O Parque 13 de Maio, desvenciliável da paisagem do Centro do Recife e palco ano após ano de tradicionais festas no Dia das Crianças, já foi um sonho que durou meio século para ficar pronto.
As primeiras conversas para a sua criação datam ainda do Império, em meados de 1860. Nessa época, as terras que hoje formam o parque faziam parte de um acidente geográfico flúvio-marinho de contornos incertos. Especificamente ao sul dessa área, ficava um “passeio público”.
Já em 1860, foi apresentada a primeira planta para a construção do jardim. Em 1875, apareceu um outro projeto de autoria de Emile Beringer, o mesmo paisagista responsável pela reforma da Praça da República (1874). A Câmara do Recife, inclusive, impedia construções naqueles terrenos, pensando num parque futuro.
Em 1888, então, é nomeada uma comissão para dirigir a sua construção, sendo no ano seguinte lançada a primeira pedra, no dia 13 de maio – o que deu nome ao parque. No governo de Barbosa Lima, em 1895, foi lançado um empréstimo de quinhentos contos de réis para as obras do passeio público, sendo contratada para sua execução o engenheiro Pierre Courtadon.
Por pouco, terreno do 13 de Maio não foi loteado
Em 1920, os arquitetos Morales de los Rios e José do Rego Monteiro apresentaram dois projetos para construção do parque. Em 1921, apareceu mais um risco de autoria do arquiteto Giacomo Palumbo.
Ainda em 1920, os terrenos, que pertenciam a União, foram transferidos para a Prefeitura do Recife, ficando a ela responsável pela construção do parque. Mas, no lugar da construção dele, assistiu-se ao loteamento dos terrenos.
Esse polêmico fato motivou a volta do domínio da União dos terrenos concedidos, uma vez que os mesmos se destinavam à criação de um logradouro público e não a construção de casas particulares. O domínio da União, por sua vez, cedeu-os à 7ª Região Militar. Por pouco, talvez hoje tivéssemos uma paisagem totalmente diferente nesta localidade da Boa Vista.
Parque 13 de Maio carrega legado do Estado Novo
Em 1938, o então prefeito Novaes Filho, representante do Estado Novo na capital pernambucana, buscou entrar em entendimento direto com o Ministro da Guerra, o general Eurico Dutra. O político conseguiu fazer voltar a área do futuro parque à Prefeitura. Em compensação, ele cedeu ao Exército um outro terreno na Rua Visconde de Suassuna.
Vale ressaltar que Novaes Filho se projetou como um grande reformador do Recife, sendo responsável pela para abertura da Avenida Guararapes, em Santo Antônio, e por iniciar também as demolições para o início da construção da Avenida Dantas Barreto, no mesmo bairro.
O projeto do Parque 13 de Maio como conhecemos hoje foi de autoria do engenheiro Domingos Ferreira, diretor de obras da Prefeitura do Recife, e do arquiteto Hugo Marques. Ainda colaboraram os engenheiros Tolentino de Carvalho, Bandeira de Mello, Edgard Amorim e Barreto Coutinho.
Ainda em 1938, a pressa para o início de sua construção teve uma motivação religiosa: o III Congresso Eucarístico Nacional, que seria realizado na capital. A ideia era que o novo parque recebesse o evento, servindo de espelho para o progresso da cidade aos visitantes.
O parque nos tempos da inauguração
O parque acabou tendo 113.800 metros quadrados, com capacidade para receber 250 mil pessoas, com iluminação abundante e proporcionada. Eram 70 postes com lâmpada de 300 watts, 10 candelabros com lâmpada de 300 watts, seis colunas com lâmpada de 200 watts e seis figuras com lâmpada de 200 watts.
O ajardinamento fez um aproveitamento inteligente de plantas de árvores da região, jardins amazônicos, aquários, orquidário, viveiros de aves, pérgola, bar, tudo disposto de maneira a deixar uma ótima impressão.
O largo artificial e as fontes luminosas com 69 jatos cada uma, com 16 efeitos luminosos produzidos por 12 refletores de 500 watts em cada fonte, apresentavam um bonito efeito.
“Há quase um século constitui este jardim uma das mais vivas aspirações do Recife. Vários projetos foram organizados e várias tentativas de execução fracassaram”, disse Novaes Filho, em discurso na inauguração.
“Contei com a decisiva colaboração do interventor federal e dos generais Cristovão Barcelos, então comandante desta região, e Manoel Rabello, que dirigia, naquela época, o Serviço de Engenharia do Exército. O eminente general Eurico Dutra, ministro da Guerra, logo se inteirou do assunto, aquiesceu em permutar os terrenos para a Prefeitura por outro que permitisse as edificações necessárias aos serviços da 7ª Região”, continuou Novaes Filho.
“O 13 de Maio é, pois, uma obra eminentemente pernambucana, demonstrando que dispomos de técnicos capazes, não sendo precisa a importação de elementos estranhos. E foi dentro desta convicção que rescindi os contratos realizados pela Prefeitura para a construção de jardins e projetos do plano da cidade”, finalizou.
Um sítio de preservação histórica
Na década de 1940, lá foi construído o restaurante Torre de Londres, que tinha o formato de uma torre, desativado posteriormente. Na década de 1950, parte do terreno foi cedido para a construção da Biblioteca Pública de Pernambuco, como ainda de quatro escolas públicas.
Nos anos 1970, novas melhorias: um mini zoológico e duas esculturas de Abelardo da Hora. Na década seguinte, por problemas com a segurança, surgem as grades que atualmente rodeiam o parque. Atualmente, o parque abriga também uma pista de corrida, uma área infantil com brinquedos, uma unidade do programa Academia da Cidade.
Por legislação municipal de 1979, o Parque 13 de Maio foi declarado um sítio de preservação histórica do Recife. É a maior área verde da Região central do Recife, com 6,9 Hectares.
Emannuel Bento é jornalista pela UFPE, com passagens pelo Diario de Pernambuco e Jornal do Commercio
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