A velocidade com que a inteligência artificial (IA) avança levanta uma questão crucial: qual é a “cara” do futuro em um mundo onde essa tecnologia é uma realidade diária? Para os especialistas Gonzalo Linares-Rivas, engenheiro sênior de software de IA, e Filipe Calegario, professor do Centro de Informática (CIn) da UFPE, a resposta é complexa e cheia de nuances. Durante o painel “IA, estratégia e desenvolvimento: qual a cara do futuro”, realizado pelo Porto Digital, CESAR e Consulado Americano nesta segunda-feira (25), a discussão centralizou-se na rapidez da transformação e no papel insubstituível do ser humano nesse novo cenário.

“Talvez estejamos em um tempo de inflexão, como quando da criação da fotografia e seu impacto nas artes visuais, ao mesmo tempo em que abriu o caminho para o cinema. Mais à frente no futuro, talvez consigamos entender o real impacto da inteligência artificial”, opinou o professor Filipe Calegario, que ministra a disciplina de Criatividade Computacional no CIn.
IA e o mercado
O impacto da inteligência artificial no mercado de trabalho é um dos pontos mais debatidos. Gonzalo Linares-Rivas comentou sobre a tendência de algumas empresas em substituir profissionais iniciantes por IA, classificando a prática como um erro. Ele argumenta que “80% dos trabalhos podem ser aprimorados com IA”, e que os seres humanos são valiosos pelo conhecimento acumulado, sendo essenciais também para a manutenção da seguridade social. A ferramenta de IA em si é baseada em conhecimento humano, o que reforça a necessidade de manter o elemento humano no processo.
A ideia não é eliminar o ser humano, mas integrá-lo e valorizá-lo. O engenheiro enfatiza a importância de encontrar um propósito ou paixão, pois isso facilita o aprendizado e a adaptação a um cenário de constantes e rápidas mudanças.
IA na educação
A transformação também chega às salas de aula. O professor Filipe Calegario provocou a audiência ao questionar se é o código em si ou a forma de pensar que constitui a essência da programação. Ele destaca a necessidade de os professores ensinarem os alunos a usar a IA de forma adequada, ao invés de simplesmente proibi-la, uma vez que a detecção de seu uso é fácil. O debate sobre a IA na educação é vital, pois a tecnologia já é parte do dia a dia dos estudantes.
“Precisamos falar da inteligência artificial na educação. Em algum ponto, como professor, você vai precisar ensinar seus estudantes sobre como usar IA”, aponta Calegario. Em um paralelo com o contexto da sala de aula no ensino de ciência da computação, o professor traz uma provocação: “É difícil dizer para os alunos não usarem a IA. E é fácil detectar seu uso. Mas você quer proibir? Qual é a essência da programação? É o código em si ou é o jeito que você pensa?”
O cerne da questão na educação não é o uso da ferramenta em si, mas como o pensamento crítico e a criatividade humana se adaptam e evoluem com ela. Ao invés de lutar contra, a abordagem deve ser a de educar para usar a IA de maneira estratégica, mantendo a originalidade e a capacidade de resolver problemas.
A humanidade no centro
No painel, a discussão entre Linares-Rivas e Calegario mostrou que a tecnologia não é apenas um conjunto de ferramentas, mas um catalisador de mudanças sociais. A essência do futuro, segundo os especialistas, está em reconhecer o valor do ser humano no processo. A IA, por mais avançada que seja, é um reflexo do conhecimento humano acumulado e, portanto, depende intrinsecamente da capacidade de inovar, adaptar e, acima de tudo, manter a humanidade.
A mensagem é clara: o futuro não é sobre a máquina substituir o homem, mas sobre o homem e a máquina trabalhando juntos, em uma simbiose que acelera a inovação e aprimora as habilidades humanas. O verdadeiro desafio não é a velocidade da mudança, mas a capacidade de adaptação com propósito e humanidade.
Comments are closed, but trackbacks and pingbacks are open.