A idade do primeiro acesso à Internet por crianças brasileiras vem se antecipando nos últimos anos. A pesquisa TIC Kids Online Brasil 2023 mostra que 24% dos mini queridos entrevistados relataram ter começado a se conectar à rede na primeira infância, ou seja, até os seis anos de vida. A título de comparação, na edição de 2015, essa proporção era de 11%.

Atualmente, 95% da população de 9 a 17 anos é usuária de Internet no país, o que representa 25 milhões de pessoas. O celular foi apontado como um dispositivo de acesso para 97% dos usuários, sendo o único meio de conexão à rede para 20% dos entrevistados. Os dispositivos: telefone celular, televisão, computador e videogame. Considerando-se somente as classes DE, essa proporção chega a 38%.

“A pesquisa mostra tendência crescente de uso da Internet já na primeira infância. Esse fenômeno reforça a necessidade de dados robustos acerca das oportunidades e dos riscos online vivenciados por crianças e adolescentes, que orientem políticas e ações voltadas à garantia dos seus direitos e proteção”, aponta o gerente do Cetic.br/NIC.br, Alexandre Barbosa.

Conduzida desde 2012 pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), ligado ao Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), a pesquisa TIC Kids Online Brasil apresenta as tendências quanto ao acesso e ao uso de tecnologias de informação e comunicação (TIC) pela população brasileira com idade entre 9 e 17 anos. A edição de 2023 foi lançada durante o 8º Simpósio Crianças e Adolescentes na Internet, realizado pelo NIC.br e CGI.br e os dados foram divulgados no último dia 25 de outubro.

“Limitações na disponibilidade de dispositivos podem restringir os benefícios e ampliar as desigualdades entre indivíduos em diferentes contextos socioeconômicos. No Brasil, o celular ainda é o único dispositivo para conexão à Internet para parcela importante de crianças e adolescentes, sobretudo das classes D-E”, explica Barbosa.

O acesso à Internet pela televisão tem aumentado ano a ano entre crianças e adolescentes de todos os estratos sociais. No ano, a porcentagem de conexão à rede pela televisão chegou a 70%, sendo que a proporção é de 88% entre os pertencentes às classes A-B, 75% para a classe C, e 54% para as classes D-E. Em 2019, 43% se conectavam via TV; em 2022, 63%.

Já o uso de computadores para acesso à rede para esta faixa etária caiu (38%) em relação a 2022 (43%). Pouco disponível para os usuários das classes D-E (15%), segue predominando nas classes A-B (71%) – na classe C é utilizado por 41%.

Atividades online realizadas por crianças e adolescentes

Pela primeira vez, a TIC Kids Online Brasil coletou dados sobre o uso do YouTube. Conforme o levantamento, 88% das crianças e adolescentes ouvidas tem acesso à plataforma de vídeos online. Já 78%, disseram ter WhatsApp, 66% ter Instagram; 63% TikTok e 41% Facebook.

Segundo a pesquisa, 88% da população brasileira de 9 a 17 anos disse manter perfis em plataformas digitais. Entre 15 e 17 anos, a proporção foi de 99%.

O Instagram (36%) é a plataforma mais usada pelos usuários de Internet de 9 a 17 anos, frente ao YouTube (29%); TikTok (27%) e o Facebook (2%). Nas faixas de 9 a 10 anos e de 11 a 12 anos, o YouTube lidera com 42% e 44%, respectivamente. Já nas faixas de 13 a 14 anos (38%) e de 15 a 17 anos (62%), predomina o uso do Instagram.

“A proporção de crianças e adolescentes que declaram assistir a vídeos online cresceu ao longo da série histórica da pesquisa. Plataformas digitais voltadas ao compartilhamento e a criação de conteúdos multimídia são usadas por quase a totalidade de usuários de 15 a 17 anos”, comenta Luísa Adib, coordenadora da pesquisa TIC Kids Online Brasil.

Saúde e bem-estar

A pesquisa deste ano voltou a investigar o uso da Internet na busca de informações relacionadas à saúde e ao bem-estar entre a população de 11 a 17 anos – o tema apareceu pela primeira vez na edição retrasada. De 2021 para 2023, todos os indicadores foram reportados por uma parcela maior dos entrevistados.

