O mercado de criptomoedas e ativos digitais, incluindo NFTs, em 2023, apresentou uma trajetória de recuperação e volatilidade. O ano começou até otimista, com muitas criptomoedas se recuperando das perdas de 2022, embora os preços ainda estivessem abaixo dos picos históricos. A primeira metade do ano foi marcada por uma montanha-russa de preços, deixando incerto se a segunda metade veria um crescimento lento ou um retorno aos máximos anteriores.

Eventos significativos do ano passado, como a condenação de Sam Bankman-Fried, ex-CEO da FTX, por fraude e o colapso subsequente da FTX, tiveram um impacto profundo no mercado. Isso resultou em quedas acentuadas nos preços, com o Bitcoin atingindo seu valor mais baixo desde 2020. No entanto, recentemente houve uma retomada, com Bitcoin e outros tokens importantes se valorizando, impulsionados pela expectativa de um fim nos ciclos de aumento das taxas de juros e pela possibilidade de novos fundos de índice de bitcoin negociados em bolsa (ETFs).

Especificamente, as criptomoedas Bitcoin e Ethereum mostraram sinais significativos de recuperação – apesar de ainda abaixo de seus picos de 2021. O Bitcoin, por exemplo, mais que dobrou de preço em 2023, alcançando US$ 34.497 em outubro. Nesse caminho, o Ethereum também se recuperou, negociando a US$ 1.808 no mesmo período. Apesar desses avanços, a maioria das criptomoedas ainda está bem abaixo de suas máximas históricas

De acordo com o relatório da CoinGecko do 3º trimestre, houve uma redução no volume de negociação e no valor de mercado de várias criptomoedas importantes. A volatilidade do mercado permaneceu alta, refletindo a incerteza e a natureza especulativa do mercado: a capitalização total do mercado criptográfico sofreu um declínio de quase 10% no período (US$ 119,1 bilhões em termos absolutos), com um volume médio diário de negociações em US$ 39,1 bilhões, uma queda de 11,5% em comparação com o segundo trimestre. Ainda assim, a capitalização total do mercado criptográfico aumentou 35% no acumulado do ano, impulsionado pelo otimismo em torno da aprovação de um ETF de Bitcoin spot nos EUA

A Binance observou algumas tendências emergentes no mercado de criptomoedas. Apesar da desaceleração geral do mercado, houve um aumento no desenvolvimento e adoção de tecnologias blockchain, com um foco particular em soluções de finanças descentralizadas (DeFi) e tokens não fungíveis (NFTs).

No setor DeFi, houve um aumento de 8,8% no valor total bloqueado (TVL) em outubro, impulsionado pelo otimismo geral no mercado de criptomoedas. Protocolos DeFi em redes como Tron, Arbitrum e Solana registraram ganhos notáveis de 15,04%, 3,70% e 17,26%, respectivamente. Além disso, a Proposta de Melhoria Ethereum foi apresentada em outubro, o que poderia beneficiar potencialmente os protocolos DeFi no Ethereum.

O mercado de NFTs também mostrou sinais de recuperação, com o volume de negociações alcançando US$ 1,39 bilhão em outubro, segundo dados do Dapp Radar. Ainda assim, é uma queda de 89% desde o início de 2022. Índices como o NFT-500 de Nansen e o Blue-Chip-10 registaram quedas de 58% e 50% desde o início do ano, respetivamente. O Bored Ape Yacht Club, que foi símbolo dessa “era de ouro” dos NFTs reflete essa mudança. De acordo com o site NFT Price Floor, o preço mínimo dos itens mais baratos da coleção era de US$ 268 mil (R$ 1,3 milhão) em 2022, e agora esse valor caiu para US$ 56 mil.

A empresa OpenSea, um importante player no mercado de NFTs, enfrentou desafios em 2023, incluindo a decisão controversa de parar de aplicar royalties de criadores e uma queda geral no interesse por NFTs.

Por isso, a euforia inicial dos NFTs deu lugar a uma abordagem mais pragmática. O mercado está se reestruturando e o foco tem se deslocado para projetos com utilidade e sustentabilidade a longo prazo, além da integração de NFTs em aplicações mais amplas como jogos e metaverso. 

Um dos maiores desafios para as moedas digitais e NFTs continua sendo a regulamentação. Governos ao redor do mundo têm lutado para enquadrar esses novos ativos dentro de estruturas legais existentes, muitas vezes enfrentando dilemas sobre como balancear inovação e proteção ao consumidor. Adicionalmente, a sustentabilidade ambiental das criptomoedas, especialmente aquelas que utilizam o mecanismo de consenso Proof-of-Work, permanece um tópico de intenso debate.

Apesar das incertezas, o interesse em moedas digitais e NFTs como classes de ativos inovadoras não mostra sinais de diminuição. A adoção por grandes players financeiros e a integração com tecnologias emergentes, como inteligência artificial e blockchain, sugerem que ainda existe um futuro promissor. Entretanto, esse futuro é complexo e repleto de incógnitas, especialmente considerando o cenário econômico instável e a evolução constante das regulamentações.

Renato Mota é jornalista, e cobre o setor de Tecnologia há mais de 15 anos. Já trabalhou nas redações do Jornal do Commercio, CanalTech, Olhar Digital e The BRIEF

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