“Uma entidade aberta para empresas de tecnologia, com finalidade de desenvolver técnicas, promover diálogos com instituições de ensino para preparar a mão de obra e fortalecer um polo de informática no Nordeste”.

A descrição acima poderia bem ser utilizada para o Porto Digital na atualidade, mas ela se refere a uma iniciativa dos anos 1970. Ainda não fazia uma década da chegada dos primeiros computadores a Pernambuco, enquanto a Universidade Federal de Pernambuco formaria a sua primeira turma de computação em 1978.

Tratava-se da Sociedade dos Usuários de Computadores e Equipamentos Subsidiários de Pernambuco (Sucesu-PE), que pode ser considerada a primeira articulação de empresas para o desenvolvimento da tecnologia no Estado, marcando o início de uma luta por um polo local de informática.

Sucesu-PE
Diretoria da SUCESU PE eleita em 1976 – Presidente Adson Carvalho, da Datax, Diretor Financeiro Frederico Frazão, da Administração do Porto, diretor secretário, Israel Charifker, do Cetepe, diretor de Comisssões, Ronaldo Carneiro Leão, da Cia. Industrial Pernambucana e Diretor de Relações Públicas, Antônio Augusto Pinto, do Bompreço

A Sucesu-PE foi fundada em 9 de outubro de 1970, cinco anos depois da matriz nacional, sendo uma sociedade civil sem fins lucrativos aberta para todas as firmas que utilizavam computadores eletrônicos ou prestavam serviços equivalentes. Entre os mais importantes associados estava a Sudene, o Banco Nacional do Norte (Banorte) e o Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro).

Essa foi a primeira filial do Nordeste. Na época, as demais filiais ficavam no Rio de Janeiro, em São Paulo, em Porto Alegre, em Curitiba e em Belo Horizonte.

Formação

Em seus primeiros anos, a Sucesu-PE concentrou-se em atividades de formação. No ano de 1971, com a Escola Técnica Federal de Pernambuco, iniciou cursos de operação e manutenção de computadores. Já em 1973, incluiu o processamento de dados no evento Jornada da Educação, realizado pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap).

Sucesu-PE
Anúncio de seminários promovidos pela Sucesu-PE nos anos 1970 – Crédito: Hemeroteca da Biblioteca Nacional

No ano de 1974, a Sucesu conseguiu articular a vinda do técnico francês Robert Paya, do Ministério de Comunicações da França, para uma palestra de “informática nas empresas” realizada em um auditório da Sudene.

“O computador está deixando de representar um status para a empresa ou um mero substituto de mão de obra, para assumir um papel de real importância como uma ferramenta de suporte aos temas gerenciais”, disse à imprensa o então presidente da sociedade, Britto Passos.

Naquele mesmo ano, o presidente da Federação Nacional da Sucesu visitou o Recife e ressaltou que a atuação da filial pernambucana já agrupava associados desde a Bahia até o Maranhão, contribuindo para um maior aperfeiçoamento do setor com seus seminários.

Congresso Sucesu
Anúncio do I Congresso Regional de Microcomputadores, em 1979 – Crédito: Hemeroteca da Biblioteca Nacional

Em 1979, a Sucesu-PE deu um grande passo ao realizar, na Unicap, o I Congresso Regional de Minicomputadores, o primeiro realizado fora do eixo Rio-São Paulo e pioneiro nesse tipo de abordagem, com exposições de palestras.

Esse congresso acabou por ocasionar um importante acontecimento: foi nele que o então governador Marco Maciel (1940-2021) externou a sua intenção em criar um polo de informática. A partir daí, a Sucesu transformou essa ideia na sua principal bandeira de luta, utilizando de todas as oportunidades disponíveis.

Polo de informática

A ideia parecia factível porque Pernambuco, como argumentava a Sucesu, abrigava um número considerável de centros de processamento de dados, de birôs de serviços (com atuação, inclusive, em estados vizinhos), centros universitários de pesquisas e formação de mão-de-obra especializada na computação e na engenharia eletrônica, além de iniciativas industriais.