Mais da metade (58%) reportou que teve contato com publicações sobre formas de se obter “uma alimentação saudável, informações sobre dietas ou refeições saudáveis” (contra 43% em 2021); 45% tiveram contato com informações sobre exercícios, esportes ou como entrar em forma (contra 28%) e 34% com informações sobre seus sentimentos, sofrimento emocional, saúde mental ou bem-estar (contra 29%). Metade (50%) relatou que a Internet ajudou-os a lidar melhor com algum problema de saúde (39% em 2021).

Contato com publicidade e propaganda online

Também pela primeira vez, a pesquisa coletou, numa mesma edição, dados sobre habilidades digitais críticas e indicadores relacionados com consumo. O estudo revelou que 78% dos usuários de 11 a 17 anos concordam que empresas pagam pessoas para usar seus produtos nos vídeos e conteúdos que publicam na Internet, enquanto 59% disseram que assistiram a vídeos de “pessoas ensinando como usar algum produto” e de “pessoas abrindo a embalagem de algum produto”.

“Apesar de crianças e adolescentes concordarem que pessoas são pagas para falar sobre produtos, nem sempre reconhecem que estão diante de uma comunicação mercadológica quando veem vídeos, no ambiente online, com pessoas usando ou abrindo embalagens de produtos”, destaca Adib.

O estudo mostra ainda que 50% dos usuários de 11 a 17 anos pediram aos responsáveis a compra de algum produto, após contato com propaganda ou publicidade, e somente 28% das crianças e adolescentes de 9 a 17 anos têm pais, mães ou responsáveis que afirmam utilizar “filtros” ou configurações que restrinjam o contato com propaganda na rede.

Roupas e sapatos (60%) foi a categoria de produtos mais vista em publicações online, seguida por equipamentos eletrônicos (52%), comidas e bebidas (49%), maquiagens e outros produtos de beleza (45%) e videogames ou jogos (41%). Publicações com roupas e sapatos foram vistas por 72% das meninas e 48% dos meninos. Já as sobre videogames ou jogos foram vistas por 26% das meninas e 56% dos meninos. Ainda conforme o levantamento, 46% dos usuários de Internet de 15 a 17 anos reportaram seguir página ou perfil de algum produto ou marca.

Habilidades digitais

Assim como na edição anterior, a TIC Kids Online Brasil 2023 investigou a percepção de crianças e adolescentes sobre habilidades digitais que eles entendem possuir. De acordo com a pesquisa, 76% dos entrevistados disseram ser “verdade” ou “muito verdade” que sabiam escolher que palavras usar para encontrar algo na Internet. O percentual daqueles que reportaram que sabiam verificar se uma informação encontrada na rede estava correta foi menor (58%).

Quase metade (47%) dos usuários nessa faixa etária concordou que todos encontram as mesmas informações quando pesquisam coisas na Internet e, para 40%, o primeiro resultado da pesquisa na rede é sempre a melhor fonte de informação.

internet cada vez mais cedo

“Há mais de uma década, a TIC Kids Online Brasil tem auxiliado governo e sociedade a compreender hábitos de crianças e adolescentes brasileiros na Internet, e como esses hábitos vêm se transformando ao longo do tempo. Seus indicadores são referência para a elaboração de políticas públicas na área”, destaca Renata Mielli, coordenadora do CGI.br.

Sobre a pesquisa

A 10ª edição da pesquisa TIC Kids Online Brasil entrevistou presencialmente 2.704 crianças e adolescentes com idades entre 9 e 17 anos, assim como seus pais ou responsáveis, em todo o território nacional. As entrevistas aconteceram entre março e julho de 2023.

A TIC Kids Online Brasil está alinhada com o referencial metodológico do projeto Global Kids Online, coordenado pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), e com a rede Kids Online América Latina.

Rodrigo Coutinho é jornalista e editor do Jornal Digital

Comments are closed, but trackbacks and pingbacks are open.