Nos símbolos dos brasões do Governo do Estado de Pernambuco e da Prefeitura do Recife, existe um pequeno farol próximo ao mar. Essa torre não representa o Farol de Olinda ou até mesmo o Farol da Barra, no Bairro do Recife, como muitos pensam. Trata-se de uma construção que já não está mais entre nós: o Forte do Picão.
Durante quase quatro séculos, aquele farol foi a primeira paisagem avistada por quem chegava através dos navios, pelo litoral. Por isso tamanho protagonismo nos brasões.
A sua construção, ainda no primeiro século da colonização, veio da necessidade urgente de levantar sistemas defensivos capazes de suportar possíveis ataques estrangeiros, como piratas e corsários.
Invasores ingleses e holandeses
Em 1595, uma invasão de ingleses liderada pelo almirante James Lancaster roubou no Porto do Recife um grande montante de açúcar, pau-brasil e algodão, entre outras mercadorias.
Alguns meses depois desse ocorrido, foi levantado o Forte de São Francisco, muito mais conhecido como “Forte do Picão”. Esse apelido surgiu por conta de pedras perigosas para embarcações, que “picavam” os cascos dos navios.
O Forte do Picão teria sido construído entre os últimos anos do do século 16 e os primeiros do século 17, às custas dos moradores e do senhor da terra, para defender a barra e o porto de piratas e corsários.
Esse Forte combateu bravamente uma outra invasão: a dos holandeses, em 1630. Os flamengos, inclusive, o chamavam de “Castelo do Mar”. O próprio Maurício de Nassau fez uma menção à fortificação em discurso de 1638:
“Defronte do Castelo de São Jorge, sobre o arrecife de pedra, no mar e na entrada da barra, fica um outro belo castelo de pedra, por nós denominado Castelo do mar. Este tem sido um tanto danificado pelo mar, que, batendo nele com toda a força e em todas as marés, tem arrancado na parte inferior algumas pedras. Tratamos com o mestre, que foi o seu primitivo construtor, para que, com o auxílio de pedreiros portugueses, tape o rombo e o segure contra o mar, o que é indispensável para prevenir futuros danos.”
Controvérsias
Apesar da sua importância e simbolismo ser uma unanimidade, a história da construção do Forte do Picão é rodeada de controvérsias, desde o seu aspecto físico à sua estrutura, como foi o financiamento e qual o ano da finalização.
José Luís Mota Menezes, por exemplo, já listou o forte como tendo sido construído em 1591, por ordem do governador-geral da Bahia, Diogo Menezes e Sequeira. Nessa perspectiva, ele seria o primeiro forte pernambucano e o 11º brasileiro.
Já Pereira da Costa alega que o forte fora iniciado em 1612, às custas dos moradores locais e do senhor de terras, Duarte de Albuquerque Coelho.
Todas essas incertezas ocorrem pelo fato de que o forte está presentes em documentos de diferentes épocas, até mesmo no primeiro mapa de Pernambuco, na primeira litografia do Recife, na primeira fotografia do Recife, nos primeiros postais.
A fotografia mais antiga do Recife que se tem registro, de 1851, por Charles de Forest Fredericks.
Demolição
O Forte do Picão já chegou ao começo do século 20 em um forte estado de degradação, conforme é possível ver em registros fotográficos.
Nessa mesma época, começam as reformas “modernizadoras” do Bairro do Recife, que levaram abaixo muitos casebres coloniais e patrimônios históricos, como a igreja Matriz do Corpo Santo, o Arco da da Conceição, que ficava no começo da Ponte Duarte Coelho, e o próprio forte.
A fortaleza foi destruída para dar lugar à passagem da larga muralha que se construía sobre os arrecifes, como uma das obras complementares da grande reforma do Porto. Os vestígios de sua base são bem visíveis sobre a linha de arrecifes.
Emannuel Bento é jornalista pela UFPE, com passagens pelo Diario de Pernambuco e Jornal do Commercio
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