia de RH para utilizar a IA para otimizar tarefas e aumentar a eficiência, mantendo a conformidade e a ética. Com essas ferramentas, aliadas aos poderosos bancos de dados de redes como o LinkedIn, é possível até identificar possíveis candidatos, que até possuem as habilidades certas, mas que podem não ter se inscrito. Chatbots ainda podem ser utilizados para atender os candidatos e responder a perguntas no decorrer da seleção. 

Esse processo, claro, não está livre dos seus desafios. Por mais desenvolvida que esteja em seu estado atual, a IA pode não entender os riscos legais de, por exemplo, ao ajustar os requisitos de uma vaga, remover a necessidade de um diploma universitário, ou determinar quais funções são essenciais ou não. Essa sintonia pode ser ainda mais crítica quando a função exige alguns requisitos físicos, algo que a máquina está longe de perceber em suas nuances. Da mesma forma, competências comportamentais que afetam o sucesso no trabalho devem ser, necessariamente, avaliadas por humanos.

Renato Mota é jornalista, e cobre o setor de Tecnologia há mais de 15 anos. Já trabalhou nas redações do Jornal do Commercio, CanalTech, Olhar Digital e The BRIEF

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