O Centro de Informática (CIn) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), pilar educacional que possibilitou a criação do Porto Digital, no Recife, traçou uma longa jornada de esforços até se tornar um dos mais renomados centros de ensino e pesquisa em computação no Brasil e na América Latina. 

Essa é uma história que começa dentro do Instituto de Física e Matemática, que deu o primeiro passo para o ensino de informática ao criar o Centro de Computação Eletrônica, em 1967.

Na década de 1960, professores desse Instituto citado viajaram para participar de um evento promovido pela International Business Machines Corporation (IBM), principal fabricante de computadores da época. Eles retornaram fascinados, porém preocupados com a questão da informática na universidade.

Nota sobre curso de computação eletrônica em 21 de janeiro de 1969

O computador que ocupava uma sala

O diretor do Instituto de Matemática, professor Jônio Lemos, liderou a solicitação de uma base de processamento de dados ao reitor da época, o professor Murilo Humberto de Barros Guimarães. 

Naquele tempo, inclusive, uma outra universidade da região já se preparava para receber um computador: o campus de Campina Grande da UFPB.

Em 1967, a UFPE ganhou a sua primeira máquina: um Sistema IBM 1130, que era considerado o melhor computador científico da época. Ele ocupava toda uma grande sala com o maquinário, incluindo os seus equipamentos periféricos.

Sistema IBM 1130 – Crédito: Reprodução da Internet

Como registrou Júlia Nogueira de Almeida no livro “MEMÓRIA CIn/UFPE” (2021), esse computador causou um tamanho frisson que os estudantes, “muitos dos quais futuros professores, passavam grande parte do dia naquela sala e até varavam noites ‘brincando’ com aquela máquina”. Esse foi um dos primeiros computadores do Recife, juntamente com outros do Governo do Estado e do Banco Banorte.

A criação do Centro de Computação Eletrônica ocorreu justamente para a chegada dessa parafernália, oferecendo cursos de treinamento para manusear a máquina, além de outras disciplinas relacionadas à computação. Ainda naquele ano, a UFPE passou por uma reestruturação e o Centro tornou-se independente do Instituto de Matemática. 

Professores estrangeiros

Buscando disseminar o uso dos computadores para ampliar o seu mercado, a IBM passou a ministrar cursos nas principais universidades do País, incluindo a UFPE. A empresa tinha, inclusive, um plano mirabolante para introduzir um computador seu em todas as principais universidades do mundo.

Nota sobre palestra com Raul Dicovsky na UFPE, em 1967

Como consequência dessa presença da IBM, a UFPE contratou um professor argentino chamado Raul Alberto Dicovsky, que tinha feito cursos pela empresa nos Estados Unidos, sendo um expert dos computadores da marca. Ele deu cursos como Teoria da Codificação e da Programação, entre outros.

Nessa época, a UFPE viabilizou uma iniciativa inovadora até então: a correção das provas do vestibular pelo processador de dados do IBM 1130, de uma forma com que o professor Dicovsky teve de explicar para a imprensa que “as provas não serão corrigidas pelo computador, mas as equipes de processamento de dados realizarão as tarefas mecânicas inerentes.”

“A utilização de processamento de dados para a aferição de dados não é uma coisa nova nem complexa. Consiste somente numa comparação das respostas certas para cada quesito. Dada a alta velocidade dos computadores eletrônicos atuais, é possível, então, corrigir um teste, imprimir a nota e os dados necessários e ainda arquivar os resultados desejados em fita magnética, numa fração de segundo”, explicou.

O reitor da UFPE, em companhia do professot Raul Dicovsky e do professor Ivancir Castro, em 1967

Além do vestibular, o Centro de Computação Eletrônica também foi responsável por auxiliar no processamento de dados da folha de pagamento dos funcionários da UFPE, além de prestar serviços a várias outras instituições da região, fossem públicos ou privados. 

Escolas

Em 1968, o professor Dicovsky deixou a universidade e foi contratado um outro estrangeiro: o professor Ernesto Garcia Camarero, da Universidade Complutense de Madrid, Espanha.

O professor Garcia Camarero com os alunos José Raimundo, Maria Katheleen Vasconcelos, Sonia Schechtman e Maria da Glória Abagê, no curso de Introdução à Computação Eletrônica

De acordo com Júlia Nogueira de Almeida, ele introduziu conceitos como “Autômatos e Linguagens Formais, Funções Recursivas, Álgebra de Boole, Linguagem Algol, entre outros.”

A UFPE também teve preocupação em levar o conhecimento sobre computação para escolas da cidade, através de cursos de iniciação à informática para alunos do científico (hoje chamado de Ensino Médio), sob coordenação do professor Garcia.

No mesmo ano, o governo federal iniciou um projeto para implantar cursos de computação pelo País, com um currículo básico fornecido pela IBM. Assim, a universidade deixou de ter apenas os cursos ligados ao Centro de Computação Eletrônica e passou a montar as primeiras turmas da graduação em Computação, que começaram em 1975.

Na época que os cursos começaram, a informatização ainda engatinhava no Estado, com presença em instituições como Banorte, Empresa Municipal de Informática – EMPREL, Celpe e Chesf. A universidade caminhou junto com o desenvolvimento dessa área, chegando ao Centro que é um orgulho de Pernambuco.

Emannuel Bento é jornalista pela UFPE, com passagens pelo Diario de Pernambuco e Jornal do Commercio

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