Quando DJ Big fala, traduz o coletivo – e ele gosta dessa representatividade, em que não se refere a uma pessoa, mas a muitas e para muitas sempre. Porque Big crê que são exatamente os jovens da periferia com oportunidades de conhecer a tecnologia e projetos de inovação que podem transformar uma sociedade. “Eu vejo o REC’n’Play hoje como um habitat que cresceu com essa ideia. Ele sai de uma esfera para outra de compreensão, a compreensão de que a cidade é mista”.

Agô MC no REC’n’Play, um festival conectado com as diversas camadas sociais do Recife – Crédito: Acervo Pessoal

A defesa de DJ Big é pela ampliação das conexões que incluam pessoas da periferia. Porque elas, ressalta, não têm conexão. E como alcançar esta conquista? Começando pela solidariedade e pela construção desse novo espaço dentro do Recife, um espaço de acolhida e de inclusão, inclusive como forma de reparação para uma exclusão que já dura 500 anos, desde a escravatura. “A gente tem que se familiarizar e entender que esse povo precisa crescer junto e, aí sim, termos uma cidade rica de conhecimento, de direitos, de prosperidade na informação”.

Mohamed, do grupo Casa Branca, no palco da Jornada de MC’s, ambiente construído a partir da inclusão – Crédito: DJ Big/Acervo Pessoal

Big promove essas conexões há muitos anos. Começou aos 12 anos na frente de casa, no Alto de São Sebastião. Cresceu e começou a ser convidado para festas e eventos em outras comunidades. Aos 19 anos, já tinha nome no mercado, era cobiçado em eventos e festas pelo seu talento como DJ.

Na juventude, comprava revistas para entender mais sobre as possibilidades tecnológicas oferecidas no mundo para a sua área, mas não tinha como praticar porque os equipamentos sempre custaram caro e eram inacessíveis dentro das condições financeiras de sua família. Foi quando resolveu colocar-se como voluntário do Instituto Vida, atuando como professor de informática. Depois, teve a ideia de propor mais aulas em troca de um horário livre para usar o computador e aprimorar sua arte de mixagem.

No começo, DJ Big não tinha como praticar sua técnica por conta dos altos preços dos equipamentos – Crédito: Beto Oliveira

Já em 2003 – e com direito a repeteco no REC’n’Play de 2023 – começou a oferecer oficinas de discotecagem voltadas para o público feminino – também pensando na inclusão. Era novidade à época. Queria levar o seu conhecimento para mulheres e, de lá para cá, já promoveu outras seis oficinas destinadas à elas.

Neste ano, durante a sua oficina realizada na Casa Zero em pleno REC’n’Play, fez o mesmo. O grupo era destinado às mulheres, mas os homens foram aceitos, caso se interessassem. No momento da prática, de ficar diante do vinil, o próprio Big procurou um jeito gentil de dizer “primeiro as mulheres, as moças”, colocando os rapazes para sentar e esperar uma eventual oportunidade de fazer parceria ou ser monitorado.

Ele é um empreendedor social, que promove inclusão e aproximação da periferia com o centro – Crédito: Beto Oliveira

“Ou seja, a tecnologia social veio antes da tecnologia digital na minha trajetória de vida”, frisa ele, com ar de quem tem certo orgulho pelas suas conquistas. Big é um empreendedor social, que curte tecnologia e promove a inclusão e a aproximação da periferia com o centro do Recife. No RECn´Play era a pessoa certa no lugar certo, aquele vivido com intensidade por centenas de jovens durante quatro dias de imersão e novidades.

Continuação da série VOZES DO REC’N’PLAY com DJ Big

DJ Big leva as periferias ao centro

Tecnologia social para alcançar inclusão

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Silvia Bessa é jornalista. Gosta de revelar histórias que se escondem na simplicidade do cotidiano. Venceu três vezes o Prêmio Esso e tem quatro livros publicados

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