Quando se fala no desenvolvimento da Inteligência Artificial (IA), ainda mais na velocidade com o qual ele vem se desenrolando nos últimos anos, três grandes medos sempre surgem e o terceiro deles tem relação com o trabalho:
1) As máquinas se tornarem tão ou mais inteligentes que os humanos, sencientes e autossuficientes. E assim, se darem conta, não só da nossa inferioridade, mas também do perigo que representamos para o planeta, e assim decidirem nos exterminar. Essa questão preocupa particularmente a Sarah Connor e o Thomas Anderson;
2) Sistemas de IA que foram treinados mal e porcamente sejam usados para ajudar a tomar decisões político-sociais amplas, trazendo consigo o preconceito sistemático dos seus programadores – ou reforçando vieses já estruturais. Essa talvez seja a preocupação mais real e próxima atualmente;
3) Por fim, o consenso (quase que generalizado) de que a IA causará uma extinção em massa de empregos.
A Goldman Sachs chegou a publicar uma nota afirmando que 300 milhões de empregos serão afetados só pela IA generativa e 7% dos postos de trabalho poderão ser eliminados. E uma equipe de acadêmicos da Penn University estimou que 87% dos empregos globais serão fortemente impactados pela IA.
Mitos e Realidades
Essa cantiga, porém, não é nova. Em meados dos anos 2000, a Universidade de Oxford publicou uma pesquisa afirmando que 47% dos empregos seriam eliminados pela automação. Quase vinte anos depois, os empregos ainda estão por aí – embora cada vez mais e mais precarizados.
Mas e se, ao invés de irmos atrás dos computadores com tochas e forcados, usássemos a IA para aprimoramento de carreira e habilidades profissionais, conseguindo assim melhores posições. Uma espécie de RoboCoach!
Eu não estou inventando a roda aqui: o mais recente “Future of Jobs Report”, do Fórum Económico Mundial, já aponta que 44% das competências exigidas pelo mercado de trabalho serão profundamente afetadas nos próximos cinco anos, com um aumento na importância das habilidades cognitivas, do pensamento analítico, do pensamento criativo e da literacia tecnológica.
E nesse sentido, ferramentas de IA podem fornecer orientações personalizadas e insights baseados em dados, ajudando profissionais a identificar áreas de desenvolvimento e oportunidades de carreira. Essas ferramentas podem analisar tendências do mercado de trabalho, sugerir cursos e treinamentos relevantes, e até mesmo ajudar na preparação para entrevistas de emprego.
De acordo com a pesquisa “Future of Learning”, 59% dos funcionários de RH em setores que vão da tecnologia à área médica acham que o conselho da inteligência artificial pode ajudar os candidatos a emprego a conseguir o emprego perfeito, e outros 63% acham que a IA pode fornecer conselhos úteis sobre procura de emprego aos candidatos.
Além da Automatização
Claro que o coaching com IA tem suas vantagens e desvantagens. Entre as vantagens, estão a disponibilidade constante, a capacidade de processar grandes volumes de dados e a personalização do aprendizado. No entanto, a IA ainda não pode substituir completamente a empatia e o entendimento humano, sendo essencial a combinação de IA com orientação humana para um coaching eficaz.
Ainda assim, a combinação entre humano e máquina é poderosíssima. Um estudo da Oxford Review destaca que IA pode ajudar a identificar padrões de comportamento e necessidades de aprendizado, permitindo um coaching mais focado e eficiente. Além disso, ferramentas de IA podem oferecer simulações e cenários para prática de habilidades, proporcionando um ambiente seguro para o aprendizado.
Essa tecnologia também pode apoiar o desenvolvimento profissional contínuo, oferecendo feedback instantâneo e personalizado, ajudando os profissionais a se adaptarem rapidamente às mudanças no ambiente de trabalho.
A IA já vem sendo usada para criar sistemas de coaching eletrônico, oferecendo sugestões personalizadas e ajudando os aprendizes a aplicar novas habilidades no trabalho. Essas ferramentas também incluem simuladores de aprendizado para prática de habilidades em um ambiente controlado.
Segundo a Harvard Business Review, a tecnologia ainda pode ajudar executivos sobrecarregados a serem melhores gerentes dos seus subordinados. Com a crescente demanda por feedback personalizado e coaching um-a-um, a IA pode aliviar parte da carga dos mentores, fornecendo ferramentas para coaching mais eficiente e eficaz.
Toda tecnologia é amoral, sua capacidade destrutiva ou construtiva depende inteiramente da mão que a está operando. Ao mesmo tempo que pode revolucionar (para pior) o mercado de trabalho, a IA também pode ser uma aliada valiosa, oferecendo oportunidades para o desenvolvimento de carreiras e aprimoramento de habilidades. Com a combinação certa de tecnologia e orientação humana, a IA tem o potencial de transformar positivamente o local de trabalho e o desenvolvimento profissional.
Renato Mota é jornalista, e cobre o setor de Tecnologia há mais de 15 anos. Já trabalhou nas redações do Jornal do Commercio, CanalTech, Olhar Digital e The BRIEF
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