O atual Bairro do Recife nasceu por meio das movimentações econômicas portuárias. Contudo, já na metade do século 19, a região abrigava instituições bancárias e financeiras. Foi lá que teve início a história da Bolsa de Valores de Pernambuco.
Essa “faceta monetária” está representada em prédios como o Edifício Arnaldo Dubeaux, que abrigou o Bank of London and South America (ou simplesmente “Banco de Londres”) e a Bolsa de Valores de Pernambuco e Paraíba (BOVAPP).
No século 19, a antiga área do Cais da Lingueta (que atualmente corresponde ao Marco Zero) recebeu as primeiras instituições bancárias da província de Pernambuco, além de instituições do comércio e escritórios de grandes empresas da época.
Mas é no começo do século 20, com a grande reforma modernizadora do Recife, que o bairro passa a abrigar sedes do London & River Plate Bank (prédio que há alguns anos era a sede da In Loco) e o já citado Banco de Londres.
O Edifício Arnaldo Dubeux foi construído em 1912, sendo projetado pelo arquiteto francês George Henry Munier. É marcado pelo ecletismo, estilo surgido na França no século 19, com colunas em estilo grego, cúpulas romanas com arabescos da arquitetura islâmica. Ele integra um valioso patrimônio histórico e artístico da cidade, sendo tombado pelo IPHAN em 1998.
Sua construção já era pensada para abrigar o Bank of London and South America, que operou no continente sul-americano entre 1923 e 1971. Inicialmente, ele operava em Buenos Aires, mas logo se expandiu para Uruguai, Chile e Brasil. Mais tarde, ele seria adquirido pela Lloyds Bank Limited.
Em 1977, o prédio passou a ser a sede da Bolsa de Valores de Pernambuco. A existência dessa bolsa, contudo, é anterior. As primeiras menções à sua existência na imprensa datam dos anos 1950.
Especificamente no ano de 1953, foi realizado o primeiro leilão de divisas para o Norte-Nordeste do país. Esse foi o primeiro leilão público de ágio sobre disponibilidades cambiais do Estado, o que marcou efetivamente o começo da execução de uma nova política financeira do governo federal em todo o país. Pernambuco era o único da região a possuir uma bolsa oficial de valores e que, naquele momento, tinha jurisdição desde Alagoas até o Amazonas.
Apesar de diversas aparições na imprensa, a Bolsa nunca informava uma sede específica, dando a entender que funcionava em sedes temporárias. O Bairro do Recife, contudo, sempre esteve em seus planos.
Tanto é que, em 1960, foi feito um convite a empresas construtoras da capital para edificação de um prédio de 23 andares entre as esquinas das ruas Álvares Cabral e Madre de Deus – não muito distante do atual prédio do Porto Digital, que tem 20 andares.
Também existem registros de um salão de reuniões para a Bolsa no prédio da Associação Comercial de Pernambuco. Em 1977, a Bolsa de Valores adquire o Edifício Arnaldo Dubeaux, então prédio do Banco de Londres.
Em 1982, a instituição expandiu a sua atuação ao estado da Paraíba, quando passou a se chamar Bolsa de Valores de Pernambuco e Paraíba, possibilitando um maior desenvolvimento ao mercado acionário regional. Essa união fez a bolsa bater recordes de negociações de títulos em seus pregões diários.
Da década de 1980 até o seu fechamento, a Bolsa de Valores de Pernambuco teve enfoque exclusivo em leilões especiais do Fundo de Investimentos do Nordeste – Finor, em licitações promovidas pelo Banco do Nordeste e pela Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Esses leilões permitiam a conversão das quotas do Fundo em ações de emissão para empresas nordestinas.
Ao contrário do que muitos podem imaginar, o cenário dessa Bolsa era bastante diferente dos pregões agitados das capitais globais. Os leilões da Finor eram realizados uma vez por ano, chegando a envolver 300 empresas. Ao longo do ano, contudo, funcionários das empresas corretoras atuavam no espaço.
A Bolsa de Valores de Pernambuco chegou ao seu fim em 2008, com a crise na bolsa de valores de todo o mundo. Já antes, em 2006, iniciaram as reformas para que o prédio passasse a fazer parte da Caixa Cultural, programa da Caixa Econômica Federal que desenvolve ações voltadas à difusão da cultura brasileira.
Durante o processo de reforma e restauro, foram encontrados vestígios das bases das antigas construções que existiam no bairro, antes da reforma urbana do século 20. Essas bases hoje são exibidas em “janelas arqueológicas” do espaço, permitindo que o público possa ver os vestígios no chão. Ainda é possível conferir o cofre do antigo Banco de Londres. A Caixa Cultural Recife foi aberta ao público em 2012, dispondo de espaço para exposições e teatro.
Emannuel Bento é jornalista pela UFPE, com passagens pelo Diario de Pernambuco e Jornal do Commercio
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