Um passeio pelo Bairro do Recife é também uma viagem pelas diferentes fases da história urbana da capital pernambucana: do período colonial português às intervenções holandesas, passando por reformas inspiradas na arquitetura francesa.

Com o passar dos séculos, o bairro foi sendo moldado por sucessivos aterros, que transformaram a antiga lingueta de terra em ilha.

Entre 1909 e 1926, viveu um período de grandes mudanças, quando dois terços de suas construções foram demolidas para dar lugar a um novo traçado urbano. Mesmo assim, ainda permanecem de pé importantes marcos históricos que ajudam a contar essa trajetória.

Aproveitando a Semana do Patrimônio, que chega à 18ª edição em Pernambuco, reunimos seis lugares que guardam a memória do Bairro do Recife. Eles estão listados em ordem cronológica crescente, do mais recente ao mais antigo.

Estação Ferroviária do Brum (1881)

Fachada principal da estação (Crédito: Maria Emília Freire/Iphan)

Primeiro patrimônio ferroviário de Pernambuco a ser tombado pelo Iphan, a Estação do Brum foi a ponta de linha da segunda estrada de ferro do Estado, a Estrada de Ferro do Recife ao Limoeiro, conectando o Recife à vila de Paudalho, na Zona da Mata.

O prédio se destaca pelo desenho neoclássico e pelos detalhes construtivos em ferro, características pouco comuns na época. Desativada nos anos 1960, a estação sobreviveu graças à sua localização dentro dos limites da antiga Fábrica de Biscoitos Pilar.

Em 1997, passou por reformas significativas e foi transformada no Memorial da Justiça. Hoje, o espaço está aberto ao público de segunda a sexta, das 13h às 17h, tanto para visitação quanto para pesquisas.

Teatro Apolo (1846)

Teatro Apolo é o mais antigo do Recife (Crédito: Sol Pulquério/PCR)

Primeiro espaço dedicado às artes cênicas do Recife, o Teatro Apolo deu nome à Rua do Apolo (antiga Rua Visconde de Itaparica) e ao Cais do Apolo, endereço onde hoje funciona o Núcleo de Gestão do Porto Digital.

A construção foi iniciativa da Sociedade Harmônica Teatral, formada por comerciantes e intelectuais da época – entre eles Antonino José de Miranda Falcão, fundador do Diario de Pernambuco. Apesar de pequeno, o Apolo impressionava pela sofisticação: tinha fachada de mármore importado de Lisboa e ornamentação simbólica no alto.

Sobreviveu às reformas urbanas, foi restaurado nos anos 1980 e, na década de 1990, transformado em cine-teatro. Hoje, ao lado do Teatro Hermilo Borba Filho, integra o Centro de Formação e Pesquisa das Artes Cênicas Apolo-Hermilo.

Torre Malakoff (1853)

Torre Malakoff na atualidade (Crédito: Morgana Narjara/Secult PE Fundarpe)

Construída junto ao antigo Arsenal da Marinha, a torre ganhou o apelido de “Malakoff” durante a Guerra da Crimeia, conflito internacional acompanhado de perto pelo “Diario de Pernambuco”. A referência surgiu em alusão à torre de mesmo nome, símbolo de resistência no conflito – a Rússia só perdeu quando a Torre de Malakoff caiu.

A partir de 1855, o prédio abrigou a Capitania dos Portos. Já em 1929, quase foi demolido para o alargamento da Rua São Jorge, mas resistiu graças à mobilização de intelectuais e defensores do patrimônio. Hoje, funciona como espaço cultural, com programação voltada sobretudo para música e fotografia.

Igreja da Madre de Deus (1720)

Igreja Madre de Deus, no Bairro do Recife (Crédito: Daniel Tavares/PCR)

Erguida a partir de 1701, foi destinada aos padres oratorianos, que sonhavam em fundar um convento no Recife. Tem nave única e ampla, com corredores laterais e seis capelas. Ao seu lado foi construído um convento que mais tarde se tornaria o Paço Alfândega.

Separada do antigo convento no século 19, para a construção da Alfândega de Pernambuco, a Madre de Deus foi tombada pelo Iphan em 1939.

Um incêndio, nos anos 1970, destruiu parte da capela-mor, mas a igreja permanece como um dos templos mais relevantes do Recife. Por conta da presença do Porto Digital na ilha, foi escolhida para guardar uma relíquia de Carlo Acutis, jovem beato conhecido como “padroeiro da internet”.

Igreja de Nossa Senhora do Pilar (1680)

Igreja do Pilar (Crédito e Ano Desconhecidos)

Construída sobre as ruínas do Forte de São Jorge, a Igreja do Pilar carrega séculos de devoção e história. Tombada pelo Iphan em 1965, passou por restauração em 2010.

De acordo com registros, João do Rego Barros, provedor da Fazenda Real, teria feito uma promessa à Nossa Senhora do Pilar, e cumpriu ao erguer a igreja em sua homenagem.

O local também guarda memórias do período holandês, já que o antigo forte foi utilizado durante a ocupação em Pernambuco.

Forte de São João Batista do Brum (c. 1630)

Vista aérea do Forte do Brum, no Recife (Crédito: Desconhecido)

Iniciado pelos portugueses e concluído pelos holandeses, o forte recebeu originalmente o nome de Johan Bruyns, aportuguesado depois para “Brum”.

Com a rendição dos holandeses, voltou ao domínio português e foi reformado em 1669 para garantir a defesa do porto e da povoação que crescia no Recife.

Restaurado, o espaço abriga hoje o Museu Militar, aberto ao público de terça a sexta, das 9h às 14h, e aos fins de semana, das 9h às 17h.

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