Para Eduardo Ribeiro, não basta crescer. É preciso levar consigo a comunidade, atender às expectativas de vizinhos como dona Suelen e inspirar outros garotos mais jovens para buscar caminhos com os quais antes nunca haviam pensado. “Eu sempre desejei e lutei por isso. Quando deram a oportunidade, eu pensei ‘poxa, eu consegui, eu cheguei, agora quero para a minha comunidade também”.  

No Pilar, o assunto vez por outra entrava na roda de conversas entre os amigos. “Debatíamos sobre o que a comunidade precisava. A gente sabia que precisava de emprego, mas também de uma qualificação não só para nível técnico como para nível superior. É muito bom estar presenciando isso agora”, avalia ele.

A melhoria das condições sociais da comunidade, processo que passa por educação e empregabilidade, é uma preocupação muito forte de Eduardo. E ver o Pilar Universitário se estendendo é uma alegria sobre a qual o jovem gosta de falar.

Os jovens Gustavo e Eduardo discutem como trazer mais oportunidades para outros moradores do Pilar – Crédito: PC Pereira

Primeiro, explica ele, o programa começou a captar interessados para as vagas entre pessoas na faixa etária de 16 a 30 anos de idade. “Me doía porque muitas pessoas não se enquadraram. Alguns jovens estavam trabalhando e com o horário extenso e muitos outros jovens tinham filhos, aí não poderiam entrar porque precisavam cuidar deles. Até que a gente foi abrindo um caminho do meio”. Hoje, o Pilar Universitário beneficia também pessoas com mais de 30 anos. “Foi muito bom porque são pessoas fora do padrão do início universitário, mas que merecem também”. São 21 alunos do Pilar matriculados no Senac pelo Pilar Universitário – todos com bolsa integral.

Dudu parece ter imergido no programa Pilar Universitário. Ao falar, adota o pronome “nós”. O Porto Digital deixou de ser “eles” para ser “nós”, como se ele, que é a cara da comunidade, agora fizesse parte do conglomerado de pujança, de possibilidades, de empregos, de esperança.  

Eduardo personifica o projeto piloto do Pilar Universitário. É um jovem que teve acesso a oportunidades, está se agarrando a elas, como costuma dizer, e tem usado a sua esperança, com luta e contando com o incentivo de instituições parceiras, para ser elemento de transformação da realidade onde vive. 

Em julho passado, o presidente do Porto Digital, Pierre Lucena, fez o lançamento do Pilar Universitário – Crédito: PC Pereira

Em palestra no mês de julho passado, no lançamento do programa, o presidente do Porto Digital, Pierre Lucena, disse que o Pilar Universitário vai “transformar a realidade da comunidade de forma radical nos próximos anos, porque irá garantir uma renda digna para toda a comunidade”. Segundo Pierre, o programa veio como solução a uma dívida histórica do Porto Digital com a comunidade, vizinha do ecossistema. 

A vida (no Pilar) como ela é

O Pilar é quase sempre exemplo quando se trata de vulnerabilidade social no Recife. Nas pesquisas, os indicadores sociais confirmam o que se vê. A comunidade conta com graves problemas de saneamento básico e moradia, com a pobreza estampada nos barracos improvisados, e nas crianças correndo descalças, driblando  lixo nas ruas.  

Renda é um problema grave. Na casa de Eduardo, a renda até pouco tempo era de R$ 380, do programa Bolsa Família, valor que era distribuído para a manutenção de sete pessoas na família – sendo cinco crianças, ele e a mãe.

Eduardo cresceu em um barraco. Rodava pião, jogava bola de gude e brincava longe da internet – Crédito: PC Pereira

Eduardo cresceu ali, também em um barraco. Rodava pião, jogava bola de gude e aproveitava o pequeno trecho de terra livre para brincar, bem defronte à Igreja Nossa Senhora do Pilar. A primeira vez que teve contato com a internet foi aos 14 anos, com a ajuda de colegas e de jogos eletrônicos. Posse de celular foi bem depois. quando a mãe repassou um aparelho para ele.  

No campo educacional, quando se formar, Eduardo Ribeiro será o primeiro da família com diploma superior. “Minha mãe nunca teve oportunidade de estudo nem dinheiro, então eu sabia que não poderia pagar por um curso de graduação.  Eu sempre pensei que eu tinha que achar um caminho para chegar lá”.   

O primeiro incentivo e apoio para a conquista da vaga como jovem aprendiz, depois como estagiário e por fim agora como universitário, crê Dudu, foi dado pela avó. Ela era persistente em dizer ao neto “Meu filho, o único caminho é estudar”. Se não estudasse, explicava dona Penha, ele teria a perspectiva de vida semelhante à dela  e à da mãe e viveria de bicos. 

Hoje Eduardo já tem o que comemorar: consegue manter-se financeiramente e ajudar em casa. Ainda como estagiário, conta com uma renda equivalente ou superior à da mãe e colabora no sustento dos irmãos. “Eu fico imaginando como seria dizer para minha avó que estou conseguindo crescer profissionalmente. Ela iria gostar”.

Links para mais conteúdos da série Comunidade do Pilar, tempos de esperança:

Dudu, 22 anos: o projeto piloto

Tempos de esperança

Silvia Bessa é jornalista. Gosta de revelar histórias que se escondem na simplicidade do cotidiano. Venceu três vezes o Prêmio Esso e tem quatro livros publicados

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