No mundo acelerado da transformação digital, a automação emergiu como uma chama dupla: iluminando o caminho para a eficiência, mas com o potencial de queimar aqueles que se aproximam demais sem cautela. A previsão da Deloitte de que o mercado para ferramentas de inteligência artificial (IA) em segurança digital deve crescer US$ 19 bilhões antes de 2026, acende essa chama, prometendo uma nova era na luta contra as ameaças cibernéticas.
As transformações que a IA provocou em inúmeras indústrias são inegáveis, e a segurança digital parece ser o próximo campo fértil para essa revolução. No entanto, como um conto de fadas tecnológico com uma reviravolta, a história nos ensina que, frequentemente, as empresas superestimam o potencial transformador da automação a curto prazo, enquanto falham em compreender suas implicações a longo prazo.
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O estado atual da automação em cibersegurança é um testemunho disso: estamos longe de substituir o talento humano. Na verdade, pode ser que já estejamos dependendo demais da automação. Hackers, ao ganharem acesso a sistemas automatizados ou adquirirem grandes quantidades de dados confidenciais através de bots com excesso de acesso e privilégios, podem causar estragos de proporções antes inimagináveis. A automação, embora eficiente, pode, inadvertidamente, abrir portas para ataques mais devastadores e intrusivos.
Aqui, surge uma questão crítica: como podemos balancear a necessidade de automação com a necessária cautela para proteger nossa infraestrutura digital? A resposta parece residir não apenas na implementação de soluções tecnológicas avançadas, mas também na manutenção de uma vigilância humana constante, adaptativa e informada.
Na próxima década, a automação e a expertise em cibersegurança deverão caminhar lado a lado, com os humanos mantendo o controle do leme. A curto prazo, há maneiras mais eficazes de enfrentar os desafios crescentes em cibersegurança do que simplesmente lançar mão da automação.
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Uma pesquisa da consultoria Titania de 2022 aponta que incidentes de cibersegurança causados por configurações de rede inadequadas custam às organizações 9% de sua receita anual, com menos de 5% dos respondentes priorizando a segurança cibernética para roteadores, switches e dispositivos de borda de rede. Este relatório também nos oferece uma visão sobre o porquê dessa situação: 70% dos entrevistados apontam a automação imprecisa como um dos principais desafios para atender aos requisitos de segurança e conformidade.
Mas por que o toque humano é essencial, afinal? Com um padrão estabelecido para comportamento normal e treinamento configurado para atividades maliciosas, a segurança de rede parece ser o caso ideal para aprendizado de máquina (ML) e definição de regras automatizadas. A confiança excessiva na automação em cibersegurança, embora pareça uma estratégia eficiente, pode introduzir uma série de riscos e desafios às organizações, conforme aponta a Global Cybersecurity Alliance.
Um dos principais perigos é a criação de uma falsa sensação de segurança. As empresas podem se tornar complacentes, acreditando que sistemas automatizados detectarão todas as ameaças. No entanto, é importante lembrar que nenhum sistema é perfeito e novas ameaças imprevistas estão sempre emergindo. Além disso, a automação pode gerar falsos positivos, que, se ocorrerem com frequência, podem dessensibilizar as equipes de segurança.
Em contrapartida, os falsos negativos, onde uma ameaça real não é detectada, podem ter implicações graves. Esses sistemas também carecem da intuição humana e do contexto necessário para avaliar adequadamente o risco e a importância de um alerta específico. Um especialista em segurança experiente, por exemplo, é capaz de diferenciar uma atividade benigna que parece suspeita de uma ameaça genuína.
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Outro problema significativo é a redução da necessidade de especialistas humanos. Se uma organização depende demais da automação, pode acabar com menos especialistas que compreendem completamente o sistema. Já existe um déficit de talentos em segurança cibernética que só um crescimento de 89% das vagas seria o suficiente para preencher esse gap calculado em mais de 3 milhões de profissionais de segurança cibernética.
Insights sobre segurança digital
Essa preocupação atinge, inclusive, setores nos quais a automação ainda está engatinhando, como o automotivo. Em uma entrevista ao Tech Brew, Dennis Kengo Oka, especialista em cibersegurança automotiva e estrategista sênior da Synopsys, destaca que o rápido desenvolvimento de novos recursos, impulsionado pela demanda por veículos que se dirigem sozinhos, abre um leque de novos vetores de ataque.
Segundo o especialista, funções controladas por smartphones ou serviços de back-end que se comunicam com o carro introduzem novas formas de atacar tanto o próprio veículo quanto diferentes ativos dentro dele. Esse desenvolvimento acelerado cria uma lacuna entre o surgimento desses novos recursos e funcionalidades e o nível de cibersegurança, e fechar essa lacuna representa um dos maiores desafios.
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Em veículos autônomos, diversos sensores, câmeras e radares coletam dados sobre o ambiente. Se um atacante consegue manipular esses dados, fazendo com que o veículo se comporte de maneira errada, acidentes graves podem ocorrer. Um exemplo claro é a manipulação de um sinal de trânsito, fazendo com que o veículo interprete erroneamente um sinal de parada como um sinal de velocidade permitida, causando uma passagem perigosa.
Pelo jeito, a solução não está em escolher entre humanos e automação, mas sim em integrá-los de forma eficaz. Os especialistas humanos trazem intuição, habilidades de tomada de decisão e adaptabilidade, conseguindo identificar padrões e pensar fora da caixa. A automação, por outro lado, pode processar vastas quantidades de dados rapidamente, oferecer respostas ágeis e garantir a aplicação consistente de políticas.
A jornada rumo a um futuro de cibersegurança mais seguro e resiliente exige um equilíbrio cuidadoso entre a sofisticação da tecnologia e a sagacidade humana. Enquanto continuamos a testemunhar a ascensão da automação, devemos também cultivar e valorizar a supervisão e a intervenção humana, assegurando que nossa rede global permaneça protegida não apenas por algoritmos e máquinas, mas também pela irrefutável perícia e vigilância humana.
Renato Mota é jornalista, e cobre o setor de Tecnologia há mais de 15 anos. Já trabalhou nas redações do Jornal do Commercio, CanalTech, Olhar Digital e The BRIEF
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