Recife e o Porto Digital no centro das discussões sobre pesquisa e inovação entre os países mais ricos do planeta. Esse é o cenário da capital pernambucana nesta quarta-feira (22), quando recebe autoridades, delegações e organizações do Brasil e do mundo para participar da 3ª reunião do Grupo de Trabalho (GT) de Pesquisa e Inovação do G20, que segue até sexta-feira (24).
O foco das discussões do grupo de trabalho, que conta com 40 delegações nesta reunião, gira em torno do combate às desigualdades no acesso à tecnologia e da democratização da ciência, além de outras temáticas. A escolha do Recife para essa reunião não poderia ser mais acertada: berço do Porto Digital, maior parque tecnológico do Brasil e um dos mais relevantes do mundo, a cidade tem experimentado desafios e progressos nas áreas levantadas nas discussões.
Em levantamento com dados do Censo da Educação Superior (INEP/MEC), o número de estudantes universitários em tecnologia no Recife já era superior ao das outras capitais do Brasil, como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte, já em 2018. A capital pernambucana contabilizava 436 estudantes de tecnologia da informação (TI) a cada 100.000 habitantes – nos anos seguintes, os valores ficaram ainda maiores, criando uma distância considerável com o restante do país.
As ações voltadas para a formação de capital humano realizadas pelo Porto Digital auxiliaram nessa mudança de cenário a partir de 2019, com aumento do número de estudantes de TI através de parcerias com instituições de ensino superior e também com a criação do Embarque Digital – programa do Porto Digital em parceria com a Prefeitura do Recife que oferece bolsas de estudo integrais para estudantes egressos do sistema público de ensino.
“A área de tecnologia da informação (TI) é intensiva em conhecimento e, por isso, é tão importante termos profissionais qualificados para atuar na área. No caso do Recife, com o Embarque Digital, temos a oportunidade de causar impacto direto na cidade, já que esses estudantes, que têm renda per capita familiar média de até três salários mínimos, têm a oportunidade de, já no começo da carreira, dobrar a renda familiar”, aponta o presidente do Porto Digital, Pierre Lucena.
“Em uma cidade com alta taxa de desigualdade social e desemprego, essa é uma transformação que vai mudar não só a cara dos trabalhadores do parque, com muito mais inclusão, mas também tem o potencial de mudar a cidade”, indicou.
Outra experiência do parque tecnológico funciona a partir de parceria com instituições de ensino superior e empresas de tecnologia ou que tenham áreas de inovação, conectando a formação acadêmica com as necessidades e realidades do mercado de TI. A Residência Tecnológica em Software, como foi batizada, também apoia o aumento do número de estudantes de tecnologia no município e inserção desses profissionais na cadeia produtiva.
A aposta do Porto Digital é de impacto social por meio da tecnologia e educação. “Esse é um dos pontos de partida para a democratização tecnológica por meio do acesso qualificado ao mercado de trabalho, assim como outras iniciativas que são realizadas a partir do parque tecnológico, como o Pilar Universitário”, aponta Lucena. O programa, lançado no ano passado pelo Porto Digital e Senac Pernambuco, tem o intuito de universalizar o ensino superior na Comunidade do Pilar, uma comunidade localizada dentro do território do parque tecnológico e que enfrenta grandes desafios sociais.
Em pesquisa realizada pela WRI Brasil, Universidade das Nações Unidas – Instituto do Meio Ambiente e Segurança Humana (UNU-EHS), Aliança pelo Centro do Recife e pesquisadores locais, o nível de escolaridade das pessoas chefes de família na localidade não chega sequer ao 1º grau completo em mais da metade dos casos.
Com despesa da formação universitária totalmente custeada pelo convênio entre as duas organizações, moradores da comunidade que tenham o ensino médio completo podem ter acesso ao ensino superior de forma gratuita. À época, o presidente do Sistema Fecomércio/Sesc/Senac-PE comentou sobre como a formação pode mudar a realidade local nos próximos anos. “A inclusão produtiva é um dos principais instrumentos do desenvolvimento econômico. Ao oferecer a oportunidade para pessoas de baixa renda cursarem uma faculdade, estamos dando os meios necessários para que elas conquistem um trabalho e possam mudar a realidade de suas famílias.”
O G20 Brasil
O Brasil assumiu, pela primeira vez, a presidência rotativa do G20 em dezembro do ano passado. A Cúpula do grupo será na cidade do Rio de Janeiro nos dias 18 e 19 de novembro.
Em discurso na edição de 2023, o presidente Luís Inácio Lula da Silva anunciou as três linhas de ação para estruturar os grupos de trabalho deste ano: inclusão social e combate à fome e à pobreza; transição energética e desenvolvimento sustentável; e reforma da governança global.
“O G20 não é apenas o grupo das maiores economias, reunindo 80% do PIB global, 75% das exportações e cerca de 60% da população mundial. O G20 é, atualmente, o fórum político e econômico com maior capacidade de influenciar positivamente a agenda internacional”, falou o presidente à época.
GT de Pesquisa e Inovação
O grupo de trabalho de Pesquisa e Inovação foi criado, sob a presidência brasileira, com o objetivo de reduzir desigualdades no acesso à tecnologia e da transferência de conhecimento, com promoção de desenvolvimento econômico inclusivo. O GT é uma evolução da Iniciativa em Pesquisa e Inovação iniciada no Fórum Acadêmico de 2021, promovido pela presidência da Itália do G20.
O GT é, então, a continuidade das discussões levantadas em 2021, com objetivo de transformá-las em ações concretas que possam beneficiar o ecossistema de pesquisa e inovação globalmente.
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