Sucesu-PE
Notícia no Diario de Pernambuco divulga ideia de polo de informática, em 1979 – Crédito: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

De início, a ideia causou um certo ceticismo. O secretário Especial de Informática do Governo Federal, Octávio Gennari Neto, chegou a dizer que seria “muito difícil”. Tinha-se uma ideia de que a região teria condições para uma indústria de equipamentos periféricos e de software, mas não de bens duráveis, que exigiam concentração de infraestrutura e de mão-de-obra.

Apesar desse argumento, os interessados no polo levaram a ideia adiante. Um dos defensores era   secretário de Administração de Pernambuco, Paulo Agostinho Raposo, que chegou a explicar que 50% das empresas da área eram tipicamente regionais, apresentando condições.

O governador Marco Maciel chegou a criar um grupo de trabalho em 21 de abril de 1981, com a meta de intensificar a sua construção, além de integrar as atividades das diversas entidades públicas e privadas da área.

Marco Maciel
Comitiva acompanha o então governador do Estado Marco Maciel (1940-2021)

O então presidente da Sucesu-PE, Adson Carvalho, passou a divulgar a ideia do polo em todos os congressos de tecnologia que marcou presença. Em entrevista ao “Diario de Pernambuco” em 3 de novembro de 1981, ele destacou que boa parte do empresariado das regiões Sul e Sudeste era favorável a um processo de descentralização industrial do setor, motivo pelo qual a iniciativa era bem vista.

Logo, a sociedade expandiu a sua atuação para diversos Estados do Nordeste, como Paraíba e Rio Grande do Nordeste, prestando uma maior assistência às empresas de toda a região. 

Computadores

Essa propaganda até rendeu resultados, quando o Estado passou a fabricar computadores em uma operação industrial a partir da soma de esforços do Banorte com a Digere, empresa que tinha grande atuação no Sudeste, além de chamar atenção da Scorpus Tecnologia, então maior fabricante de terminais de vídeo.

Também foi a Sucesu-PE que começou a ventilar que o Nordeste deveria produzir um computador próprio, apontando os riscos da dependência dos produtos fabricados no exterior ou no Sudeste. Isso viria a se consolidar com a criação do Corisco, em 1986.

Sucesu-PE
Reunião da diretoria da Sucesu PE, onde se vê o presidente Adson Carvalho e os diretores Artur Dias e Frederico Frazão, além dos assessores Gerald Magela e Almy Alves

A entidade, inclusive, foi defensora da reserva de mercado implantada pela Política Nacional da Informática, desde que fossem “atendidos os interesses do usuário, do consumidor, da informática e por consequência do próprio País”.

Anos 1990

Apesar dos esforços de Marco Maciel e da continuidade do diálogo com os demais governadores, a ideia do polo de tecnologia sairia do papel apenas no final dos anos 1990, durante o governo de Jarbas Vasconcelos, com a criação do Porto Digital, que hoje é um dos maiores parques tecnológicos do Brasil.

A diretoria da Sucesu continuou atuante naquela década, quando articulou a vinda para o Recife do maior evento de informática do Norte/Nordeste, a Infonordeste. A feira e congresso teve início no pavilhão do Centro de Convenções de Pernambuco e chegou a receber mais de quatro mil pessoas em seus quatro dias.

Também nos anos 1990, realizou em Pernambuco o 25º Congresso Nacional e a 12ª Feira Internacional de Informática. Foi a primeira vez que o evento aconteceu fora do eixo Rio-São Paulo.

Atualmente, a Sucesu-PE tem como presidente Cláudio Alcoforado. Amaury Tavares, Hygino Campos, Iderval Araújo, Mônica Bandeira e Rainier Michael são os vice-presidentes. Eles levam adiante o legado de uma instituição que tanto contribuiu para que o sonho da inovação no Nordeste fosse realidade.

Emannuel Bento é jornalista pela UFPE, com passagens pelo Diario de Pernambuco e Jornal do Commercio

Comments are closed, but trackbacks and pingbacks are open.