Com quantas pessoas neurodivergentes você trabalha? Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que 85% dos brasileiros autistas estão desempregados. O assunto foi motivo de encontro nesta quarta-feira (24), no auditório do Porto Digital. O evento “Talentos únicos: inclusão da neurodiversidade nas empresas” foi uma iniciativa do Porto Digital e da Pitang em parceria com a Specialisterne Brasil.

Empresas do Porto Digitas discutem inclusão da neurodiversidade no mercado de trabalho (Imagem: Raíssa Lima/Porto Digital)

Durante o evento, foi explorado como as diferenças podem agregar uma gama única de talentos, habilidades e perspectivas às organizações. Além disso, foram compartilhados casos reais e estratégias para recrutamento, seleção, integração e desenvolvimento profissional, destacando as experiências com a Pitang e ONS.

Marcelo Vitoriano, diretor geral da Specialisterne Brasil, empresa conhecida por proporcionar treinamento e emprego para pessoas com autismo, foi um dos participantes e declarou: “A importância de eventos como esse no Porto Digital é falar sobre a possibilidade de inclusão de pessoas autistas e, mais do que isso, o direito que as pessoas tem a ingressar no mercado de trabalho.”

Segundo Marcelo, as empresas que não contratam pessoas neurodivergentes nos dias de hoje estão “desperdiçando talentos” e devem “inverter a lógica”, ou seja, observar os talentos além dos desafios. “Todo mundo ganha com isso: as pessoas autistas, as empresas que trazem esses talentos e a nossa sociedade que fica mais justa e mais diversa”, disse.

Representando a Pitang, Luana Leão, gerente de desenvolvimento de talentos, contou que a empresa tem parceria com a Specialisterne Brasil e com a ONS. Para ela, a inclusão de pessoas neurodivergentes está diretamente conectada com a cultura das empresas: “A gente precisa propiciar que as pessoas sejam acolhidas, entendidas nas suas individualidades, independente se são neurodivergentes ou não. Se forem neurodivergentes, que tenham apoio e que consigam realmente mostrar suas potencialidades e expressar tudo que elas têm de melhor para agregar na empresa.”

Empresas do Porto Digitas discutem inclusão da neurodiversidade no mercado de trabalho (Imagem: Raíssa Lima/Porto Digital)

Caio Damázio é advogado especializado em Direito Público e Eleitoral, ativista e defensor da defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência. Ele recebeu o diagnóstico de autismo tardio, há 1 ano. Sobre a baixa no número de pessoas autistas empregadas no Brasil, ele reflete: “Alguns até conseguem entrar no mercado de trabalho, mas não conseguem ficar por muito tempo porque muitas empresas e o ambiente corporativo não têm ambientações, não têm atendimento humanizado, os profissionais não são treinados para lidar ou identificar as características da pessoas. Eventos como esse acendem uma chama de esperança por uma sociedade que está lutando pra ficar mais igualitária.”

Mas afinal de contas, como criar esse ambiente inclusivo na cultura da empresa? Um ambiente inclusivo demanda empatia, resiliência (capacidade de lidar com diferentes situações e manejar diferentes estratégias para que todas as pessoas se sintam confortáveis em um mesmo ambiente apresar das suas diferenças) e desejo de ensinar – já que estamos falando de profissionais que ainda não chegam “prontos” para o mercado.

É essencial que as empresas e o ambiente corporativo sejam preparados para oferecer a devida ambientação, atendimento humanizado e treinamento necessário para acolher e valorizar as características únicas das pessoas neurodivergentes, entendendo que esse é um problema social.

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